A crista do galo marca,
ponteiro do desafio,
a hora amarga da Arca
— profanação de gentio.
Sangue e fogo no esplendor
da aurora de um novo dia.
Pilatos lava o favor
nas águas da covardia.
Canta o galo, canta o galo,
terceira vez ele canta.
Pedro sente trespassá-lo
três golpes de espada santa.
Pesqueiros da Galileia,
num mar de cinza e de rosa,
lembram no céu da Judéia
a pesca miraculosa.
A hora da Loba — Roma
que devorou os rabinos.
Ninguém a vence nem doma
no entrançar dos destinos.
Na hora do testemunho
rompe-se o véu do sacrário.
Tremem as mãos sobre o punho
da espada do legionário.
Na amargura e na mudez
da noite das agonias,
Pedro chora a sua vez
e ouvem-se litanias.
A Loba dorme saciada
digerindo os seus rabinos.
Sobre a túnica sagrada
completam-se os desatinos:
— O esquadrão legionário
joga dados no Calvário.
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