PEDRO LEOPOLDO, † 26 (Do enviado especial do GLOBO, Clementino de Alencar) — Não nos foi difícil colher algumas impressões entre as pessoas de mais destaque presentes à sessão de anteontem à noite. A comunicabilidade se estabelecia, naturalmente, sobre as várias páginas psicografadas.
As opiniões, porém, assumem variadas nuances, desde a negação pronta dos materialistas até à crença dos que admitem o sobrenatural.
O Sr. José de Carvalho, por exemplo, prefeito e médico, de quem aqui se contam feitos realmente notáveis como cirurgião, vê os trabalhos do médium com o olhar franco, direto da sua ciência positiva. Não crê na comunicação com os mortos. A sua observação, como médico, entretanto, é esta: durante aquele período em que, no julgar dos espíritas, se dá a “comunicação”, não se achava o rapaz em seu estado normal; alguma coisa fora do comum, — êxtase? alucinação? — fosse o que fosse havia no seu todo, capaz de preocupar o médico.
Outras dúvidas
O juiz Dario Lins não faz uma negação relativa, propriamente, ao Espiritismo.
É, porém, dos que não acreditam muito nas faculdades mediúnicas de Chico Xavier, apesar de toda a produção escolhida.
Lembra, por exemplo, o fato de ter a mão do médium estacado, a certa altura, obrigando o presidente da mesa a pedir concentração. E conclui:
— Pois se o rapaz confessa que, às vezes, até quando sozinho, recebe Espíritos, por que essa dificuldade observada na sessão, onde, além dele, havia mais cinco pessoas — ou outros componentes da “corrente” — concentradas, e, a meu julgar, propiciando ainda mais a “comunicação”? Parece-me que ali o “transe” então devia ser mais seguro, mais profundo. No entanto, observou-se aquele enfraquecimento…
A resposta vem do outro mundo…
Quando o juiz Dario Lins assim falava, nós já tínhamos no bolso, uma resposta às suas dúvidas e indagações.
E uma resposta vinda do outro mundo…
Expliquemos: Aquilo que o Sr. Dario chamara de “enfraquecimento”, a parada da mão do médium em meio à comunicação certamente já ocorrera em sessões anteriores, e tal fato provocara, no próprio médium, indagação análoga à do juiz. E um Espírito, “Marta”, respondera do Além, numa mensagem recebida na sessão de 21 de março de 1934, e que encontráramos no “arquivo” de Chico Xavier.
Essa comunicação referente ao “modus operandi” dos Espíritos, como outra de Emmanuel de que já enviamos um trecho, diz o seguinte:
Como se opera o fenômeno da comunicação espírita
“Meu caro amigo.
Quereis saber por que recebeis, às vezes, comunicações dos Espíritos fora das vossas reuniões habituais, quando desejaríeis psicografá-las ao lado dos vossos companheiros.
Vou responder a essa arguição.
Ainda não compreendeis na Terra como se opera o fenômeno da comunicação dos desencarnados. Ela se faz — expressando-me de forma a me compreenderdes de um modo geral, já que para entenderdes minuciosamente não estais preparados — ela se faz só por afinidades.
Um Espírito, em se manifestando, necessita sintonizar o cérebro que recebe à sua influência. Sintonização de vibrações espirituais.
O médium, pelos seus sentimentos de moral, pelo recolhimento e pela prece, aumenta as suas vibrações; os libertos da carne, já evoluídos, pelos bons desejos que os animam de esclarecer e ensinar os seus semelhantes, restringem e reduzem as suas, entrando assim dentro do círculo acanhado em que viveis.
O essencial para que o fenômeno se verifique, é a homogeneidade dos pensamentos, porque os Espíritos não conhecem as distâncias de espaço; para eles, existem as distâncias psíquicas, e estas, muitas vezes, impossibilitam a sua ação.
Numa reunião, nem sempre existe a afinidade requerida, fator principal de um ambiente favorável, resultante das vibrações simpáticas entre os assistentes e daí a preferência de alguns desencarnados pelo isolamento para certa ordem de trabalho.”
Martha
Tínhamos a resposta no bolso; mas não a exibimos. Não estávamos em propaganda…
As barbas brancas
Outro ponto que suscitou comentários dos que não creem, foi aquela parte da mensagem de Humberto em que aparece um Espírito ancião de “longas barbas de neve”.
— Espírito de barbas? — é a indagação da dúvida.
Desta vez, não tínhamos a resposta no bolso. Mas um espírita nos diz que ela já está de há muito grafada, em ampla explanação, nos livros de Kardec [v. Identidade dos Espíritos]. Os Espíritos assumem uma imagem divisável…
A nós, pareceu-nos que a figura de ancião de barbas brancas era pelo menos uma “imagem literária” indispensável ao cronista, fosse ele do Além ou daqui mesmo.
Freud, etc.
O Sr. Maurício de Azevedo apela para Freud.
A seu ver, ocorrem fatos, fenômenos tais, que bem nos convidam a atentar na hipótese de trazermos, muitos de nós, no fundo da nossa mentalidade, a sedimentação de várias civilizações e culturas anteriores.
Seria muito tolo!
Há, porém os que veem no caso, um fenômeno realmente espírita, e, por conseguinte, admitem a doutrina.
Estes, refutam todas as dúvidas e a ideia de fraude pela consideração de que, se Chico Xavier tivesse capacidade para criar tudo o que grafa nas sessões, e má fé suficiente para “embrulhar” os crentes; ou, se representasse de médium a serviço de “vivos”, então:
— Ele seria também muito tolo para se submeter à condição em que vive, de um pobre caixeirinho de venda do sertão, ganhando 90$ por mês!
E acrescenta, citando nomes, uma exposição de oferecimento de melhores colocações fora de Pedro Leopoldo feitas a Chico Xavier por admiradores seus.
O rapaz, porém, nunca aceitou tais ofertas, respondendo aos seus amigos que de forma alguma deixará a venda de “seu” Zé Felizardo.
“Seu” Zé é padrinho dele e o rapaz lhe tem grande afeição. Só a morte do patrão poderá afastá-lo daquele posto.
Humildade e renúncia.
Assombrações no outro mundo…
A seguir enviaremos, retirada do arquivo do médium, mais uma das mensagens atribuídas a Humberto de Campos, e que, segundo afirma uma observação ao pé, foi psicografado por Chico Xavier no dia 9 de abril corrente.
Essa mensagem nos traz uma revelação surpreendente: entre os mortos, ou os “desencarnados” como querem os espíritas, podem também ocorrer casos de “assombração” e de “sustos”…
Clementino de Alencar