O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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No mundo de Chico Xavier — Entrevistas — F. C. Xavier/Elias Barbosa


Por quê?

Por que um livro relacionando informações do médium Francisco Cândido Xavier, se ele já foi instrumento dos Bons Espíritos para o lançamento de quase uma centena de volumes diversos, em quarenta anos consecutivos de mediunidade?

Semelhante pergunta, decerto, repontará aqui e além, diante do nosso trabalho, entretanto, responderemos com uma série de contra-perguntas, convidando o leitor amigo à reflexão e ao estudo em torno dos problemas da imortalidade.

Rezam as tradições que Moisés peregrinou durante quarenta anos, através do deserto, orientando o povo israelita para a libertação do cativeiro do Egito.

Admiramo-nos dessa pertinácia e muitos estudiosos existem que relegam o feito para o domínio das narrativas lendárias.

Com Xavier, porém, temos uma criatura que há precisamente oito lustros iniciou longa excursão no terreno do intercâmbio com o Mundo Espiritual. Não será isso o fato digno de menção? Como terá vivido, nesses quatro decênios de trabalho ininterrupto? Que terá sentido, visto, ouvido? que experiências acumulou? que opiniões formula hoje do seu longo contato com a Espiritualidade? que notícias nos dá de suas próprias impressões na psicografia dos livros que são lidos por milhares e milhares de pessoas espíritas e não espíritas? como se comportou diante das incompreensões dos caminhos percorridos? como se sente no avançado marco de tempo, na sua viagem medianímica? que diz para os iniciantes da mesma estrada? se apenas alcançou nesta encarnação os rudimentos da escola primária, recebeu dos amigos desencarnados instruções subsequentes, à feição de cursos supletivos?

Não somos daqueles que encontram nos médiuns pessoas diferentes da Humanidade, portadores de milagres e carismas e conquanto estimemos em Chico Xavier um excelente amigo, sabemo-lo alma humana, com as qualidades felizes ou menos felizes que nos caracterizam a todos, os filhos da Terra. Mas justamente por aceitá-lo assim, qual se mostra na simplicidade e sinceridade de suas próprias declarações, é que voltamos ao nosso inquérito. Por que outras criaturas, com as mesmas características de humanidade, entre as lutas e as vicissitudes inerentes à nossa vida planetária não fazem o mesmo, recolhendo-se à mediunidade para servir e auxiliar os irmãos do caminho?

E se Chico Xavier fosse alguém com virtudes particulares e excepcionais — conquanto lhe respeitemos as qualidades de amigo, para quem se volta a nossa estima sincera, — que vantagem haveria em servir de instrumento dos Espíritos Benfeitores, em meio de nós outros, homens igualmente carregados pelos empeços morais, que nos assinalam as experiências terrestres? por que todos os médiuns que se iniciam no trabalho espiritual não persistem através do tempo, reconhecido o fato de que muitos esmorecem no ardor doutrinário, quando as responsabilidades da obra começam a lhes pesar mais intensivamente nos ombros? Se o próprio Xavier não se afirma obreiro de virtudes especiais, por que se mantém leal à Espiritualidade, há quarenta anos sucessivos, de vez que também não se sente credor de auxílios especiais? Há quem diga que Chico possui cultura vastíssima, entretanto, sabemos que ele se empregou aos onze anos de idade em 1921 e trabalhou sem pausa, no setor profissional, até 1961, quando se aposentou, na condição de Escriturário ao Ministério da Agricultura; não ignoramos ainda que Xavier é portador de grave moléstia ocular que perdura há mais de trinta anos; com o trabalho intenso da vida material e com os cuidados incessantes na preservação da possível saúde orgânica, não tem tido tempo e recursos físicos nos últimos quarenta anos para ser um devorador de livros; mas, concedendo-se-lhe, ainda, elevada posição entre os autodidatas, uma pergunta nos surge imperiosa, espontânea… Se foi o estudo o responsável por mais de noventa volumes, todos eles respeitáveis, na vida de Xavier, por que razão, nós outros, os que estamos premiados pelos títulos acadêmicos, e que, por força da profissão, estamos intimados ao convívio incessante com os livros, não produzimos bagagem literária do mesmo teor? Se as obras trazidas ao mundo pelas mãos de Xavier são fruto de osmose imaginária da cultura com a inteligência, como não exigir das pessoas cultas que façam o mesmo? Por outro lado, dispondo de elementos tão vastos para senhorear o campo das letras, com inequívocas possibilidades de extrair dele os mais ricos filões da fortuna material, por que permaneceria Xavier na mesma vida simples, sem aceitar quaisquer proventos dos livros de que é, aliás, co-autor, na condição de médium, quando poderia faturar milhares de cruzeiros, anualmente, por direitos autorais?

Estas são as perguntas das muitas que o caso Chico Xavier nos suscita ao raciocínio, mas fiquemos por aqui e entreguemos nosso despretensioso volume aos leitores interessados na vida eterna de nossos Espíritos eternos. Eles como nós, sabem que Xavier é médium da Doutrina Espírita e que em lhe colecionando nestas páginas mais de trezentas questões que lhe foram endereçadas, tentamos agradecer-lhe a dedicação à Causa do Cristo e da Humanidade, no Espiritismo, dispondo-os, todos nós — ele conosco e nós outros com ele, — a estudar, sentir, aprender, trabalhar e viver com a Doutrina Espírita, em nossas vidas, agora, sempre e cada vez mais.


Elias Barbosa


Uberaba, 3 de outubro de 1967.

(Quadragésimo ano das atividades mediúnicas de Chico Xavier).


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