“Recorde sempre: o anônimo da rua é nosso irmão.”
1 Lá se vai arrastando Nhô Manduco.
Um homem passa, rente, e a língua engrola:
— “Foge daqui, cachorro manquitola!”
Outro grita de longe: — “Sai caduco!”
2 É noite… A água da chuva é fino suco.
O barro é o cobertor a que se enrola.
Sente o mendigo o estalo da cachola
E morre feito sapo no tijuco.
3 Acorda Nhô Manduco libertado.
Contempla o próprio corpo, frio, ao lado…
Ergue-se tonto… Nada sabe ao certo…
4 Teme e treme… Mas nisso vê na altura,
A rebrilhar no horror da noite escura,
Um caminho de sol no céu aberto.
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