05/05/1948
1 Meu caro Aurélio, minha prezada Julinha, Deus lhes conceda muita saúde e paz, bem-estar e bom-ânimo, abençoando-os junto de quantos nos são queridos ao espírito nos caminhos da vida.
2 Venho visitá-lo, especialmente, meu estimado Aurélio, trazendo-lhe ao coração a certeza de nossa aprovação às suas realizações na Cruz. Com razão, o título de benemérito lhe cabe ao nome de amigo devotado da instituição confiada ao nosso carinho e vigilância.
3 Não pode calcular o contentamento de seus amigos deste Plano, pela receptividade que demonstrou nos últimos tempos, quando nos foi necessário, tantas vezes, terçar armas silenciosas de vigilância contra as surpresas desagradáveis que nos ameaçaram a organização. Felizmente, seu espírito prevenido e generoso não dormiu nas ocasiões difíceis. Nosso patrimônio foi preservado, nossos programas cumpridos. As lutas da atualidade exigiram a presença de uma observação acurada quanto a sua, habilitada a penetrar na intimidade dos problemas. 4 Tão grandes, Aurélio, foram os serviços que o seu devotamento nos prestou à causa que, sinceramente, lastimamos sua compulsória retirada da Provedoria. As exigências orgânicas, contudo, assim reclamavam. Aceite, meu amigo, este período de repouso, com a resignação do soldado que se vê compelido a respeitar superiores injunções. Sei quanto lhe pesa a obrigatoriedade do descanso. Sua formação não se compadece com a poltrona permanente. Precisa de movimentação, de atividade, serviço e luta. 5 Entretanto, momentos surgem nos quais devemos ceder aos imperativos da vida e da experiência humana. A hora recomendava certa inatividade para o seu campo físico e esperamos esteja tranquilo. Aqui estamos, pois, a fim de felicitá-lo pelas duras batalhas sem sangue que sustentou, garantindo-nos a integridade da Cruz que ampara os militares do Brasil. 6 Seus testemunhos de inteligência não foram menores que os seus sacrifícios pessoais e orgulhamo-nos, com lealdade, de sua cooperação digna e eficiente. Seus antecessores sentem-se honrados e felizes pelo concurso que nos trouxe a continuidade da obra de benemerência, espiritualidade e educação através do tempo. Agora aguardamos que se refaça para retomar o leme. Quem, como nós, não sabe viver com a vocação da disponibilidade encontra razões de serviço em toda hora e em toda a parte!
7 Temos muito a fazer e não podemos prescindir da colaboração de sua companhia e de sua elevada compreensão. Achamo-nos diante de um mundo em indescritível perigo! Todas as nossas forças espirituais, nos Planos superiores, permanecem conjugadas no sentido de adiar a nova conflagração planetária — porque uma terceira grande guerra, neste século, significará a morte de muitos milhões, com o apagar de grandes luzes da civilização que nos custou séculos de suor e renunciação com vigilância e lágrimas. 8 Entretanto, não duvide. A hora mundial é muito grave e não podemos olvidar a necessidade de entrelaçar corações e pensamentos em torno de Jesus Cristo. Reconheça, pois, que não o sentimos por soldado distante e sim por batalhador em pequena trégua, pronto a reassumir o posto na primeira oportunidade. Guarde a tranquilidade no espírito e descanse nas montanhas mineiras com o proveito possível, convicto de que fez por merecer a ternura fraternal com que por nós, seus companheiros de abençoada luta, é seguido de muito perto.
9 Quanto esteja ao seu alcance, não se afaste espiritualmente da Cruz. Distribua sempre os valores de sua experiência e de sua inspiração. O progresso de uma instituição aumenta a série dos problemas e das dificuldades no setor da prevenção e da defesa. Nossos amigos não podem dispensar-lhe os sãos conselhos.
10 Muito contente, portanto, deixo-lhe o meu abraço de amigo, agradecendo ao Senhor a alegria de haver encontrado em sua dedicação o concurso de um filho, que por mais de 40 anos me estende os braços com a devoção e a espontaneidade de um grande e abençoado entendimento.
11 A nossa abnegada irmã Amélia continua prestando toda a assistência necessária à sua saúde e pede-lhe serenidade e confiança. n Graças a Deus, a tormenta que lhe obscureceu o caminho em setembro e outubro de 1947 cedeu lugar à paz que todos nós desejávamos.
12 Engracinha, presente, pede-me assinalar seus votos de boas-vindas à Julinha, prometendo escrever depois.
13 Peço ao supremo Senhor que nos proteja a todos e nos conserve os corações em sua santa paz. E renovando-lhes os meus votos de muita paz e bem-estar, reúno-os num grande abraço de afeto e reconhecimento,
Pêgo Junior
[1] Nota da Organizadora: Em referindo-se a Amélia, minha bisavó materna, mãe do vovô Aurélio.