Francisco Cândido Xavier
A sua veemência e sinceridade, na defesa da Obra de Allan Kardec, me fez pensar muito no cuidado que todos nós, os espíritas, devemos ter na preservação dos textos referidos, sob pena de criarmos dificuldades insuperáveis para nós mesmos, agora e no futuro. Meditando nisso, sou eu quem me sinto honrado em enviar-lhe estas publicações, no intuito de demonstrarmos em livro-documentário a elevação da sua defesa e o meu respeito no tocante à Codificação kardeciana, que nos cabe endereçar ao futuro tão autêntica quanto nos seja possível.
No caso de ser levado adiante o lançamento de um livro nessas diretrizes, o prezado professor poderá usar, ou apresentar no contexto do volume, qualquer trecho vu a total correspondência que lhe tenho enviado sobre o assunto, pois isso poderá clarear a atitude que tomei.
Irmão Saulo
Nesta antevéspera de mais um aniversário do Livro dos Espíritos, que transcorrerá no próximo domingo, é necessário lembrarmos a importância de constante vigilância na preservação e defesa das obras fundamentais da Doutrina. E isso só pode haver se os espíritas estiverem convictos do valor e da significação espiritual e cultural dessas obras. Infelizmente não foi o que se viu no recente episódio de adulteração de O Evangelho Segundo o Espiritismo, com a venda total da edição ao público desprevenido e a sustentação pública da adulteração pela própria Federação Espírita do Estado. O que então se viu foi uma demonstração alarmante de falta de convicção doutrinária de parte dos responsáveis pela tradicional instituição.
Essa falta de convicção e de zelo pela Doutrina é o resultado de muitos anos de infiltração de princípios estranhos nos próprios cursos de Espiritismo dados pela Federação e por numerosas entidades a ela filiadas. O ensino deturpado só poderia levar o meio espírita à desfiguração dos textos de Kardec. No plano cultural, a adulteração é um crime que só pode ser desculpado pela ignorância. No Plano espiritual é a profanação da verdade revelada. E em ambos os planos, mas particularmente no moral, a adulteração é um ato de traição. Mas todas essas qualificações se reduzem apenas a uma — a ignorância — quando o procedimento revela, em sua própria forma e nas tentativas de sua justificação, o mais lamentável desconhecimento do próprio sentido dos trechos adulterados.
Chico Xavier, que tentaram envolver nesse processo lamentável, tomou posição clara e definida em defesa da inviolabilidade dos textos de Kardec. Mas como persistiram os realizadores da façanha em aponta-lo como envolvido, o famoso e querido médium solicitou a publicação de um livro-documentário, a fim de que não se possa, no presente e no futuro, continuar a citá-lo como implicado na questão.
Houve também os que reconheceram o erro cometido e se opuseram ao prosseguimento do plano adulterador, que pretendia desfigurar toda a Codificação do Espiritismo, segundo documentos oficialmente divulgados. A atitude de Chico Xavier e desses poucos (pouquíssimos) que tiveram a coragem de penitenciar-se, contrasta com a falta de convicção da maioria dos chamados lideres espíritas que se omitiram e calaram diante do aviltamento de sua própria doutrina.
O sintoma evidente de insensibilidade decepcionou todos os espíritas sinceros. E mais grave se torna quando sabemos que a Doutrina Espírita não foi elaborada por Kardec, mas pelos Espíritos Superiores, sob a orientação constante do Espírito da Verdade (nome derivado dos textos evangélicos) e sob a égide do próprio Cristo, segundo a sua promessa registrada pelos evangelistas, particularmente no Evangelho de João.
O remédio contra esse estado mórbido depende de medidas que não foram tomadas: o afastamento dos responsáveis pela adulteração dos cargos diretivos da instituição; a reformulação imediata dos cursos de doutrina e de médiuns, com exclusão dos livros, folhetos e apostilas adulterantes; o retorno imediato aos livros básicos de Kardec como únicas fontes legítimas de ensino espírita; o reconhecimento da posição subsidiária das obras de André Luiz, hoje superpostas às de Kardec; a condenação e exclusão total das obras de mistificação ou de mistura indébita de doutrinas estranhas. Enquanto isso não for feito, as raízes amargas da adulteração continuarão a fermentar no meio espírita e a alimentar a vaidade de pretensos instrutores e mestres. Temos de escolher entre ser espíritas ou ser mistificadores da doutrina.