O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Militares no Além — Autores diversos


37

Nunca nos interessou a vida estagnada da retaguarda

02/01/1952


1 Meu caro Aurélio, minha querida Julinha, meus netos, que Deus nos favoreça e abençoe.

2 Sinto o orgulhoso contentamento de abrir o serviço de intercâmbio espiritual em nosso grupo no ano entrante, em nome de vários amigos espirituais que me delegaram semelhante alegria, por espírito de gentileza. E começo, por isso, o nosso labor, rogando a Jesus nos abençoe e nos fortaleça, sustentando-nos a caminho de nosso aperfeiçoamento na bendita luz do Evangelho de amor. Que vocês todos, no decurso de 1952, encontrem neste círculo abençoado de oração a mesma felicidade dos anos anteriores, são os meus votos sinceros e ardentes, na emissão dos quais empenho a alma toda.

3 Vocês escolheram a “melhor parte” da existência terrestre, mantendo por princípio habitual o trabalho da prece em casa e esta realização fala muito alto ao espírito de nós todos. Peço, assim, a Jesus nos conceda no tempo a graça de prosseguir trabalhando pela nossa elevação na obra assistencial aos nossos amigos e irmãos encarnados e desencarnados, que ainda sofrem. Sejam para eles, desditosos companheiros de nossa marcha, os nossos primeiros pensamentos de fraternidade e socorro nesta primeira noite de serviço evangélico, na paz e na elevação que buscamos.

4 Meu querido Aurélio, estamos a postos. Compreendemos a sua luta que, por vezes, tende à natural impaciência de quem se guarda em longo roteiro de tratamento. Sei como lhe incomodam as dificuldades orgânicas. Entretanto, meu filho, é indispensável saber tolerá-las com destemor e paciência, a fim de que possamos incorporar ao nosso patrimônio do futuro todas as lides e experiências de agora. Tenhamos calma, bastante serenidade.

5 Entendo-lhe os desajustes porque de todo o meu tempo de caserna, ou de luta, o hospital ou o descanso compulsório eram para mim duas impropriedades manifestas, mesmo porque, habituados ao fogo da frente, nunca nos interessou a vida estagnada da retaguarda. Contudo, meu filho, passaram os dias. A morte trouxe-me visão nova e hoje reconheço que o tempo de concórdia e refazimento para o corpo físico é uma necessidade em todos os climas e situações. 6 Pode parecer-lhe parada a vida, afigurando-se que as suas horas são menos úteis à humanidade. Todavia, quero afirmar-lhe que não é assim. Na quietude e na moderação, você é constrangido a pensar muito e intensamente, trabalhando de maneira intensiva com as suas forças internas. 7 Às vezes, e esse é o seu caso, é preciso interromper as atividades múltiplas do caminho para que alonguemos o olhar até nós mesmos, de modo a restaurarmos variados mecanismos de nossa saúde física e de nosso equilíbrio espiritual. Felizmente, você tem tido a calma imprescindível à situação, mas peço-lhe cuidar de sua própria atitude mental, sem perdê-la. 8 Da serenidade e da harmonia depende a segurança nos processos de auxílio em que você tem sido o nosso doente mais destacado. Tenhamos serenidade e esperemos. A mente alegre e otimista é expressivo manancial de cura. 9 Não olvide o seu belo sorriso de companheiro ideal, os amigos, os filhos e os descendentes. Precisamos de criaturas que amparem o estímulo de viver e, neste capítulo, sabemos que você prima invariavelmente pela boa vontade, pelo impulso generoso e pela gentileza constante.

10 O Brasil está cheio de gente que vive se destruindo. Raros sabem cultivar a felicidade, construindo para o bem comum. Você, diariamente, vem recebendo nossa atuação espiritual a benefício do seu soerguimento geral. Não desanime. Amigos diversos estão cooperando para que você regresse mais forte e bem disposto, com a sala enorme do coração plenamente aberta ao bem-estar de todos. O Rio, ainda e sempre, é a nossa casa de trabalho mais ativo e eficiente, porque numa cidade de proporções tão grandes quanto a capital da nossa República encontramos verdadeiros purgatórios, em cujas labaredas frias podemos exaltar a caridade e a fraternidade na silenciosa sementeira do bem com Jesus.

11 Com o auxílio divino, você vai seguindo muito melhor e contamos com o dia de amanhã para que o vejamos plenamente fortalecido. Quanto à minha querida Julinha, esteja ela convicta de que o paternal amigo de sempre não a esquece. Os filhos são as cordas mais sensíveis do nosso coração na Terra e enquanto um só deles se demora no Planeta acredito que raros pais terão coragem de empreender a renúncia aos serviços da Terra, porque, em verdade, mais vale padecer em companhia deles que desfrutar o paraíso de que se achem ainda ausentes.

12 Considero a nossa Julinha muito melhor e mais forte. O estágio em Minas fez-lhe grande bem, mormente no que se refere às impressões nervosas que, dolorosamente, se refletiam sobre o campo reumático, de natureza comum. Qualquer estado de desequilíbrio corpóreo pede silêncio e paz, a fim de desaparecer e no Rio a luta de nossa Julinha era efetivamente de inquietar! Para nossa felicidade, vai se reconquistando progressivamente, ensejando maior cota de influenciação benéfica de nossa parte. Está melhor, mais refeita, e contamos para breve tempo com o seu pleno reajuste no continuísmo edificante de suas tarefas habituais.

13 Com respeito a ela, meu caro Aurélio, peço a você não se preocupar ao ponto de preocupá-la. Julinha naturalmente, experimentou grandes e inevitáveis fadigas do corpo e é razoável este período de restabelecimento. Com a divina cooperação, partida de nossos maiores, tudo se renormaliza, dia a dia. Esperemos pela vontade de Deus, em qualquer tempo, condição e lugar.

14 Aos meus netos, deixo igualmente a minha mensagem de alegria e de paz. Rogo a Deus para que o nosso Rômulo, neto e filho dedicado que vocês me trouxeram, esteja fortalecido contra os embates da sombra. n Quem administra no Brasil de hoje de modo geral conhece as mais duras experiências. Há, por toda parte, o fermento da discórdia, induzindo à indisciplina e à rebelião, e guiar um barco nesse mar revolto e enfurecido não é serviço fácil ou agradável. 15 Com a graça do Alto, porém, tem ele sabido usar a prudência e a tolerância em alto grau e esses remédios são realmente muito importantes quando a desordem generalizada entre responsáveis e irresponsáveis lavra como incêndio devorador em todas as linhas do trabalho coletivo. Fazemos todos nós ardentes votos para que ele se conserve no mesmo nível de dignidade em que, espontaneamente, se colocou. Que o Mestre nos abençoe.

16 Acredito que a minha carta não deva ser mais longa. Se obedecer ao coração, observo que há um rio inestancável de impressões, opiniões e comentários para deixar no papel através do lápis. Mas o tempo é uma dádiva do Senhor e devemos venerá-lo quanto possível ao nosso entendimento.

17 Feliz ano novo a você, à Julinha e aos nossos. E esperando que Jesus nos estenda braços compassivos e salvadores, a fim de que sejamos fiéis aos nossos compromissos espirituais com a Vida Maior até o fim de nossas provas redentoras, abraça-os com infinito carinho o velho amigo que os acompanha afetuosamente,


Pêgo Junior



[1] Nota da Organizadora: Em referindo-se ao meu pai, Rômulo Joviano.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir