Francisco Cândido Xavier
Ontem à tarde, em nossos entendimentos sobre as tarefas que nos cabem na vida, tratávamos, vários companheiros, das decepções que a todos nos visitam de quando em quando. Companheiros que se afastam, desgostos, incompreensões, promessas que falham, expectativas de melhoria que se extinguem sem que se saiba por quê. Transferindo-nos da palestra para a nossa reunião pública, o Livro dos Espíritos nos ofereceu a questão 937, que foi comentada por vários.
Ao término da reunião, Emmanuel escreveu a página que lhe envio. Conforme nossa desejo — de todos os companheiros presentes — coloco a página em suas mãos amigas, na esperança de que nos possa auxiliar com os seus apontamentos doutrinários, para nossa reflexão e nossos estudos.
Emmanuel
1 Desapontamento: causa de numerosas perturbações e desequilíbrios. Entretanto, é no desapontamento que, muitas vezes, se corrigem situações e recursos.
2 Naquilo que chamamos desilusão, em muitos casos, é que os Poderes Maiores da Vida se expressam em nosso auxílio.
3 Por isso mesmo, todo desencanto reveste determinado ensinamento dos Mensageiros Divinos, indicando-nos as diretrizes que nos cabe trilhar.
Avisos e advertências.
Apelos e informações.
4 A existência é comparável ao trânsito em que se dirige cada um a certos fins.
5 Desapontamento é o sinal vermelho, esclarecendo: “Não por aqui” ou “agora não”.
6 Se algum desengano te assaltou o espírito, não te deixes vencer por tristeza negativa.
7 Guarda a mensagem inarticulada que ele encerra e, prosseguindo à frente, na execução dos próprios deveres, apreender-lhe-ás o sentido.
8 Aspiração frustrada é indicação do melhor caminho para o futuro.
9 Plano derruído é base a projetos mais elevados de ação.
10 Prejuízo é remanejamento aconselhável para aquisição de segurança.
11 Inibições significam defesa.
12 Afeição destruída é o processo de perder a carga de inquietações inúteis em torno de corações respeitáveis, mas ainda inabilitados a vibrar com os nossos no mesmo nível de ideal e realização.
13 Nos dias que consideres amargos pela dor que te apresentem, aceita o remédio invisível dos contratempos que a vida te impõe.
14 E seguindo adiante, trabalhando e servindo, auxiliando e aprendendo, a breve trecho de espaço e tempo, reconhecerás que desapontamento em nós é cuidado de Deus.
Irmão Saulo
A última mensagem de Emmanuel que comentamos trazia-nos a explicação possível de um grande desapontamento por que estamos todos passando no movimento espírita. A de hoje coincide novamente com o mesmo problema. Desejamos deixar bem claro que em nenhuma das duas mensagens há qualquer referência explícita ao assunto. As ilações que tiramos de ambas resultam do nosso desejo pessoal de atender a um problema do momento, que é dos mais sérios a surgir em nosso meio. A mensagem acima refere-se a desapontamentos vários, como se vê nas anotações de Chico Xavier. Mas entre eles figura também o que estamos enfrentando neste momento, com o primeiro caso de adulteração consciente de uma obra de Allan Kardec.
Se os desapontamentos individuais constituem avisos e advertências, apelos e informações, o mesmo ocorre com os desapontamentos coletivos. As coincidências significativas constituem uma das teses mais curiosas da Parapsicologia. numa teoria formulada pelo famoso psicólogo Karl Jung, † discípulo dissidente de Freud. Coloca o problema da lei de sincronicidade, que substituiria nos fenômenos paranormais a lei física de causa e efeito. No plano mental, que não é físico, não haveria causa e efeito, mas sim um processo de sincronia. de simultaneidade. É o que ocorre no nosso caso.
Emmanuel não escreveu as mensagens tendo por causa o nosso desapontamento. Atendeu apenas a solicitações de pessoas que visitavam Chico em Uberaba. Mas às duas mensagens coincidiram com o fato ocorrido em São Paulo e com o desapontamento geral que dele resultou no meio espírita. A coincidência significativa é de tal ordem que não poderíamos olvidá-la. Tanto mais que as mensagens nos trazem orientação e consolo. Se desapontamento em nós é cuidado de Deus, segundo a bela expressão de Emmanuel, com o fim de poupar-nos aborrecimentos maiores no futuro, faz-se então necessário compreendermos a lição dolorosa que recebemos. A adulteração de O Evangelho Segundo o Espiritismo, pelo tradutor Paulo Alves de Godoy, revela uma situação perigosa em nosso movimento espírita e deve prevenir-nos contra decepções maiores. Esse desapontamento se acentua aos sabermos que a Federação não tomou nenhuma providência a respeito e continua vendendo a edição adulterada em sua própria livraria. Prevaleceu no caso o interesse material, com injustificável desprezo das consequências morais e doutrinárias. Com isso, o processo de adulteração das obras fundamentais foi desencadeado por uma instituição respeitável e por um companheiro que até agora se portara demonstrando zelo e respeito pela doutrina. Em todos os casos de desapontamento há também esse perigo: o de negligenciarmos a lição recebida, não atendendo ao cuidado de Deus para conosco.