1 Perdoa-me, Senhor, se estou cansada
De meus sonhos falidos,
Longe de ti, vagando, estrada a estrada,
Nas muitas quedas de meus tempos idos.
2 Jesus, se posso ainda despenhar-me,
Na treva em que o passado me envolvia,
Que a tua previdência me desarme
Qualquer inclinação à rebeldia.
3 Se ainda posso afundar-me em desalinho,
Replantando ilusões para frutos amargos,
Não me deixes a sós, nos passos do caminho,
Conserva-me no chão de meus próprios encargos.
4 Se agindo ou imaginando, estiver a ferir
Nos gestos sem razão de que ainda me valho,
Guarda-me no dever sem meios de fugir
À escravidão bendita do trabalho.
5 Nas construções verbais a que me entrego
No anseio de encontrar tarefas benfazejas,
Não consintas que eu diga as sombras que carrego,
Induze-me a falar, conforme o que desejas.
6 Quando vacile ou tente desertar
Da luz bendita com que me renovas
Não me deixes sair de meu justo lugar,
Mesmo à custa de crises e de provas.
7 Despoja-me, Senhor, da sombra que me enlaça,
A minha teimosia chega ao fim,
Consente-me entender o que queres que eu faça,
Ajuda-me, Senhor, a esquecer-me de mim!…
Maria Dolores
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