1 Alma querida, escuta
Quando a tribulação te agrave a luta,
Flagelando-te o ser
Tanto quanto desejas elevar-te,
Recorda a Lei de Deus, em toda parte:
— Trabalhar e esquecer.
2 Não te agrilhoes a nuvens do passado,
Nem te aflijas pensando no porvir,
De esperança a brilhar no coração contente,
Renova-te e confia alegremente
No privilégio de servir.
3 Contempla, dos caminhos em que pousas,
No amálgama das vidas e das cousas:
Todos os elementos que te apoiam,
Do Mundo Conhecido ao Mais Além,
Guardam consigo apenas,
A fim de que o progresso sobrenade,
Aquilo que lhes dê continuidade
No trabalho do bem.
4 O astro do dia, a refulgir no tempo,
Quanta vez terá visto sobre a Terra,
Povos e gerações, servos e reis,
Templos e tribunais, ordens e leis,
Nas florações da paz ou nas cinzas da guerra!…
Observa, porém, que o Sol não fala disso
E, ainda hoje e sempre, a resguardar-nos,
Permanece em serviço.
5 O chão silencioso não confessa
Quanta vez engoliu detritos agressores,
Sabemos tão somente que responde,
Onde o lixo, às ocultas, se lhe esconde
Com braçadas de flores.
6 Fertilizando a vida,
A fonte deixa o lodo e tudo olvida,
Para ser água, enfim, clara e singela;
A argila sofre o fogo que a transforma,
Tudo esquece, ganhando nova forma,
Em porcelana rendilhada e bela!….
7 Assim também, alma querida e boa,
Não reclames, perdoa,
E nem exijas, ama!
Se aspiras a encontrar as Alturas do Bem,
No anseio por mais luz que te mantém,
Auxilia e constrói algo mais que o dever,
Porquanto, o lema da felicidade,
Sem que a dor nos deprima ou a queda nos degrade,
Será sempre servir, trabalhar e esquecer.
Maria Dolores
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