O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Maria Dolores — A própria


33

Reencontro no Além

  1 Vagueava no Espaço a pobre mãe suicida.
Apagara, a veneno, a luz da própria vida
Tentando reencontrar o filho que perdera
Em tóxicos letais.
Saudade, ânsia, aflição…
Não suportara mais.
E espírito da sombra, em lágrimas vagueia,
Entre a cegueira e a dor na angústia que a estonteia.


  2 Dias, semanas, meses na loucura
Atravessara, atribulada e errante,
O império do remorso, ante a sombra gigante,
Sem confiança em Deus, infeliz e insegura,
A bradar o estribilho:
— Ah! meu filho, meu filho!…


  3 Até que atormentada, louca e cega
Tateando no Além, eis que se apega
A desditoso irmão, também desorientado,
Que lastimava, em choro, os erros do passado…
Depois de ouvir-lhe os gritos
O pobre respondeu:


  4 — A senhora clamando é mais feliz do que eu,
Seu coração procura um filho muito amado,
Quanto a mim… quanto a mim
Quero esquecer a mãe que tive no passado,
Que me repôs aqui, neste inferno sem fim…


  5 E o pobre continuou, desalentado:


  6 Saí daqui, um dia, a fim de melhorar-me,
Ela me recolheu nos braços com carinho…
Vestiu-me e festejou a júbilos e alarme,
O berço em que eu nascia…


  7 A princípio, embalou-me em canções de alegria,
Entretanto, depois,
Na vida mais profunda entre nós dois,
Segregou-me no mundo, em egoísmo atroz,
Para ela, por fim, na ilusão que levava,
A Terra éramos nós, o amor somente nós…


  8 Criou-me escravo dela e fez-se minha escrava,
Afastou-me de tudo quanto fosse inquietação ou prova,
Em que me caberia
Acender, dentro em mim, a luz de vida nova.
Transformou-me a existência em longa fantasia
Para que eu fosse,
Desde o á-bê-cê da escola,
Um gênio de artimanhas,
Um moço de aventuras e façanhas,
Mas nunca um aprendiz
Que fosse no futuro um homem reto e feliz.


  9 Quando atingi a plena juventude,
Contratou-me instrutores,
Que me ensinassem força, ação, elegância e beleza,
A fim de que, na forma, eu dominasse
Todos os contendores,
Fortes também por leis da natureza…


  10 Deveria, por fim, ver todos muito abaixo,
A minha pobre mãe exigia e exigia
Que eu demonstrasse, em tudo, a excelência de um macho…


  11 Depois, no entanto, veio a derrocada,
O tóxico apanhou-me a preguiça dourada…
Minha mãe jamais quis ensinar-me a sofrer,
Não quis que eu trabalhasse ou prezasse um dever…
Conheci a maldade e os impulsos medonhos
E a morte prematura, arrasando-me os sonhos…
De útil ou de bom nada tenho e nem fiz,
Sou agora, onde estou, um espírito infeliz!…


  12 Ao escutar-lhe a voz e ao conhecer-lhe o nome,
Cai a pobre mulher na angústia que a consome;
Chama o desventurado e arrasta-se-lhe aos pés,
Avançando de bruços,
Ei-la a falar, desfeita em temíveis soluços:
— Agora compreendo… agora sei quem és…
E, em desespero, a voz grita, ante o céu sem brilho:
— Perdoa-me, meu Deus!… Ah! meu filho, meu filho!…


Maria Dolores


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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