17/01/1945
1 Meus caros filhos, que a paz divina felicite a todos, imprimindo-lhes novas energias espirituais no desempenho das tarefas a que foram chamados. Sempre que a oportunidade me oferece recursos favoráveis, venho visitá-los, prazerosamente. Todavia, o ensejo da permanência de Julinha e Aurélio no santuário da família constitui uma obrigação para que eu lhes fale mais diretamente, vazando o meu coração no espírito amigo de vocês todos.
2 Sejam para você, meu caro Aurélio, as minhas palavras iniciais, no sentido de felicitar-lhe a ação decidida em nossos círculos de trabalho. Quero dizer de sua colaboração efetiva na Cruz, através da qual tantos servidores devotados passaram trabalhando. São muitos os companheiros que cooperam consigo na obra de supervisão dos nossos interesses coletivos. Creia que a nossa tarefa — a sua na instituição propriamente considerada, e a nossa de cooperadores indiretos, — é bem grande e que a colheita de semelhante semeadura não pode ligar-se às questões de imediatismo do mundo.
3 Em sua experiência de provedoria terá notado como é difícil esclarecer assuntos e harmonizar temperamentos heterogêneos para os mesmos fins. Por vezes, Aurélio, e digo com conhecimento pessoal, é mais penoso administrar no campo da paz que movimentar energias em campo de luta. Aliás, é forçoso reconhecer que isso é natural! A batalha silenciosa dos princípios educativos na vida comum é de todos os tempos e condiz com a nossa própria evolução para a vida mais alta! Urge, porém, não desanimar! 4 O mundo atravessa um período de crises verdadeiramente desastrosas! Desejaria comentar com vocês a realidade da situação, mas não posso. Há limites para a nossa ação verbalística e não devo transpô-los sem graves consequências. Creia, todavia, Aurélio, que a luta de agora na Esfera do homem é das mais graves de quantas tiveram por palco a atual civilização. 5 Oh! A perturbação no ensarilhamento das armas não tem a ordem que caracteriza o início da batalha! É muito difícil ganhar a paz! E os organismos internacionais experimentam comoções de vulto e o Brasil não pode fugir a esse índice de renovações. Como aconteceu no passado, trabalham os gênios espirituais da pátria por evitar-lhe hecatombes angustiosas, entretanto, são tão grandes os conflitos que se esboçam no mundo terrestre em geral que não podemos efetuar previsões de modo algum. 6 O regime da atualidade veio estabelecer um parêntesis de trabalho e de continuidade administrativa, no propósito de preparar a nação frente aos tempos novos, mas a verdade é que Diógenes continua de lanterna acesa procurando os homens para as responsabilidades que sobram em todos os setores do progresso e da edificação nacionais. n As situações melindrosas não faltam, enquanto as tarefas atendidas vão escasseando cada vez mais. 7 Longe de nós o derrotismo, mesmo porque sabemos que um país jovem quanto o nosso não pode realizar os milagres de trabalho que somente os povos mais antigos conseguem concretizar! Mas palpita em nossos espíritos o desejo sadio de contribuir com as forças ao nosso alcance, a fim de que o futuro da humanidade e da nação atinja melhores dias. O momento é de perturbações subterrâneas muito amargas. Entretanto, estamos confiantes na proteção de Deus.
8 Refiro-me a semelhantes assuntos para dizer-lhe que o nosso serviço na Cruz é sagrado. Centro beneficiário de servidores efetivos da construção nacional, não pode ser desamparado de nossos esforços mais ativos. Não se desanime, portanto, e aceite, meu filho, as incumbências administrativas, por mais pesadas que sejam. Velaremos por sua saúde, por seus trabalhos! 9 Firmeza e dedicação são a nossa senha em serviço. Nossos devotados amigos daqui estão cooperando conosco! Prossigamos! Sua obra missionária na instituição fixará programas edificantes e nós agradecemos ao seu espírito comovidamente, rogando ao Senhor que o ilumine sempre, multiplicando-lhe as energias abençoadas!
10 Quanto a você, minha querida Julinha, trago-lhe paternal abraço pela invejável organização de amparo aos cegos, a que você se consagrou, junto de Engracinha! Cada vez que você acende claridades de raciocínio no cérebro dos que não possuem luz para os olhos está renovando e aumentando a sua própria luz espiritual! 11 Todo o bem que praticamos, Julinha, se reverte em nosso benefício. É da lei que todo aquele que dá com amor seja recompensado, centuplicadamente, pela própria vida que, no fundo, é amor de Deus, Criador e Pai nosso! Há tantos amigos deste lado ajudando a vocês que, francamente, é mais razoável que não lhe conheça você o seu número, a fim de que não se estabeleçam perturbações na obra em curso. 12 Tenho a dizer-lhe que a nossa irmã Áurea Celeste vem trabalhando ativamente em nossa Esfera, no sentido de manter intacta a obra de amor cristão que a sua nobre alma conseguiu instituir na Terra e vem apelando para todas as cooperadoras sinceras e dedicadas da casa de João Evangelista. n Já a visitei, junto de amigos espirituais, e ela falou-me em seu concurso com muito carinho! 13 Desdobremo-nos, minha filha, a serviço de todos. O que se fizer no bem efetuar-se-á para o nosso próprio bem. Sua mãe vem auxiliando Esther quanto possível e todos nós, embora interessados na aquisição de luz eterna, continuamos operando e cooperando pela tranquilidade familiar. n
14 Adeus, meus filhos. Nossos amigos presentes saúdam a todos. Registro com prazer semelhantes saudações, deixando-lhes a expressão de nossa amizade fiel. Que Deus os conserve em paz, concedendo-lhes muito boa saúde e bem-estar de espírito, são os votos do pai e avô muito amigo de sempre,
Antoninho
[1] Notas da Organizadora: Refere-se a Diógenes de Abdera (423-327 a.C). ( † ) “Ele era uma figura atípica que, incompreendido pelos contemporâneos de sua época, apontava os defeitos de seu tempo. Para isto, fazia uso de uma lanterna acesa em pleno dia, dizendo: “Procuro um homem honesto.” Disponível em http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/33638. Acesso em 03 fev. 2008.
[2] Refere-se a Áurea Celeste, fundadora do Asilo Espírita João Evangelista, localizado na Rua Visconde Silva, 96, em Botafogo, Rio de Janeiro | RJ. O asilo recebe meninas órfãs e vovó Júlia, por muitos anos, deu, gratuitamente, aulas para as meninas.
[3] Em referindo-se a Esther, irmã da vovó Júlia.