Cap. XIII — Item 3.
1 “Não saiba vossa mão esquerda o que oferece a direita;” ( † ) é a lição de Jesus que constantemente nos sugere a sementeira do bem oculto.
2 Entretanto, é preciso lembrar que se “nem só de pão vive o homem”, ( † ) não se alimenta a virtude tão somente de recursos materiais.
3 Acima do benefício que se esconde para ser mais seguro no campo físico, de modo a que se não firam corpos doentes e bocas famintas pelos acúleos da ostentação, prevalece o amparo mudo às necessidades do sentimento, na esfera do espírito, a fim de que os tóxicos da maldade e os desastres do escândalo não arrasem experiências preciosas com o fogo da imprevidência.
4 Se percebeste no companheiro as escamas do orgulho ou da rebeldia, envolve-o no clima da humildade, socorrendo-lhe a sede imanifesta de auxílio, e se presenciaste a queda de alguém, no caminho em que jornadeias, alonga-lhe os braços de irmão, para que se levante, sem exagerar-lhe os desajustes com a referência insensata.
5 Se um amigo aparece errado aos teus olhos, cala o verbo contundente da crítica, ajudando-o com a bênção da prece, e se o próximo surge desorientado e infeliz, em teus passos, oferta-lhe o favor do silêncio, para que se reequilibre e restaure.
6 Não vale encarecer cicatrizes e imperfeições, a pretexto de apagá-las no corpo das horas, porquanto leve chaga, tratada com desamor, é sempre ferida a cronicificar-se no tempo.
7 Distribui, desse modo, a beneficência do agasalho e do pão, evitando humilhar quem te recolhe os gestos de providência e carinho; contudo, não olvides estender a caridade do pensamento e da língua, para que o bálsamo do perdão anule o veneno do ódio e para que a força do esquecimento extinga as sombras de todo mal.
Emmanuel