Após a triste manhã de 7 de janeiro de 1355, pairava sobre Portugal uma atmosfera carregada de nuvens ameaçadoras, antecipando décadas de incertezas. Não havia alegria, os dias se tornaram cinzentos, o sol se recolhera. A vida corria tensa, pesada…
De fato, o ano se iniciara pleno de prenúncios nada animadores para o príncipe herdeiro ( † ) e Inês de Castro. ( † )
Naquele trágico 7 de janeiro de meados do século XIV, a Idade Média seguia seu rumo, já distante da noite medieval que assinalou o período de 400 a 800 d.C., trazendo em seu bojo a conquista da definição de algumas nacionalidades ocidentais, como ocorreu com a antiga Lusitânia. ( † )
A dinastia dos Afonsos ( † ) estava no seu apogeu. Alcançada a estabilidade político-administrativa do reino, sobretudo após a expulsão dos mouros, definida pela Batalha do Salado, ( † ) Portugal caminhava com a mansa tranquilidade das águas do Mondego. ( † ) Suas fronteiras internas já delineadas e as bandas ocidentais abrindo-se para o mundo desconhecido favoreciam a saga dos desbravadores marítimos, preparada com descortino por D. Dinis, ( † ) com a semeadura dos pinhais da Leiria. ( † )
Inês já não vivia, brutalmente decapitada que fora pela incompreensível decisão de Afonso IV, ( † ) sustentada nas sempre frias e convenientes razões de Estado.
O corpo inerte, carinhosamente recomposto e vestido por piedosa freira do Convento de Santa Clara, ( † ) aguardava a prevista chegada de D. Pedro, o I de Portugal, ( † ) retornando da então tradicional caçada nos arredores de Coimbra, a que se lançara com o cunhado e pequeno séquito.
O infante, mesmo advertido por Inês dias antes e, nos últimos tempos, por sua mãe, a rainha Beatriz, ( † ) e amigos próximos, a respeito do risco que a companheira corria, fora tranquilo à festiva caçada em Penacova ( † ) e imaginava, pressuroso, voltar e rever Inês e os filhos.
Inês, contudo, repousava no Plano Espiritual, diretamente socorrida por Isabel de Aragão, a Rainha Santa. ( † )
Aos motivos que embasaram o cerne da determinação amarga de D. Afonso IV voltaremos a nos referir mais tarde.
São o corolário das paixões humanas, do poder e das arcanas razões de Estado que deságuam em decisões inapagáveis na consciência de quem as perpetrou.
Vamos à descrição do triste acontecimento segundo o relato da história e as informações espirituais.
Caio Ramacciotti