O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Mensagens de Inês de Castro — F. C. Xavier / Caio Ramacciotti / Inês de Castro


1

Carta de Inês de Castro ao Rei D. Pedro I ( † )
de Portugal e Algarves

1 Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda a bênção da paz com todos aqueles que vos formam o reino de amor.

2 Crede, amado senhor e rei meu, que muito me custa falar-vos, através deste documento do coração, em que tento transmitir-vos o inexprimível com palavras criadas pelos homens para definir pensamentos e formas tradicionais.

3 Entretanto, há de valer-se quem necessita comunicar-se dos instrumentos de que disponha no espaço e no tempo dos reinos humanos, e outro recurso não me resta senão este para dizer-vos, com reverência e humildade, quanto me vai nas profundezas da alma, de respeitoso amor por vós, num momento em que furiosas tempestades de ideias e sentimentos se desenfreiam nos horizontes de nossa vida — vida de Espíritos imperecíveis atualmente compromissados na causa do Cristianismo Redivivo.

4 Não vos escrevo, amado rei e senhor meu, sob o domínio das paixões e dos infortúnios em que se me perdia o espírito agoniado, depois da trágica manhã de 7 de janeiro de 1355, quando afrontosa sentença de morte me afastou violentamente de vossa dedicação e dos filhos que me destes.

5 O tempo, que não trabalha em vão, propiciou-nos outras estâncias de atividade, nos séculos que se contam entre as sombras medievais e a nossa era de luz.

6 E o tempo enxugou as nossas lágrimas e apagou as nódoas dos ressentimentos que, por muito tempo, remanesceram em nós ambos, ante aqueles que se ergueram no mundo, na condição de inimigos gratuitos de nossa felicidade.

7 Dirijo-me a vós, amado soberano, para reafirmar quanto vos amo e amarei sempre.

8 Sabereis compreender que não faço isso para torturar-vos com intentos impróprios à vossa dignidade, o que seria esquecimento evidente da veneração que vos devo. Além do mais, escrevo à vossa benemerência, da Vida Espiritual, com a vossa aprovação e conselho, antes que o berço terrestre de novo vos prendesse às teias e dificuldades construtivas da existência humana, para realizar o trabalho que julgastes o melhor para vós, neste século de tremendos conflitos espirituais.

9 Reconhecereis, assim, amado soberano, que não vos escrevo para reacender as chamas contidas de amor que se não podem ser extintas pela perenidade das causas que as nutrem, devem ser guardadas no santuário da alma para serem libertas no tempo e no espaço que lhes serão próprios.

10 Graças a Deus, a Providência Divina vos instalou num lar generoso e santo e entregou-vos à guarda de nobre dama, que vos merece o respeito e o carinho, com os filhos que tanto amamos.

11 Meu intento, com o favor de Jesus Cristo e com a vossa real mercê, é o de declarar-vos que tenho cumprido o que vos prometi na vida Maior para a qual voltareis.

12 Sei que, em outros encargos, estivemos nos séculos que medeiam as épocas de que vos falo e estas outras nas quais vos escrevo. Mas, por solicitação da veneranda Isabel de Aragão ( † ) (a Rainha Santa que foi na Terra a mãe venerável de vosso respeitado pai, Dom Afonso IV, ( † ) Rei de Portugal e Algarves), com ele ajustastes o regresso ao Plano Físico para a elevada missão de realizar a imunização espiritual possível dos povos de linguagem lusitana, contra a violência e a crueldade, numa bandeira mesmo limitada de obreiros do bem, que se consagrasse à sementeira ou replantio das ideias e dos princípios do Senhor Jesus, o Rei de Todos os Reinados da Terra a quem servimos.

13 Se me for permitido, aspiro unicamente, no que me toca aos compromissos assumidos convosco, a dizer-vos que trabalhei nestes cinquenta anos de atividade constante de nosso querido amigo e benfeitor, Francisco Cândido Xavier, n trazendo a vossa imagem no coração.

14 Vossa presença em mim com os nossos filhos, ainda pequeninos, D. João Álvaro, ( † ) D. Dinis ( † ) e D. Beatriz, ( † ) me foram lembranças vivas e inapagáveis, desde os primeiros dias da vossa atual existência.

15 Procurei-vos, como quem busca tesouros ocultos somente conhecidos de quem os teve um dia nas mãos.

16 Éreis vós e nossas amadas crianças uma constelação de estrelas humanas de que me reconhecia agora irremediavelmente distante.

17 Seria fastidioso para nós recordar os pormenores do nosso reajuste à compreensão dos deveres que nos aguardavam.

18 Desejo tão somente dizer-vos que, se somos chamados pela Providência Divina a trabalhar na governança externa de coletividades várias no mundo, tempos existem nos quais essa mesma Providência nos chama ao trabalho, em favor dessas mesmas comunidades, na governança e sustentação das ideias de renovação e progresso, a beneficio da extensa família humana.

19 No império das ideias renovadoras, dentro do qual vosso amado pai, D. Afonso IV, com a proteção da Rainha Santa, se fez um respeitado soberano pela força do trabalho e pela lealdade ao dever que ele personifica, responsabilizando-se por imensas áreas de serviço espiritual, e compartilhando convosco a colaboração com ele, embora me encontre espacialmente distante, quero dizer-vos que sempre estivestes em mim, qual permaneceis até hoje, sem qualquer mudança em meu coração.

20 Decerto, vossa generosidade me permitirá dizer que varei lutas enormes nestes anos que medeiam o vosso nascimento na atual existência e os dias atuais em que vos reencontrei.

21 Se me permitis, amado rei e senhor meu, informo-vos que trabalho sempre pensando em vós, encontrando forças na esperança do reencontro.

22 E digo-vos que, consoante vossos conselhos, na Espiritualidade transitei nos caminhos do século atual que nos distanciou — tempo longo para a saudade e estreito para o trabalho — aprendendo a amar o próximo, como desejáveis.

23 Em cada irmão ou irmã de provas que me buscavam, encontrei o ensejo de sorrir ou auxiliar, segundo as minhas forças — sabendo que, assim agindo, eu vos agradaria se o soubésseis — e em cada criança desamparada que pude abraçar, algum traço encontrei dos filhos amados que tive de deixar.

24 Lembrando a Rainha Santa que nos tomou sob maternal proteção, procurei fazer dos pães e das rosas, que ela tanto amou e tanto ama ainda, o sinal de que eu vos pertencia, já que ela, por amor, se nos fez tutora generosa e maternal.

25 Quando vos reencontrei, ao lado de vosso nobre pai, regozijei-me no Senhor Jesus, porque estáveis amparado contra as intempéries de ordem espiritual deste século de renovação.

26 Agradeci a Deus o haver-vos colocado num lar seguro e enobrecido por valorosa companheira, que vos asserenou as ânsias naturais do coração. Vossa paz era e é a nossa paz.

27 Rejubilei-me com a vossa segurança e alegria no campo doméstico e prometi a mim mesma em nada afligir-vos com lembranças sem razão de ser, porque o passado pode ou deve ser visto, mas sem alterar o presente, para que o porvir seja mais belo.

28 Bastava-me ver-vos feliz para ser feliz.
Entretanto, agora, amado rei e senhor meu, tantas lutas assomaram no império de trabalho confiado ao vosso nobre pai, que não hesito em pedir-vos constância no amor e na cooperação para com ele.

29 Grande parte da corte itinerante de D. Afonso IV, ( † ) o filho de El-Rei D. Dinis ( † ) e da Rainha Isabel, ( † ) está junto de nós outros em reencarnações de trabalho e de elevação.

30 Homens quais Dom Diogo Lopes Pacheco, ( † ) Dom Pero Coelho, ( † ) Dom Álvaro Gonçalves, ( † ) D. Álvaro Pereira, ( † ) D. Pedro Fernandes de Castro ( † ) e muitos outros de Portugal e Castela ( † ) se encontram recorporificados na pequena mas corajosa legião de obreiros em que servimos.

31 As lutas acentuam-se, amado rei e senhor meu, mas agora não são as pelejas medievais que tendes a vencer, e sim as discórdias e as nuvens que se interpõem incessantemente entre a luz e a treva, o bem e o mal.

32 Vosso nobre pai, o mesmo Dom Afonso IV do século XIV, conquanto de consciência enobrecida e limpa, sofre o impacto de tremendas batalhas íntimas e, mais do que nunca, tem necessidade do vosso discernimento e do vosso amor. Perdoai, amado rei e senhor meu, como me ensinastes a esquecer os que se fizeram nossos perseguidores e, embora nunca me anime a rogar vos acovardeis diante do mal, auxiliai Dom Afonso a vencer no comando do império de ideias salvadoras e novas que ele abraçou, em auxílio aos filhos da antiga Lusitânia.

33 Não posso pedir humildade a vós, de quem, há muitos anos, venho tentando aprender essa divina virtude, mas peço-vos permanecer no posto em que o Senhor Jesus, por vosso merecimento, vos colocou.

34 Não tenho o direito de coartar-vos o acesso aos postos do destaque humano, em que sempre soubestes brilhar com louvor e honra, mas, se puderdes e quanto puderdes, ficai nas áreas do governo de Jesus Cristo em que, muitas vezes, comandar significa suportar longas dores em auxílio do próximo.

35 Lembro-me de que ouvi de vossos lábios que o Rei dos Soberanos da Terra, estando no mundo, para governar os corações humanos, aceitou o trono da cruz e a auréola de espinhos.

36 Sei que fareis quanto puderdes para permanecer na batalha em que nos achamos, amparando o vosso progenitor na sustentação do império que ele fundou e defende com a bravura de um jovem na primavera da vida.

37 Sabeis que ele, instintivamente, desejou homenagear-me com uma cópia ou um belo fragmento da Quinta dos Canidelos, ( † ) que me destes, porque amávamos profundamente a amenidade daqueles sítios — um brinde de paternal coração que eu recebi em pensamento, sem poder habitar esse doce refúgio.

38 Tamanha honraria vos é devida pelo amor que sempre me destes e pelas doutrinas de paz e fraternidade, luz e bênçãos que me transmitistes de vossa real sabedoria.

39 Estimaria poder cooperar ainda mais na obra imensa que vosso nobre pai iniciou, sob a inspiração daquela que, ao tempo a que nos referimos, lhe foi veneranda mãe na Terra.

40 Vosso lar é um sagrado refúgio, do qual nunca tive o mínimo propósito de afastar-vos, em favor de meu afeto, porque amando-vos, amo a tudo e a todos os que amais, e honro-me de notar-vos sempre mais nobilitado pela altura em que vos colocastes.

41 Perdoai-me, amado rei e senhor meu, se esta carta vos comunica qualquer vibração de sofrimento que eu não desejaria sentísseis.

42 Vede apenas o respeito e o amor neste longo texto que vos escrevo, amor e respeito que estarão em mim como sempre.

43 E crede, amado rei e senhor meu, que, de qualquer modo, estou incessantemente convosco, rogando aos Céus por vossa felicidade e confiando em vossa real benemerência em meu favor.

44 Deus, o Senhor da vida, nos guarde e nos abençoe hoje e para sempre.


Inês de Castro




Anexo


Coimbra ( † ) — Cenário importante de nossa história. O leitor no capítulo “Fotos históricas”, encontrará outras fotos a respeito, [no livro impresso.]



  [1] Foi justamente em 1977 — ano da comemoração do cinquentenário de seu primeiro texto psicografado, a 8 de julho — que Francisco Cândido Xavier recebeu esta e as outras mensagens de Inês de Castro. [Vide: Túmulos de D. Pedro I e de Inês de Castro.] ( † )


Texto extraído da 35ª edição desse livro, revisto e ampliado pelo autor.

Abrir