O Livro dos Espíritos — Questão 886. n
1 Frequente encontramos companheiros de excelente formação moral convictos de que atender à caridade será aceitar tudo e que a paciência deve tudo aguentar.
2 A evolução, no entanto, para crescer, exige muito mais a supressão que a conservação.
3 Em nenhum setor da existência o progresso e a cultura se compadecem com o “estar com tudo”.
4 A caridade da vida é aperfeiçoamento.
5 A paciência da natureza é seleção.
6 Todas as disciplinas que acrisolam a alma cortam impulsos, hábitos, preferências e atitudes impróprias à dignidade espiritual.
7 Todos os seres existentes na Terra se aprimoram à medida que o tempo lhes subtrai as imperfeições.
8 Na experiência cotidiana, os exemplos são ainda mais flagrantes.
9 Compra-se de tudo para a alimentação no instituto familiar, mas não se aproveita indiscriminadamente o que se adquire.
10 O corpo, a serviço do Espírito encarnado, às vezes se nutre com tudo, mas nunca retém tudo. Expulsa mecanicamente o que não serve.
11 No plano da alma, a lógica não é diferente. Podemos ver, ouvir e aprender tudo, mas se é aconselhável destacar a boa parte de cada cousa, não é compreensível concordar com tudo.
12 Necessário ver, ouvir e aprender com discernimento. Imprescindível observar um companheiro mentalmente desequilibrado com caridade e paciência, mas em nome da caridade e da paciência não se lhe deve assimilar a loucura.
13 Devemos tratar com benevolência e brandura quantos não pensem por nossa cabeça, entretanto, a pretexto de lhes ser agradáveis não se lhes abraçará os preconceitos, enganos, inexatidões ou impropriedades.
14 A Doutrina Espírita está alicerçada na lógica e para sermos espíritas é impossível fugir dela.
15 Há que auxiliar a todos, como nos seja possível auxiliar, mas tudo analisando para que o critério nos favoreça…
16 Paulo de Tarso, escrevendo aos coríntios, afirmou que “a caridade tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, ( † ) mas não se esqueceu de recomendar aos tessalonicenses que examinassem tudo, retendo o bem. ( † ) 17 Admitamos assim, com o máximo respeito ao texto evangélico que o apóstolo da gentilidade ter-se-ia feito subentender naturalmente, explicando que a caridade tudo sofre de maneira a ser útil, tudo crê para discernir, tudo espera de modo a realizar o melhor e tudo suporta a fim de aprender, mas não para estar em tudo e tudo aprovar.
André Luiz