1 Nas linhas inferiores da Terra, os seres de caráter rudimentar, pelo primitivismo das manifestações que os singularizam, correspondem-se facilmente uns com os outros.
2 Os bovinos de uma pastagem síria berram de modo análogo aos brutos da mesma espécie numa estância chilena, e o gemido de um cão em Londres, é idêntico, em tudo, ao choro esganiçado de um cão em Tóquio.
3 Do fonema, porém, à linguagem articulada, vigem milhares de séculos, marcando a peregrinação da inteligência.
4 Se o animal, diante do homem, está limitado ao cubículo da interjeição, o homem, perante o anjo, ainda está preso ao cárcere verbalístico.
5 Por essa razão, entre as criaturas encarnadas e entre as criaturas desencarnadas, apesar da reflexão mental inconteste, a linguagem é veículo ao plasma criador do pensamento, estendendo-o ou enquistando-o, conforme o raio de ação em que se demarca.
6 As conquistas de um povo estão, desse modo, encerradas com ele, em seu mundo idiomático, retardando-se, indefinidamente, a permuta providencial que faria das nações mais cultas mentoras diretas das que respiram na retaguarda.
7 À face disso, o Oriente e o Ocidente sempre nutriram entre si profundas antinomias e raças diversas se digladiam, desde longevas civilizações, restritas à faixa das ideias que lhes são próprias, cristalizadas na hegemonia política ou religiosa, mantendo guerras periódicas de perseguições e extermínio, em que largas possibilidades de tempo são sacrificadas ao deserto do afastamento, no qual a ignorância se converte em perigoso verdugo, embora os princípios redentores, formulados pelos pioneiros da evolução, convocando as pátrias terrestres ao aprimoramento e à fraternidade, repousem nas bibliotecas preciosas e bolorentas, à feição de mortos ilustres.
Francisco Valdomiro Lorenz