1 APESAR do aviso paternal o menino apenas se afastou para gozar a vadiagem.
2 Dirigia-se, preguiçoso, para a fonte próxima, quando encontrou compridas fileiras de formigas, atacando tenras mudas de laranjeiras. As pequeninas invasoras cortavam folhas e grelos minúsculos com o maior desrespeito, e fugiam, apressadas.
3 Observando as mudas ofendidas, recordou as alegrias do pomar.
4 De vez em quando, sua mamãe realizava festas para a criançada, em pleno quintal.
5 Os colegas e ele serviam-se das laranjas, gostosamente.
6 Eram sempre saborosas e doces. Pareciam verdadeiros presentes de Deus, colocados inexplicavelmente nos galhos verdes das árvores.
7 O pai recomendava incessantemente o maior cuidado com as laranjeiras. Aos sábados, fazia-lhes demorada visita, defendendo-as de formigueiros e ervas daninhas.
8 Nem por isso, todavia, modificou a atitude inicial de indiferença. Julgou que despenderia muito tempo.
9 Considerou a possibilidade de comunicar a ocorrência ao seu papai, mas, quando supôs que poderia ser incumbido de salvar as plantas, abandonou todo o propósito de esforço.
10 Teve a impressão de que as mudas frágeis lhe pediam socorro; entretanto, olhou a imensa quantidade de pequenas perturbadoras em movimento, deu de ombros e exclamou:
— Façam as formigas o que quiserem!…
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Veneranda