O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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O Consolador — Emmanuel — 2ª Parte.


I
VIDA

Aprendizado

(Sumário)

116. O homem físico está sempre ligado ao seu pretérito espiritual?

— Como a maioria das criaturas humanas se encontra em lutas expiatórias, podemos figurar o homem terrestre como alguém a lutar para desfazer-se do seu próprio cadáver, que é o passado culposo, de modo a ascender para a vida e para a luz que residem em Deus.

Essa imagem temo-la na semente do mundo que, para desenvolver o embrião, cheio de vitalidade e beleza, necessita do temporário estacionamento no seio lodoso da Terra, a fim de se desfazer do seu envoltório, crescendo, em seguida, para a luz do Sol e cumprindo sua missão sagrada, enfeitada de flores e frutos.


117. A inteligência, julgada pelo padrão humano, será a súmula de várias experiências do Espírito sobre a Terra?

— Os valores intelectivos representam a soma de muitas experiências, em várias vidas do Espírito, no Plano material. Uma inteligência profunda significa um imenso acervo de lutas planetárias. Atingida essa posição, se o homem guarda consigo a expressão idêntica de progresso espiritual, pelo sentimento, então estará apto a elevar-se à novas Esferas do Infinito, para a conquista de sua perfeição.


118. Como se registram as experiências do Espírito em uma encarnação, para servirem de patrimônio evolutivo nas encarnações subsequentes?

— É no próprio patrimônio íntimo que a alma regista as suas experiências, no aprendizado das lutas da vida, acerca das quais guardará sempre uma lembrança inata nos trabalhos purificadores do porvir.


119. Como devemos proceder para dilatar nossa capacidade espiritual?

— Ainda não encontramos uma fórmula mais elevada e mais bela que a do esforço próprio, dentro da humildade e do amor, no ambiente de trabalho e de lições da Terra, onde Jesus houve por bem instalar a nossa oficina de perfectibilidade para a futura elevação dos nossos destinos de Espíritos imortais.


120. Pode existir inteligência sem desenvolvimento espiritual?

— Diremos melhor; inteligência humana sem desenvolvimento sentimental, porque nesse desequilíbrio do sentimento e da razão é que repousa atualmente a dolorosa realidade do mundo. O grande erro das criaturas humanas foi entronizar apenas a inteligência, olvidando os valores legítimos do coração nos caminhos da vida.


121.O meio ambiente influi no espírito?

— O meio ambiente em que a alma renasceu muitas vezes constitui a prova expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade, faz-se indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que vivem na sua zona de influenciação.


122.Que se deve fazer para o desenvolvimento da intuição?

— O campo do estudo perseverante, com o esforço sincero e a meditação sadia, é o grande veículo de amplitude da intuição, em todos os seus aspectos.


123.Deve o crente criar imposições absolutas para si mesmo, no sentido de alcançar mais depressa a perfeição espiritual?

— O crente deve esforçar-se o mais possível, mas, de modo algum, deve nutrir a pretensão de atingir a superioridade espiritual completa, de uma só vez, porquanto a vida humana é um aprendizado de lutas purificadoras e, no cadinho do resgate, nem sempre a temperatura pode ser amena, alcançando, por vezes, a mais alta tensão para o desiderato do acrisolamento.

Em todas as circunstâncias, guarde o cristão a prece e a vigilância: prece ativa, que é o trabalho do bem, e vigilância, que é a prudência necessária, de modo a não trair novos compromissos. E, nesse esforço, a alma estará preparada a estruturar o futuro de si mesma, no caminho eterno do espaço e do tempo, sem o desalento dos tristes e sem a inquietação dos mais afoitos.


124.Qual a importância da palavra humana para as conquistas evolutivas do Espírito?

— A palavra é um dom divino, em se fazendo acompanhar dos atos que o testemunhem; e é através de seus caracteres falados ou escritos que o homem recebe o patrimônio de experiências sagradas de quantos o antecederam no mecanismo evolutivo das civilizações. É por intermédio de seus poderes que se transmite, de gerações a gerações, o fogo divino do progresso na escola abençoada da Terra.


125.Reconhecendo que os nossos amigos do Plano espiritual estão sempre ao nosso lado, em todos os trabalhos e dificuldades, a fim de nos inspirar, quais os maiores obstáculos que a sua bondade encontra em nós, para que recebamos o seu socorro indireto, afetuoso e eficiente?

— Os maiores óbices psíquicos, antepostos pelo homem terrestre aos seus amigos e mentores da espiritualidade, são oriundos da ausência de humildade sincera nos corações, para o exame da própria situação de egoísmo, rebeldia e necessidade de sofrimento.


126.As vibrações relativas ao bem e ao mal, emitidas pela alma encarnada no seu aprendizado terrestre, persistem no Espaço para exame e ponderação do futuro?

— Haveis de convir conosco que existem fenômenos físicos, transcendentes em demasia, para que possamos examiná-los devidamente, na pauta exígua dos vossos conhecimentos atuais.

Todavia, em se tratando de vibrações emitidas pelo Espírito encarnado, somos compelidos a reconhecer que essas vibrações ficam perenemente gravadas na memória de cada um; e a memória é uma chapa fotográfica, onde as imagens jamais se confundem. Bastará a manifestação da lembrança, para serem levadas a efeito todas as ponderações, mais tarde, no capítulo das expressões do mal e do bem.


127.O preceito do “corpo são, mentalidade sadia”, poderá ser observado tão somente pelo hábito dos esportes e labores atléticos?

— No que se refere ao “corpo são”, o atletismo tem um papel importante e a sua ação seria das mais edificantes no problema da saúde física, se o homem na sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a fonte da ginástica e do esporte, transformando-a em tablado de entronização da violência, do abastardamento moral da mocidade, iludida com a força bruta e enganada pelos imperativos da chamada eugenia ou pelas competições estranhas dos grupos sectários, desviando de suas nobres finalidades um dos grandes movimentos coletivos em favor da confraternização e da saúde.

Bastará essa observação para compreendermos que a “mentalidade sadia” somente constituirá uma realidade quando houver um perfeito equilíbrio entre os movimentos do mundo e as conquistas interiores da alma.


128.A vida do irracional está revestida igualmente das características missionárias?

— A vida do animal não é propriamente missão, apresentando, porém, uma finalidade superior que constitui a do seu aperfeiçoamento próprio, através das experiências benfeitoras do trabalho e da aquisição, em longos e pacientes esforços, dos princípios sagrados da inteligência.


129.É um erro alimentar-se o homem com a carne dos irracionais?

— A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, n sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.

Temos de considerar, porém, a máquina econômica do interesse e da harmonia coletiva, onde tantos operários fabricam o seu pão cotidiano, sem que as suas peças possam ser destruídas, sem perigos graves, de um dia para o outro, e consolemo-nos com a visão do porvir, sendo justo trabalharmos, dedicadamente, pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres poderão dispensar da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos inferiores.


130.Operários do aprendizado terrestre, como devemos encarar o texto sagrado do “lembra-te do dia de sábado para santificá-lo”, ( † ) quando as obrigações de serviço proporcionam para isso os domingos?

— O descanso dominical deve ser sagrado pelo homem, não por se tratar de um domingo, mas em virtude da necessidade de se estabelecer uma pausa semanal aos movimentos da vida física, para o recolhimento espiritual da alma em si mesma, no caminho das atividades terrestres. O repouso dominical substitui perfeitamente o sábado antigo, salientando-se que a rigidez da sua observância foi instituída pelos legisladores hebreus, em virtude da ambição e da prepotência dos senhores de escravos, numerosos na época, e que, somente desse modo, atendiam à medida de humanidade, concedendo uma trégua ao esforço exaustivo que costumava aniquilar a existência de servos fracos e indefesos.

O descanso semanal deve ser sempre consagrado pelo homem às expressões de espiritualidade da sua vida, sem se dar, porém, a qualquer excesso no domínio da letra, nesse particular, porque, após a palavra de Moisés, devemos ouvir a lição do Senhor, esclarecendo que “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”. ( † )


Emmanuel



[1] [No original: “produtos de origem animal,” evidente erro no processo de linotipagem da 1ª edição.]


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