1 Querida Salete, n Deus nos abençoe.
Agradeço a você pela vinda. Querida irmã, não estamos indiferentes às suas dificuldades espirituais.
2 Diga ao papai Américo, à mãezinha Iracy n e aos meus sobrinhos que estou bem.
3 Hoje porém, desejo conversar com o seu carinho para afirmar-lhe que compreendo o nosso amor de irmãos que cresceram unidos para vivermos sempre atentos à felicidade de nossos pais e daqueles outros corações que se nos apegam à família querida.
4 A transformação da morte como que nos dividiu e caímos, cada qual para seu lado, mas hoje me proponho a rogar-lhe reconsidere que o seu irmão não anda distante.
5 Acompanho os seus ideais de servir e sei que você bateu em várias portas buscando o trabalho que não teve a continuidade precisa…
6 E a saudade entrou em seu coração e aí ficou a feição da água cristalina quando para e se corrompe.
7 Você começou a pensar e a pensar se vale a pena viver e respondo a você que sim.
8 Aí estão em sua companhia a nossa Marcília n e a nossa Aparecida n e posso lhes dizer que não é somente a mulher que mais sofre na Terra.
O homem igualmente carrega seus fardos, de incompreensões e obstáculos, embora não pareça.
Entendo que você se cansou de tantas lutas.
9 Recapitulo para você própria o que se pensa com respeito à mulher.
A menina ao nascer, é a alegria do papai, depois deve servir de ama ao irmão menor, cresce e se transforma em casa na vigilante e guardiã do cotidiano, escravizada à vassoura e à cozinha…
10 Se namora deve caminhar com extremada prudência para não ferir a suscetibilidade do futuro e provável companheiro…
11 E quando casa precisa ser novamente a ama dos filhinhos, e a zeladora do marido e, continuando nesse cativeiro doce e pesado, atinge a condição da tia ou da avó sempre na subalternidade a que me refiro…
12 Entretanto, querida irmã, o homem também luta e sofre. Ainda criança é chamado a duros aprendizados de artesanato e livro e quando se faz jovem abraçando o matrimônio se converte igualmente no escravo da família.
13 Peço, assim a você largar a tristeza e sigamos adiante.
Aquilo que nos descansa é o bem que nos causa, e não o remédio, talvez excessivo, que supomos seja o travesseiro adequado às nossas necessidades de esquecimento e repouso.
14 Não se deixe vencer. Precisamos de você fortalecida e refeita.
15 Ainda há dias encontrei numa enfermaria para tratamento do câncer, alguns irmãos incapazes de formular palavras em que se lhes defina a sede de algum líquido balsâmico e nutriente.
16 Quem sabe você descobrirá um meio de conduzir até eles algum caldo vitaminoso que lhes amenize a garganta atormentada de sede, da sede a algum alimento que lhes chegue, como se fora por milagre, já que, na essência se reconhecem muito bem tratados com todos os recursos à mão.
17 Não existe, porém, telepatia entre o câncer da garganta e a enfermagem eficiente.
É preciso um pouco de intuição que só o amor consegue cultivar.
18 Comecemos pensando. Não se entregue ao serviço de uma só vez.
Necessitamos conquistar o espaço de trabalho, buscando a simpatia daquelas almas elevadas que se consagram aos doentes…
19 Dia a dia, anotando as tarefas, passo em passo.
Precisamos ver você fora do repouso que não é… Você saberá compreender-me e saberá que seu irmão não permanece naquela vírgula enorme na escrita do coração que era enfermo sem que eu soubesse. Continuaremos juntos.
20 O nosso Renato é nosso amigo e os meus sobrinhos são nossos tesouros.
21 Disse você, a Marcília, que estava saudosa de uma carta longa de minha parte…
Pois a carta está na caixa postal de nossa união mais íntima, com endereços a nós dois, porque qualquer trabalho de beneficência a que você se dedique será seu e meu…
22 Peço à Aparecida e à Marcília confiança em Deus e recoloquemos nossas mãos no arado do amor ao próximo.
23 Não importa que sejamos compreendidos ou não.
O serviço é de agora. As reações externas ficam para depois.
24 Querida irmã, na certeza de que você me entenderá e me aceitará, neste noticiário do carinho fraterno, registro aqui para você a imensa ternura e toda a confiança de sempre do seu irmão.
Ricardo Tadeu
(Mensagem recebida pelo Médium Francisco Cândido Xavier, ao final da reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 15-5-1981, em Uberaba, Minas Gerais).