1. MEDIUNIDADE E ANIMISMO. — Alinhando apontamentos sobre a mediunidade, não será lícito esquecer algumas considerações em torno do animismo ou conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns em ação.
2 Temos aqui muitas ocorrências
que podem repontar nos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos ou de
efeitos intelectuais, com a própria Inteligência encarnada comandando
manifestações ou delas participando com diligência, 3
numa demonstração que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se
e atuar com os seus recursos e implementos característicos, como consciência
pensante e organizadora, fora do carro físico.
4 A verificação de semelhantes
acontecimentos criou entre os opositores da Doutrina Espírita as teorias
de negação, porquanto, admitida a possibilidade de o próprio Espírito
encarnado poder atuar fora do traje fisiológico, apressaram-se os céticos
inveterados a afirmar que todos os sucessos medianímicos se reduzem
à influência de uma força nervosa que efetua, fora do corpo carnal,
determinadas ações mecânicas e plásticas, configurando ainda, alucinações
de variada espécie.
5 Todavia, os estardalhaços
e pavores levantados por esses argumentos indébitos, arredando para
longe o otimismo e a esperança de tantas criaturas que começam confiantemente
a iniciação nos serviço da mediunidade, não apresentam qualquer significado
substancial, porque é forçoso ponderar que os Espíritos desencarnados
e encarnados não se filiam a raças antagônicas que se devam reencontrar
em condições miraculosas.
2. SEMELHANÇAS DAS CRIATURAS. — Somos necessariamente impelidos a reconhecer que, se os vivos da Terra e os vivos do Além respirassem climas evolutivos fundamentalmente diversos, a comunicação entre eles resultaria de todo impossível, pela impraticabilidade do ajuste mental.
2 Seres em desenvolvimento
para a vida eterna, uns e outros guardam consigo, seja no Plano extrafísico,
preparando o retorno ao campo terrestre, ou no Plano físico, em direção
à Esfera espiritual, faculdades adquiridas no vasto caminho da experiência,
as quais lhes servirão de recursos à percepção no ambiente próximo.
3 Tem cada Espírito,
em vias de reencarnação, todos os meios de que já se muniu para continuar
no círculo dos encarnados o trabalho de aperfeiçoamento que lhe é próprio,
conservando-os potencialmente no feto, 4
tanto quanto possui o Espírito encarnado todas as possibilidades que
já entesourou em si mesmo para prosseguir em suas atividades no Plano
Espiritual, depois da morte.
5 Assinalada essa
observação, é fácil anotar que a criatura na Terra partilha assim, até
certo ponto, dos sentidos que caracterizam a criatura desencarnada,
nas Esferas imediatas à experiência humana, 6
conseguindo, às vezes, desenfaixar-se do corpo denso e proceder como
a Inteligência desenleada do indumento carnal 7
ou, ainda, obedecer aos ditames dos Espíritos desencarnados, como agente
mais ou menos fiel de seus desejos.
8 Encontramos, nessa base,
a elucidação clara de muitos dos fenômenos do faquirismo vulgar, em
que o Espírito encarnado, ao desdobrar-se, pode provocar, em relativo
estado de consciência, certa classe de fenômenos físicos, enquanto o
corpo carnal se demora na letargia comum.
3. OBSESSÃO E ANIMISMO. — Muitas vezes, conforme as circunstâncias, qual ocorre no fenômeno hipnótico isolado, pode cair a mente nos estados anômalos de sentido inferior, dominada por forças retrógradas que a imobilizam, temporariamente, em atitudes estranhas ou indesejáveis.
2 Nesse aspecto, surpreendemos
multiformes processos de obsessão, nos quais Inteligências desencarnadas
de grande poder senhoreiam vítimas inabilitadas à defensiva, detendo-as,
por tempo indeterminado em certos tipos de recordação, segundo as dívidas
cármicas a que se acham presas.
3 Frequentemente, pessoas
encarnadas, nessa modalidade de provação regeneradora, são encontráveis
nas reuniões mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos,
quais se personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem
a si mesmas, a emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que
se externavam noutras épocas, sob o fascínio constante dos desencarnados
que as subjugam.
4. ANIMISMO
E HIPNOSE. — Imaginemos um sensitivo a quem o magnetizador intencionalmente
fizesse recuar até esse ou aquele marco do pretérito, pela deliberada
regressão da memória, e o deixasse nessa posição durante semanas, meses
ou anos a fio, 2 e
teremos a exata compreensão dos casos mediúnicos em que a tese do animismo
é chamada para a explicação necessária. 3
O “sujet” nessa experiência declarar-se-ia como sendo a personalidade
invocada pelo hipnotizador, entrando em conflito com a realidade objetiva,
mas não deixaria, por isso, de ser ele mesmo sob controle da ideia que
o domina.
4 Nas ocorrências
várias da alienação mental, encontramos fenômenos assim tipificados,
reclamando larga dose de paciência e carinho, 5
porquanto as vítimas desses processos de fixação não podem ser categorizadas
à conta de mistificadores inconscientes, 6
pois representam, de fato, os agentes desencarnados a elas jungidos
por teias fluídicas de significativa expressão, 7
tal qual acontece ao sensitivo comum, mentalmente modificado, na hipnose
de longo curso, em que demonstra a influência do magnetizador.
5. DESOBSESSÃO
E ANIMISMO. — Nenhuma justificativa existe para qualquer recusa
no trato generoso de personalidades medianímicas provisoriamente estacionadas
em semelhantes provações, 2
de vez que são, em si próprias, Espíritos sofredores ou conturbados
quanto quaisquer outros que se manifestem, exigindo esclarecimento e
socorro. 3 O amparo
espontâneo e o auxílio genuinamente fraterno lhes reajustarão as ondas
mentais, 4 concurso
esse que se estenderá, inevitável, aos companheiros do pretérito que
lhes assediem o pensamento 5
operando a reconstituição de caminhos retos para os sensitivos corporificados
na Terra, tão importantes e tão nobres em sua estrutura quanto aqueles
que os doutrinadores encarnados se propõem traçar para os amigos desencarnados
menos felizes.
6 Aliás, é preciso destacar
que o esforço da escola, seja ela o recinto consagrado à instrução primária
ou a instituto corretivo, funciona como recurso renovador da mente,
equilibrando-lhe as oscilações para níveis superiores.
7 Não há novidade alguma no
impositivo da acolhida magnânima aos obsessos dessa natureza, hipnotizados
por forças que os comandam espiritualmente, a distância.
6. ANIMISMO
E CRIMINALIDADE. — Os manicômios e as penitenciárias estão repletos
de irmãos nossos obsidiados que, alcançando o ponto específico de suas
recapitulações do pretérito culposo, à falta de providências reeducativas,
nada mais puderam fazer que recair na loucura ou no crime, 2
porque, em verdade, a alienação e a delinquência, na maioria das vezes,
expressam a queda mental do Espírito em reminiscências de lutas pregressas,
à semelhança do aluno que, voltando à lição, com recursos deficitários,
incorre lamentavelmente nos mesmos erros.
3 O ressurgimento de certas
situações e a volta de marcadas criaturas ao nosso campo de atividade,
do ponto de vista da reencarnação, funcionam em nossa vida íntima como
reflexos condicionados, comprovando-nos a capacidade de superação de
nossa inferioridade, antigamente positivada.
4 Se estivermos desarmados
de elementos morais suscetíveis de alterar-nos a onda mental para a
assimilação de recursos superiores, quase sempre tornamos à mesma perturbação
e à mesma crueldade que nos assinalaram as experiências passadas.
5 Nesse fenômeno reside
a maior percentagem das causas de insânia e criminalidade em todos os
setores da civilização terrestre, 6
porquanto é aí, nas chamadas predisposições mórbidas, que se rearticulam
velhos conflitos, arrasando os melhores propósitos da alma, sempre que
descure de si mesma.
7 Convenhamos, pois,
que a tarefa espírita é chamada, de maneira particular, a contribuir
no aperfeiçoamento dos impulsos mentais, favorecendo a solução de todos
os problemas suscitados pelo animismo. 8
Através dela, são eles endereçados à esfera iluminativa da educação
e do amor, para que os sensitivos, estagnados nessa classe de acontecimentos,
sejam devidamente amparados nos desajustes de que se vejam portadores,
impedindo-se-lhes o mergulho nas sombras da perturbação e recuperando-se-lhes
a atividade para a sementeira da luz.
André Luiz