1 RETIROU-SE para as vizinhanças do curral, onde sua atenção foi solicitada por uma vaca doente.
2 A pobrezinha arfava de cansaço. Tinha uma perna quebrada e várias feridas no corpo. Apelava para ele, com o olhar muito triste, como a suplicar-lhe uma gota d’água.
3 O animal tinha sede, muita sede.
Era Brinquinha.
4 Não pôde furtar-se às recordações de seus bons serviços. Fornecia leite saboroso pela manhã e deixava-se ordenhar, mansa e humilde, parecendo satisfeita em atender às necessidades de toda a casa. 5 O tratador separava-a do bezerro, que chorava, a distância, vendo-se prejudicado no carinho materno. 6 Brinquinha, porém, pousava nele o olhar calmo de mãe, pedindo-lhe, talvez, paciência e boa vontade, até que pudesse satisfazer o ordenhador.
7 Leonardo recordou-lhe os gestos de bondade e renúncia, mas, mesmo assim, não se animou a socorrê-la.
8 O animal só faltava falar-lhe diretamente com palavras humanas. Confiante, mostrava-lhe a boca sedenta e a língua seca. Entretanto, o rapazinho conservou-se indiferente.
9 Chegou a buscar um chicote com que pudesse atormentá-la.
10 Felizmente, não encontrou o que procurava e, longe de compadecer-se, fez um gesto de ingratidão e disse à vaca enferma, em alta voz:
— Fica-te, por aí, cheia de manhas! Receberás a boa sova de que precisas!
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Veneranda