1 À saída do educandário, como pusesse à mostra duas grandes fatias de pão com manteiga e queijo fresco, que lhe sobraram da merenda, aproximou-se Orlandinho, o filho de uma lavadeira pobre, que lhe falou, envergonhado:
— Leonardo, hoje ainda não comi coisa alguma… Tive medo de ficar atrasado nas lições e não quis perder a aula, embora viesse com bastante fome.
2 Torcia as mãos, acanhado por pedir. E porque o colega o fitasse com frieza, prosseguiu, explicando:
— “Seu” Januário não me pagou os serviços que fiz em casa dele, na semana passada, e, por isso, como mamãe tem andado doente, não nos foi possível comprar nem mesmo o café…
3 Leonardo não respondia, mas Orlandinho, muito corado de vergonha, passou ao pedido direto, depois de uma pausa mais longa:
— Em vista de nossas dificuldades, quem sabe você quererá ceder-me, por favor, a merenda que lhe sobrou do recreio?
4 Nesse ponto da solicitação, os olhos de Orlandinho estavam cheios d’água. Em voz mais triste ainda, ele concluiu:
— Gostaria de levar algum alimento para a mamãe…
5 Leonardo, todavia, quebrando o silêncio em que se fechara, exclamou:
— Ora! Você acha que eu sou padaria? Passe à frente! Não dou merenda a colegas vadios!
6 Orlandinho chorou, porque, de fato, sentia fome, mas Leonardo foi insensível.
— Se quiser comer — acrescentou — vá trabalhar!
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Veneranda