O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nosso Lar — André Luiz


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Organização de serviços

(Sumário)

1. Decorridas algumas semanas de tratamento ativo, saí, pela primeira vez, em companhia de Lísias.

2 Impressionou-me o espetáculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranquilidade espiritual. 3 Não havia, porém, qualquer sinal de inércia ou de ociosidade, porque as vias públicas estavam repletas. Entidades numerosas iam e vinham. Algumas pareciam situar a mente em lugares distantes, mas outras dirigiam-me olhares acolhedores. Incumbia-se o companheiro de orientar-me em face das surpresas que surgiam ininterruptas. Percebendo-me as íntimas conjeturas, esclareceu solícito:

4 — Estamos no local do Ministério do Auxílio. Tudo o que vemos, edifícios, casas residenciais, representa instituições e abrigos adequados à tarefa de nossa jurisdição. Orientadores, operários e outros serviçais da missão residem aqui. 5 Nesta zona, atende-se a doentes, ouvem-se rogativas, selecionam-se preces, preparam-se reencarnações terrenas, organizam-se turmas de socorro aos habitantes do Umbral, ou aos que choram na Terra, estudam-se soluções para todos os processos que se prendem ao sofrimento.

6 — Há, então, em “Nosso Lar”, um Ministério do Auxílio? — Perguntei.

— Como não? Nossos serviços são distribuídos numa organização que se aperfeiçoa dia a dia, sob a orientação dos que nos presidem os destinos.


2. Fixando em mim os olhos lúcidos, prosseguiu:

— Não tem visto, nos atos da prece, nosso Governador Espiritual cercado de setenta e dois colaboradores? Pois são os Ministros de “Nosso Lar”. 2 A colônia, que é essencialmente de trabalho e realização, divide-se em seis Ministérios, orientados, cada qual, por doze Ministros. Temos os Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina. 3 Os quatro primeiros nos aproximam das Esferas terrestres, os dois últimos nos ligam ao Plano superior, visto que a nossa cidade espiritual é zona de transição. 4 Os serviços mais grosseiros localizam-se no Ministério da Regeneração, os mais sublimes no da União Divina. Clarêncio, o nosso chefe amigo, é um dos Ministros do Auxílio.

5 Valendo-me da pausa natural, exclamei, comovido:

— Oh! Nunca imaginei a possibilidade de organizações tão completas, depois da morte do corpo físico!…

— Sim, — esclareceu Lísias, — o véu da ilusão é muito denso nos Círculos carnais. O homem vulgar ignora que toda manifestação de ordem, no mundo, procede do Plano superior. 6 A natureza agreste transforma-se em jardim, quando orientada pela mente do homem, e o pensamento humano, selvagem na criatura primitiva, transforma-se em potencial criador, quando inspirado pelas mentes que funcionam nas Esferas mais altas. 7 Nenhuma organização útil se materializa na crosta terrena, sem que seus raios iniciais partam de Cima.


3. — Mas “Nosso Lar” terá igualmente uma história, como as grandes cidades planetárias?

— Sem dúvida. Os Planos vizinhos da Esfera terráquea possuem, igualmente, natureza específica. “Nosso Lar” é antiga fundação de portugueses distintos, desencarnados no Brasil, no século XVI. 2 A princípio, enorme e exaustiva foi a luta, segundo consta em nossos arquivos no Ministério do Esclarecimento. Há substâncias ásperas nas zonas invisíveis à Terra, tal como nas regiões que se caracterizam pela matéria grosseira. Aqui também existem enormes extensões de potencial inferior, como há, no planeta, grandes tratos de natureza rude e incivilizada. 3 Os trabalhos primordiais foram desanimadores, mesmo para os espíritos fortes. Onde se congregam hoje vibrações delicadas e nobres, edifícios de fino lavor, misturavam-se as notas primitivas dos silvícolas do país e as construções infantis de suas mentes rudimentares. 4 Os fundadores não desanimaram, porém, prosseguiram na obra, copiando o esforço dos europeus que chegavam à Esfera material, apenas com a diferença de que, por lá, empregava-se a violência, a guerra, a escravidão, e, aqui, o serviço perseverante, a solidariedade fraterna, o amor espiritual.


4. A essa altura, atingíramos uma praça de maravilhosos contornos, ostentando extensos jardins. No centro da praça, erguia-se um palácio de magnificente beleza, encabeçado de torres soberanas, que se perdiam no céu.

— Os fundadores da colônia começaram o esforço, partindo daqui, onde se localiza a Governadoria, — disse o visitador.

2 Apontando o palácio, continuou:

— Temos, nesta praça, o ponto de convergência dos seis ministérios a que me referi. Todos começam da Governadoria, estendendo-se em forma triangular.

3 E, respeitoso, comentou:

— Ali vive o nosso abnegado orientador. Nos trabalhos administrativos, utiliza ele a colaboração de três mil funcionários; entretanto, é ele o trabalhador mais infatigável e mais fiel que todos nós reunidos. 4 Os Ministros costumam excursionar noutras Esferas, renovando energias e valorizando conhecimentos; nós outros gozamos entretenimentos habituais, mas o Governador nunca dispõe de tempo para isso. Faz questão que descansemos, obriga-nos a férias periódicas, ao passo que, ele mesmo, quase nunca repousa, mesmo no que concerne às horas de sono. Parece-me que a glória dele é o serviço perene. 5 Basta lembrar que estou aqui há quarenta anos e, com exceção das assembleias referentes às preces coletivas, raramente o tenho visto em festividades públicas. Seu pensamento, porém, abrange todos os círculos de serviço, sua assistência carinhosa a tudo e a todos atinge.

6 Depois de longa pausa, o enfermeiro amigo acentuou:

— Não faz muito, comemorou-se o 114.º aniversário da sua magnânima direção.

Calara-se Lísias, evidenciando comovida reverência, enquanto eu a seu lado contemplava, respeitoso e embevecido, as torres maravilhosas que pareciam cindir o firmamento…


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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