372. — Como deveremos entender
a sessão espírita?
— A sessão espírita deveria ser, em toda parte, uma cópia fiel do cenáculo fraterno, simples e humilde do Tiberíades, onde o Evangelho do Senhor fosse refletido em espírito e verdade, sem qualquer convenção do mundo, de modo que, entrelaçados todos os pensamentos na mesma finalidade amorosa e sincera, pudesse a assembleia constituir aquela reunião de dois ou mais corações, em nome do Cristo, ( † ) onde o esforço dos discípulos será sempre santificado pela presença do seu amor.
373. — Como deve ser conduzida
uma sessão espírita, de sua abertura ao encerramento?
— Nesse sentido, há que considerar a excelência da codificação kardequiana; contudo, será sempre útil a lembrança de que as reuniões da doutrina devem observar o máximo de simplicidade, como as assembleias humildes e sinceras do Cristianismo primitivo, abstendo-se de qualquer expressão que apele mais para os sentidos materiais que para a alma profunda, a grande esquecida de todos os tempos da Humanidade.
374. — Nas sessões, os dirigentes
e os médiuns têm uma tarefa definida e diferente entre si?
— Nas reuniões doutrinárias, o papel do orientador e o do instrumento mediúnico devem estar sempre identificado na mesma expressão de fraternidade e de amor, acima de tudo; mas, existem características a assinalar, para que os serviços espirituais produzam os mais elevados efeitos, salientando-se que o dirigente das sessões deve ser o raciocínio e a lógica, enquanto o médium deve representar a fonte de água pura do sentimento. É por isso que, nas reuniões onde os orientadores não cogitam da lógica e onde os médiuns não possuem fé e desprendimento, a boa tarefa é impossível, porque a confusão natural estabelecerá a esterilidade no campo dos corações.
375. — Os agrupamentos espiritistas
podem ser organizados sem a contribuição dos médiuns?
— Nas reuniões da doutrina, os médiuns são úteis, mas não indispensáveis, porque somos obrigados a ponderar que todos os homens são médiuns, ainda mesmo sem tarefas definidas, nesse particular, podendo cada qual sentir e interpretar, no plano intuitivo, a palavra amorosa e sábia de seus guias espirituais, no imo da consciência.
376. — Será aconselhável a determinação
de dias da semana para a realização normal das sessões espíritas?
— Qualquer dia e hora podem ser consagrados ao bom trabalho da fraternidade e do bem, sempre que necessário; mas, em se tratando de reuniões dedicadas ao esforço doutrinário, faz-se imprescindível a metodização de todos os trabalhos em dias e horas prefixados.
377. — Há estudiosos da doutrina
que se afastam das reuniões, quando as mesmas não apresentam fenômenos.
Como se deve proceder para com eles?
— Os que assim procedem testemunham, por si mesmos, plena inabilitação para o verdadeiro trabalho do Espiritismo sincero. Se preferem as emoções transitórias dos nervos ao serviço da autoiluminação, é melhor que se afastem temporariamente dos estudos sérios da doutrina, antes de assumirem qualquer compromisso.
A compreensão do Espiritismo ainda não está bastante desenvolvida em seu mundo interior, e é justo que prossigam em experiências para alcançá-la.
O êxito dos esforços do Plano espiritual, em favor do Cristianismo redivivo, não depende da quantidade de homens que o busquem, mas da qualidade dos trabalhadores que militam nas suas fileiras.
378. — Por que motivo a doutrinação
e a evangelização nas reuniões espiritistas beneficiam igualmente aos desencarnados,
se a estes seria mais justo o aproveitamento das lições recebidas no
Plano espiritual?
— Grande número de almas desencarnadas nas ilusões da vida física, guardadas quase que integralmente no íntimo, conservam-se, por algum tempo, incapazes de apreender as vibrações do Plano espiritual, sendo conduzidas pelos seus guias e amigos redimidos às reuniões fraternas do Espiritismo evangélico, onde, sob as vistas amoráveis desses mesmos mentores do Plano invisível, se processam os dispositivos da lei de cooperação e benefícios mútuos, que rege os fenômenos da vida nos dois Planos. n
379. — Como deverá agir o estudioso
para identificar as entidades que se comunicam?
— Os Espíritos que se revelam, através das organizações mediúnicas, devem ser identificados por suas ideias e pela essência espiritual de suas palavras.
Determinados médiuns, com tarefa especializada, podem ser auxiliares preciosos à identificação pessoal, seja no fenômeno literário, nas equações da ciência, ou satisfazendo a certos requisitos da investigação; todavia essa não é a regra geral, salientando-se que as entidades espirituais, muitas vezes, não encontram senão um material deficiente que as obriga tão só ao indispensável, no que se refere à comunicação.
Devemos entender, contudo, que a linguagem do Espírito é universal, pelos fios invisíveis do pensamento, o que, aliás, não invalida a necessidade de um estudo atento, acerca de todas as ideias lançadas nas mensagens medianímicas, guardando-se muito cuidado no capítulo dos nomes ilustres que, porventura, as subscrevam.
Nas manifestações de toda natureza, porém, o crente ou o estudioso do problema da identificação, não pode dispensar aquele sentido espiritual de observação que lhe falará sempre no imo da consciência.
380. — É justo que o espiritista,
depois de sofrer a separação de um ente amado, pela morte, provoque sua
comunicação nas sessões medianímicas?
— O espiritista sincero deve buscar o conforto moral, em tais casos, na própria fé que lhe deve edificar intimamente o coração.
Não é justo provocar ou forçar a comunicação com esse ou aquele desencarnado. Além de não conhecerdes as possibilidades de sua nova condição na Esfera espiritual, deveis atender ao problema dos vossos méritos.
O homem pode desejar isso ou aquilo, mas há uma Providência que dispõe no assunto, examinando o mérito de quem pede e a utilidade da concessão.
Qualquer comunicado com o Invisível deve ser espontâneo, e o espiritista cristão deve encontrar na sua fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo humano, ponderando quanto à necessidade de repouso daqueles a quem amou, e esperando a sua palavra direta, quando e como julguem os mentores espirituais conveniente e oportuno.
381. — Muita gente procura o
Espiritismo, queixando-se de perseguições do Invisível. Os que reclamam
contra essas perturbações estão, de algum modo, abandonados de seus
guias espirituais?
— A proteção da Providência Divina estende-se a todas as criaturas.
A perseguição de entidades sofredoras e perturbadas justifica-se no quadro das provações redentoras, mas, os que reclamam contra o assédio das forças inferiores dos Planos adstritos ao orbe terrestre, devem consultar o próprio coração antes de formularem as suas queixas, de modo a observar se o Espírito perturbador não está neles mesmos.
Há obsessores terríveis do homem, denominados “orgulho”, “vaidade”, “preguiça”, “avareza”, “ignorância” ou “má-vontade”, e convém examinar se não se é vítima dessas energias perversoras que, muitas vezes, habitam o coração da criatura, enceguecendo-a para a compreensão da luz de Deus. Contra esses elementos destruidores faz-se preciso um novo gênero de preces, que se constitui de trabalho, fé, esforço e boa vontade.
Emmanuel
[1] [Vide: Nota de Emmanuel sobre essa questão.]