282. — Se devemos considerar
a Bíblia, como a pedra angular da Revelação Divina, qual a
posição do Evangelho de Jesus na educação religiosa dos homens?
— A Bíblia é o alicerce da Revelação Divina. O Evangelho é o edifício da redenção das almas. Como tal, devia ser procurada a lição de Jesus, não mais para qualquer exposição teórica, mas visando cada discípulo o aperfeiçoamento de si mesmo, desdobrando as edificações do Divino Mestre no terreno definitivo do Espírito.
283. — Com referência a Jesus,
como interpretar o sentido das palavras de João: ( † )
— “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça, e verdade”?
— Antes de tudo, precisamos compreender que Jesus não foi um filósofo e nem poderá ser classificado entre os valores propriamente humanos, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades terrícolas.
Enviado de Deus, Ele foi a representação do Pai junto do rebanho de filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria, e cuja tutela lhe foi confiada nas ordenações sagradas da vida no Infinito.
Diretor angélico do orbe, seu coração não desdenhou a permanência direta entre os tutelados míseros e ignorantes, dando ensejo às palavras do apóstolo, acima referidas.
284. — O apóstolo João recebeu
missão diferente, na organização do Evangelho, considerando-se a diversidade
de suas exposições em confronto com as narrações de seus companheiros?
— Ainda aí, temos de considerar a especialização das tarefas, no capítulo das obrigações conferidas a cada um. As peças nas narrações evangélicas identificam-se naturalmente, entre si, como as partes indispensáveis de um todo, mas somos compelidos a observar que, se Mateus, Marcos e Lucas receberam a tarefa de apresentar, nos textos sagrados, o Pastor de Israel na sua feição sublime, a João coube a tarefa de revelar o Cristo Divino, na sua sagrada missão universalista.
285. — “Jesus Cristo é sem pai,
sem mãe, sem genealogia.”
— Como interpretar essa afirmativa, em face da palavra de Mateus? n
— Faz-se necessário entendermos a missão universalista do Evangelho de Jesus, através da palavra de João, ( † ) para compreender tal afirmativa no tocante à genealogia do Mestre Divino, cujas sagradas raízes repousam no infinito do amor e de sabedoria em Deus.
286. — O sacrifício de Jesus
deve ser apreciado tão somente pela dolorosa expressão do Calvário?
— O Calvário representou o coroamento da obra do Senhor, mas o sacrifício na sua exemplificação se verificou em todos os dias da sua passagem pelo planeta. E o cristão deve buscar, antes de tudo, o modelo nos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com amor e humildade o segredo da felicidade espiritual, sendo imprescindível que todos os discípulos edifiquem no íntimo essas virtudes, com as quais saberão remontar ao calvário de suas dores, no momento oportuno.
287. — Numerosos discípulos
do Evangelho consideram que o sacrifício do Gólgota não teria sido completo
sem o máximo de dor material para o Mestre Divino. Como conceituar essa
suposição em face da intensidade do sofrimento moral que a cruz lhe
terá oferecido?
— A dor material é um fenômeno como o dos fogos de artifício, em face dos legítimos valores espirituais.
Homens do mundo, que morreram por uma ideia, muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal.
Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e chegareis a contemplá-Lo a imensidão da sua dor espiritual, augusta e indefinível para a nossa apreciação restrita e singela.
De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus, estabelecendo dados comparativos entre o anjo e o homem.
Em sua exemplificação divina, faz-se mister considerar, antes de tudo o seu amor, a sua humildade, a sua renúncia pela humanidade inteira.
Examinados esses fatores, a dor material teria significação especial para que a obra cristã ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não constituiu o ponto essencial da sua perfeita renúncia pelos homens?
Nesse particular, contudo, as criaturas humanas prosseguirão discutindo, como as crianças que somente admitem as realidades da vida de um adulto, quando se lhes fornece o conhecimento tomando para imagens o cabedal imediato dos seus brinquedos.
288. — “Meu Pai e eu somos Um.” ( † )
— Poderemos receber mais algum esclarecimento sobre essa afirmativa
do Cristo?
— A afirmativa evidenciava a sua perfeita identidade com Deus, na direção de todos os processos atinentes à marcha evolutiva do planeta terrestre.
289. — São muitos os Espíritos
em evolução na Terra, ou nas Esferas mais próximas, que já viram o Cristo,
experimentando a glória da sua presença divina?
— Toda a comunidade dos Espíritos encarnados na Terra, ou localizados em suas Esferas de labor espiritual mais ligadas ao planeta, sentem a sagrada influência do Cristo, através da assistência de seus prepostos; todavia, muito poucos alcançaram a pureza indispensável para a contemplação do Mestre no seu Plano divino.
290. — Poder-se-á reconhecer
nas parábolas de Jesus a expressão fenomênica das palavras, guardando
a eterna vibração de seu sentimento nos ensinos?
— Sim. As parábolas do Evangelho são como as sementes divinas que desabrochariam, mais tarde, em árvores de misericórdia e de sabedoria para a Humanidade.
291. — Como interpretar o anticristo?
— Podemos simbolizar como anticristo o conjunto das forças que operam contra o Evangelho, na Terra e nas Esferas vizinhas do homem, mas, não devemos figurar nesse anticristo um poder absoluto e definitivo que pudesse neutralizar a ação de Jesus, porquanto, com tal suposição, negaríamos a previdência e a bondade infinitas de Deus.
Emmanuel
[1] [A passagem citada, não se encontra no Evangelho de São Mateus, mas na Epístola de São Paulo aos Hebreus no capítulo 7, versículo 3. No versículo 20 do capítulo 6, Paulo diz que Jesus foi constituído pontífice eterno, segundo a ordem de Melchisedech.]