1 DECORRIDOS alguns minutos, o indolente rapaz encontrava-se, de novo, às portas de casa, e contemplou o firmamento, onde o Sol ia muito alto, dando a impressão de que viajava no dorso branco das nuvens.
2 Parado na observação do alto, interrogou a si próprio:
— Em que momento virá Jesus ensinar-me o caminho para o Céu?
3 O vento passava, de leve, parecendo recomendar-lhe calma e esperança….
4 Dispunha-se agora a penetrar o interior doméstico, quando foi procurado por Antoninho, inteligente sobrinho do vaqueiro, o qual, de pés descalços e camisa em remendos, lhe pedia um livro emprestado.
5 O colega pobre permanecia respeitoso, acanhado. Os olhos tímidos mostravam expressão de súplica.
6 Leonardo supôs que o companheiro talvez tivesse vindo a conselho do tio Manuel, que o assistia carinhosamente nas lições, e antegozou o prazer de exibir a posse. Aprumou-se e recebeu-lhe as saudações com as fumaças da superioridade mentirosa.
7 Antoninho explicou-se humildemente, alegando que devia apresentar as lições preparadas, o que se tornava difícil por faltar-lhe o livro de História Natural.
8 Leonardo ouviu tudo, de cabeça alta, e respondeu, inflexível:
— O quê? Emprestar meu livro? De modo algum! Se você quiser estudar, gaste o seu próprio dinheiro.
9 O colega ia insistir na solicitação, mas o nosso rapazinho adiantou-se, exclamando:
— Não! Não e não!…
10 Antoninho retirou-se abatido, procurando reprimir as lágrimas.
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Veneranda