O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nos domínios da mediunidade — André Luiz


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Clarividência e clariaudiência

(Sumário)

1. Notei que a reunião atingia a fase terminal.

Duas horas bem vividas haviam corrido céleres para nós.

2 Raul Silva consultou o relógio e cientificou os companheiros de haver chegado o momento das preces de despedida.

3 Os amigos sofredores, aglomerados no recinto, poderiam receber vibrações de auxílio, enquanto os elementos do grupo recolheriam, através da oração, o refazimento das próprias forças.

4 Pequeno cântaro de vidro, com água pura, foi trazido à mesa.

E porque Hilário perguntasse se iríamos assistir a alguma cerimônia especial, o Assistente explicou, afável:

— Não, nada disso. A água potável destina-se a ser fluidificada. O líquido simples receberá recursos magnéticos de subido valor para o equilíbrio psicofísico dos circunstantes.

5 Com efeito, mal acabávamos de ouvir o apontamento, Clementino se abeirou do vaso e, de pensamento em prece, aos poucos se nos revelou coroado de luz.

Daí a instantes, de sua destra espalmada sobre o jarro, partículas radiosas eram projetadas sobre o líquido cristalino que as absorvia de maneira total.

6 — Por intermédio da água fluidificada, — continuou Áulus, — precioso esforço de medicação pode ser levado a efeito. Há lesões e deficiências no veículo espiritual a se estamparem no corpo físico, que somente a intervenção magnética consegue aliviar, até que os interessados se disponham à própria cura.


2. O Assistente silenciou, porquanto a palavra de Silva se fez ouvir, recomendando aos médiuns observassem, através da vidência e da audição, os ensinamentos que porventura fossem, naquela noite, ministrados ao grupo pelos amigos espirituais da casa.

2 Reparamos que Celina, Eugênia e Castro aguçaram as suas atenções.

Clementino, findo o preparo da água medicamentosa, consagrou-lhes maior carinho, aplicando-lhes passes na região frontal.

3 — Nosso amigo, — esclareceu o Assistente, — procura ajudar aos nossos companheiros de mediunidade, favorecendo-lhes o campo sensório. 4 Não lhes convêm, por agora, a clarividência e a clariaudiência demasiado abertas. Na Esfera dos Espíritos reencarnados, há que dosar observações para que não venhamos a ferir os impositivos da ordem. Cada qual de nós deve estar em sua faixa de serviço, fazendo o melhor ao seu alcance.  5 Imaginemos um aparelho radiofônico terrestre, coletando todas as espécies de onda, em movimento de captação simultânea. O proveito e a harmonia da transmissão seriam realmente impraticáveis, e não haveria propósito construtivo na mensagem.  6 Um médium, pois, não deve demorar-se com todas as solicitações do meio em que se situa, sob pena de arrojar as suas impressões ao desequilíbrio, a menos quando, por sua própria evolução, consiga sobrepairar ao campo do trabalho, dominando as influências do meio e selecionando-as, segundo o elevado critério de quem já consegue orientar-se para o bem e orientar aqueles que o acompanham.

7 Hilário refletiu um momento e indagou:

— Os trabalhos mediúnicos, porém, são rigorosamente iguais nos três instrumentos sob nosso exame?

— Isso não. O círculo de percepção varia em cada um de nós. 8 Há diferentes gêneros de mediunidade; contudo, importa reconhecer que cada Espírito vive em determinado degrau de crescimento mental e, por isso, as equações do esforço mediúnico diferem de indivíduo para indivíduo, tanto quanto as interpretações da vida se modificam de alma para alma.  9 As faculdades medianímicas podem ser idênticas em pessoas diversas, entretanto, cada pessoa tem a sua maneira particular de empregá-las. 10 Um modelo, em muitas ocasiões, é o mesmo para grande assembleia de pintores, todavia, cada artista fixá-lo-á na tela a seu modo. 11 Uma lâmpada exibirá claridade lirial, em jato contínuo, mas, se essa claridade for filtrada por focos múltiplos, decerto estará submetida à cor e ao potencial de cada um desses filtros, embora continue sendo sempre a mesma lâmpada a fulgurar em seu campo central de ação. 12 Mediunidade é sintonia e filtragem. Cada Espírito vive entre as forças com as quais se combina, transmitindo-as segundo as concepções que lhe caracterizam o modo de ser.


3. Notando o cuidado que o irmão Clementino empregava na preparação dos médiuns, meu colega inquiriu ainda:

2 — A clarividência e a clariaudiência acaso estão localizadas exclusivamente nos olhos e nos ouvidos da criatura reencarnada?

3 Áulus acariciou-lhe a cabeça e acentuou:

— Hilário, vê-se que você está começando a jornada no conhecimento superior. Os olhos e os ouvidos materiais estão para a vidência e para a audição como os óculos estão para os olhos e o ampliador de sons para os ouvidos — simples aparelhos de complementação. 4 Toda percepção é mental. Surdos e cegos na experiência física, convenientemente educados, podem ouvir e ver, através de recursos diferentes daqueles que são vulgarmente utilizados. 5 A onda hertziana e os raios X vão ensinando aos homens que há som e luz muito além das acanhadas fronteiras vibratórias em que eles se agitam, e o médium é sempre alguém dotado de possibilidades neuropsíquicas especiais que lhe estendem o horizonte dos sentidos.

6 Meu companheiro fixou o gesto de quem aproveitara a lição, mas objetou, reverente:

— Desejava, porém, saber se Dona Celina, por exemplo, está enxergando o irmão Clementino e ouvindo-o, tão somente pelo processo curial de percepção na Terra.

7 — Sim, isso acontece, por uma questão de costume cristalizado. Celina pensa ouvir o supervisor, através dos condutos auditivos, e supõe vê-lo, como se o aparelho fotográfico dos olhos estivesse funcionando em conexão com o centro da memória, no entanto, isso resulta do hábito. 8 Ainda mesmo no campo de impressões comuns, embora a criatura empregue os ouvidos e os olhos, ela vê e ouve com o cérebro, e, apesar de o cérebro usar as células do córtex para selecionar os sons e imprimir as imagens, quem vê e ouve, na realidade, é a mente. 9 Todos os sentidos na esfera fisiológica pertencem à alma, que os fixa no corpo carnal, de conformidade com os princípios estabelecidos para a evolução dos Espíritos reencarnados na Terra.

10 Sorrindo, ajuntou:

— Vocês possuem uma prova disso, quando o homem se encontra naturalmente desdobrado, cada noite, durante o sono, vendo e ouvindo, a despeito da inatividade dos órgãos carnais, na experiência a que chamam “vida de sonho”.

11 E, baixando o tom de voz, acrescentou:

— Somos receptores de reduzida capacidade, à frente das inumeráveis formas de energia que nos são desfechadas por todos os domínios do Universo, captando apenas humilde fração delas. 12 Em suma, nossa mente é um ponto espiritual limitado, a desenvolver-se em conhecimento e amor, na espiritualidade infinita e gloriosa de Deus.


4. Decorreram mais alguns instantes.

— Centralizemos mais atenção na prece, adestrando-nos para o serviço do bem!

2 Essa frase foi pronunciada por Clementino, em voz clara e pausada, como a oferecer uma base única para a convergência de nossas cogitações.

3 Atento, porém, aos nossos objetivos de estudo, acompanhei os médiuns mais diretamente interessados no apelo.

Dona Celina registara as palavras com precisão e guardava a atitude do aluno disciplinado.

Dona Eugênia assimilara-as, em forma de ordem intuitiva, e mostrava-se na condição do aprendiz criterioso.

Castro, contudo, não as recolhera nem de leve.

4 Com permissão do supervisor, pusemo-nos em tarefa de análise.

Observei que sutilmente ligados à faixa fluídica de Clementino, os três médiuns, cada qual a seu modo, lhe acusavam a presença.

5 Dona Celina anotava-lhe os mínimos movimentos, à maneira do discípulo diante do professor; Dona Eugênia lhe assinalava a vizinhança com menos facilidade, qual se o distinguisse imperfeitamente, através dum lençol de nebulosidade; e Castro, embora o visse com perfeição, parecia completamente alheio à influência do instrutor.

6 — As possibilidades de Celina e Castro, na clarividência e na clariaudiência, são por enquanto mais vastas que em nossa irmã Eugênia, — esclareceu Áulus, prestimoso. 7 — Acham-se os três levemente submetidos ao comando magnético de Clementino e podem identificar-lhe a presença com analogia de observações, porque, nas circunstâncias em que operam, estão agindo como pessoas comuns, utilizando-se da percepção habitual.

8 — Entretanto, — aduziu Hilário, — se o trio foi colocado sob a ordenação magnética do supervisor, por que motivo nossas amigas lhe acataram o convite, enquanto Castro se mantém visivelmente impermeável a ele?

9 — O mentor do recinto exerce apenas branda influência, abdicando de qualquer pressão mais forte, suscetível de provocar viciosa imanação, em desfavor de nossos amigos, — disse Áulus, convicto. 10 — Além disso, a mente de Castro passou, de súbito, a alimentar propósitos diferentes. Incapaz de concentrar a atenção, de modo irrepreensível, na região superior do trabalho que nos compete levar a efeito, de momento não mais se revela interessado em satisfazer ao programa de Clementino, mas sim em provocar um reencontro com a progenitora desencarnada. 11 Enxerga o orientador do conjunto, como quem é constrangido a ver alguém de passagem, todavia, sem qualquer preocupação de escutá-lo ou servi-lo, confinado como se encontra às emoções do jardim doméstico. Basta a indiferença mental para que nada ouça do que mais interessa agora ao esforço coletivo da reunião.

12 Evidentemente desejoso de definir a lição, no quadro de nossos conhecimentos terrestres, acrescentou:

— É uma antena que se insensibilizou, de improviso, recusando sintonizar-se com a onda que a procura.

13 Nesse instante, vimos que um companheiro simpático de nosso Plano avançou do círculo de espectadores, abeirando-se de Dona Celina e chamando-a, discreto.

14 A nobre criatura ouviu-lhe a voz, mas não se voltou para trás. Entretanto, respondeu-lhe em pensamento, numa frase que se fez perfeitamente audível para nós: — “Encontrar-nos-emos mais tarde”.

15 Áulus informou, presto:

— É o esposo desencarnado de nossa irmã que a visita, com afetuosa solicitação, contudo, disciplinada quanto é, Celina sabe renunciar ao conforto de ouvi-lo, a fim de colaborar no êxito da reunião com maior segurança.

16 Logo após, vimos Castro desdobrar-se de novo, auxiliado agora simplesmente pelo forte desejo de ausentar-se do círculo e, revestido das emanações que lhe desfiguravam o perispírito, ( † ) caminhou, hesitante, ao encontro de uma entidade amiga que o aguardava a pequena distância.

17 — Nosso cooperador, — falou o Assistente, — menos habituado à disciplina edificante, julga que já fez o possível, em favor dos trabalhos programados para esta noite, e põe-se no encalço da mãezinha, que vem sendo beneficiada em nossa organização.

18 Não nos foi, porém, possível alongar anotações.


5. Clementino, à cabeceira da assembleia, estendeu os braços e colocou-se em prece.

2 Cintilações de safirino esplendor revestiam-lhe agora o busto, dando-nos a impressão de que o abnegado benfeitor se convertera num anjo sem asas.

3 Em momentos ligeiros, verdadeiro jorro solar desceu do Alto, coroando-lhe a fronte e, de suas mãos, passou a irradiar-se prodigiosa fonte de luz, que nos alcançava a todos, encarnados e desencarnados, prodigalizando-nos a sensação de indescritível bem-estar.

4 Nada consegui dizer, não obstante as perquirições que me esfuziavam o pensamento.

O êxtase do mentor impelia-nos a respeitosa mudez.

5 Aqueles minutos de vibração sem palavras representavam precioso manancial de energias restauradoras para quantos lhe abrissem as portas do espírito.

É o que eu conseguia depreender pelo revigoramento de minhas próprias forças.


6. Terminada que foi a operação inesquecível, Raul solicitou ainda alguns instantes de tranquilidade e expectativa.

2 Competia ao grupo aguardar a manifestação de algum dos orientadores da casa, à guisa de instrução geral no encerramento.

3 Dona Celina rogou licença para notificar que vira surgir no recinto um ribeiro cristalino, em cuja corrente muitos enfermos se banhavam, e Dona Eugênia seguiu-a, explicando que chegara a contemplar um edifício repleto de crianças, entoando hinos de louvor a Deus.

4 Registamos semelhantes comunicados com surpresa.

Nada víramos ali que pudesse recordar sequer de longe um córrego de águas curativas ou algum pavilhão de serviço à infância.

A sala era demasiado estreita para comportar tais cenários.

5 Fitando-me, intrigado, Hilário parecia perguntar se as duas médiuns não estariam sob o influxo de alguma perturbação momentânea.

6 Assinalando-nos a estranheza, o Assistente considerou, prestimoso:

— Importa não esquecer que ambas se encontram reunidas na faixa magnética de Clementino, fixando as imagens que a mente dele lhes sugere. Viram-lhe os pensamentos, relacionados com a obra de amparo aos doentes e com a formação de uma escola, que a instituição pretende, em breve, mobilizar no socorro ao próximo. 7 Ideias, elaboradas com atenção, geram formas, tocadas de movimento, som e cor, perfeitamente perceptíveis por todos aqueles que se encontrem sintonizados na onda em que se expressam. n 8 Não podemos olvidar que há fenômenos de clarividência e clariaudiência que partem da observação ativa dos instrumentos mediúnicos, identificando a existência de pessoas, paisagens e coisas exteriores a eles próprios, qual acontece na percepção terrestre vulgar, e existem aqueles que decorrem da sugestão que lhes é trazida pelo pensamento criador dos amigos desencarnados ou encarnados, estímulos esses que a mente de cada médium traduz, segundo as possibilidades de que dispõe, favorecendo, por isso mesmo, as mais díspares interpretações.

9 — Oh! — Exclamou Hilário, entusiasmado, — temos aí a técnica dos obsessores quando improvisam para as suas vítimas variadas impressões alucinatórias…

— Sim, sim… — Confirmou o Assistente. — É isso mesmo. 10 No entanto, evitemos a conversação agora. O trabalho da reunião vai terminar.


André Luiz



[1] [Vide: Ideoplastia.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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