1 Irmão, enquanto gemes,
Cresce a erva para curar-te as dores,
E enquanto dormes
A pedra te sustenta a habitação.
2 Enquanto te desfazes em revolta,
O verme permanece trabalhando,
Submisso ao Senhor,
No preparo do chão para que a vida não cesse.
3 Enquanto te confias
A impropérios da queixa,
Dispõe-se a gota d’água
A socorrer-te a sede.
4 Enquanto te enveredas
No labirinto imenso
Da palavra insincera ou do tempo perdido,
O minúsculo grão
Desenvolve-se, humilde,
Para atender-te a fome e ajudar-te o celeiro.
Ao redor de teus passos,
Tudo clama — “que fazes?”
5 Entretanto,
Guardas ouvidos surdos
E as tuas mãos inertes
Rogam, em vão, o amparo
Que deviam por si mesmas,
Enriquecendo o bem para a luz imortal.
6 Abre o teu coração
À glória da verdade e à fonte do amor
Que dimanam sem termo
Do Coração da Vida,
Para que o Sol Divino
Encontre no teu peito
O instrumento ideal de manifestação,
Porque a bênção do corpo
É qual a flor da erva,
Hoje brilhando ao céu, amanhã, semimorta…
7 E o Pai Justo e Bondoso
Que rege o grão de pó e as estrelas suspensas
Vela, agindo conosco,
Dentro e fora de nós,
Perguntando a nós todos,
Em cessando o minuto:
— “Meu filho, que fizeste?”
Rodrigues de Abreu
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