O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nosso Lar — André Luiz


26

Novas perspectivas

(Sumário)

1. Ponderando as sugestões carinhosas e sábias da mãe de Lísias, acompanhei Rafael, convicto de que iria, não às visitas de observações, mas ao aprendizado e serviço útil.

2 Anotava, surpreso, os magníficos aspectos da nova região, rumo ao local onde me aguardava o Ministro Genésio; contudo, seguia Rafael, em silêncio, estranho agora ao prazer das muitas indagações. 3 Em compensação, experimentava novo gênero de atividade mental. Dava-me todo à oração, pedindo a Jesus me auxiliasse nos caminhos novos, a fim de que me não faltasse trabalho e forças para realizá-lo. Antigamente, avesso às manifestações da prece, agora a utilizava como valioso ponto de referência sentimental aos propósitos de serviço.

4 O próprio Rafael, de quando em vez, lançava-me curioso olhar, como se não devesse esperar tal atitude de minha parte.


2. Deixou-nos o aeróbus à frente de espaçoso edifício.

Descemos, calados.

Em poucos minutos, achava-me diante do respeitável Genésio, um velhinho simpático, cujo semblante revelava, entretanto, singular energia.

2 Rafael apresentou-me fraternalmente.

— Ah! Sim, — disse o generoso Ministro, — é o nosso irmão André?

— Para servi-lo, — respondi.

— Tenho notificação de Laura, referente à sua vinda. Fique à vontade.

3 Nesse ínterim, o companheiro aproximou-se respeitosamente e despediu-se, abraçando-me em seguida. Rafael era esperado com urgência no setor de tarefas a seu cargo.

4 Fixando em mim os olhos muito lúcidos, Genésio começou a dizer:

— Clarêncio falou-me a seu respeito, com interesse. Quase sempre recebemos pessoal do Ministério do Auxílio, em visita de observações que, na sua maior parte, redundam em estágios de serviço.

5 Compreendi a sutil alusão e obtemperei:

— Este o meu maior desejo. Tenho mesmo suplicado às Forças Divinas que me ajudem o espírito frágil, permitindo seja convertida a minha permanência, neste Ministério, em estação de aprendizado.

6 Genésio parecia comovido com as minhas palavras, e, valendo-me das inspirações que me inclinavam à humildade, roguei, de olhos úmidos:

— Senhor Ministro, compreendo agora que minha passagem pelo Ministério do Auxílio se verificou por efeito da graça misericordiosa do Altíssimo, talvez devido a constante intercessão de minha devotada e santa mãe.  7 Noto, porém, que somente venho recebendo benefícios, sem nada produzir de útil. Certo, meu lugar é aqui, nas atividades regeneradoras. Se possível, faça, por obséquio, seja transformada a concessão de visitar em possibilidade de servir. 8 Compreendo hoje, mais que nunca a necessidade de regenerar meus valores próprios. Perdi muito tempo na vaidade inútil, fiz enormes gastos de energia na ridícula adoração de mim mesmo!…

9 Satisfeito, notava, no fundo de meu coração, a sinceridade viva. Quando recorrera ao Ministro Clarêncio, não estava ainda bastante consciente do que pedia. Queria serviço, mas talvez não desejasse servir. 10 Não entendia o valor do tempo, nem enxergava as bênçãos da oportunidade, santificantes. No fundo, era o desejo de continuar a ser o que tinha sido até então — o médico orgulhoso e respeitado, cego nas pretensões descabidas do egotismo em que vivia, encarcerado nas opiniões próprias.  11 No entanto, agora, diante do que vira e ouvira, compreendendo a responsabilidade de cada filho de Deus na obra infinita da Criação, punha nos lábios quanto possuía de melhor. Era sincero, enfim. Não me preocupava o gênero de tarefa, procurava o conteúdo sublime do espírito de serviço.

12 O velhinho fitou-me, surpreendido, e perguntou:

— É mesmo você o ex-médico?

— Sim… — Murmurei, acanhado.

Silencioso, como quem encontrava resoluções imprevistas, Genésio acrescenou:

— Louvo seus propósitos e peço igualmente ao Senhor o conserve nessa posição digna.

13 E, como que preocupado em levantar-me o ânimo e acender-me no espírito novas esperanças, acentuou:

—  14 O meu amigo tem recebido enormes recursos da Providência. Está bem disposto à colaboração, compreende a responsabilidade, aceita o dever. Tal atitude é sumamente favorável à concretização dos seus desejos. 15 Nos Círculos carnais, costumamos felicitar um homem quando ele vinga prosperidade financeira ou excelente figuração externa; entretanto, aqui a situação é diferente. Estima-se a compreensão, o esforço próprio, a humildade sincera.

16 Identificando-me a ansiedade, concluiu:

— É possível obter ocupações justas. Por enquanto, porém, é preferível que visite, observe, examine.


3. E logo, ligando-se ao gabinete próximo, falou em voz alta:

— Solicito a presença de Tobias, antes que se dirija às Câmaras de Retificação.

2 Não se passaram muitos minutos e assomou à porta um senhor de maneiras desembaraçadas.

— Tobias, — explicou Genésio, atencioso, — aqui tem um amigo que vem do Ministério do Auxílio, em tarefa de observação. Creio de muito proveito para ele o contato com as atividades das câmaras retificadoras.

3 Estendi-lhe a mão, enquanto o desconhecido correspondia, afirmando, gentil:

— Às suas ordens.

— Conduza-o, — prosseguiu o ministro, evidenciando grande bondade. — André precisa integrar-se no conhecimento mais íntimo de nossas tarefas. Faculte-lhe toda oportunidade de que possamos dispor.

4 Prontificou-se Tobias, revelando a maior boa vontade.

— Estou de caminho, — acrescentou ele, bem-humorado, — se deseja acompanhar-me…

— Perfeitamente, — respondi, satisfeito.

O Ministro Genésio abraçou-me, comovido, com palavras de animação.

Segui Tobias resolutamente.


4. Atravessamos largos quarteirões, onde numerosos edifícios me pareceram colmeias de serviço intenso. Percebendo-me a silenciosa indagação, o novo amigo esclareceu:

— Temos aqui as grandes fábricas de “Nosso Lar”. n A preparação de sucos, de tecidos e artefatos em geral, dão trabalho a mais de cem mil criaturas, que se regeneram e se iluminam ao mesmo tempo.

2 Daí a momentos, penetramos num edifício de aspecto nobre. Servidores numerosos iam e vinham. Depois de extensos corredores, deparou-se-nos vastíssima escadaria, comunicando com os pavimentos inferiores.

— Desçamos, — disse Tobias em tom grave.

3 E notando minha estranheza, explicou, solícito:

— As Câmaras de Retificação estão localizadas nas vizinhanças do Umbral. Os necessitados que aí se reúnem não toleram as luzes, nem a atmosfera de cima, nos primeiros tempos de moradia em “Nosso Lar”.


André Luiz



[1] [Vide: Algumas referências ao uso de itens materiais no Mundo Invisível do Plano Espiritual, como edificações providas dos mais diversos objetos, aparelhos, veículos de transporte, etc.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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