O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Lázaro redivivo — Irmão X


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O anjo da saúde

1 Angustiado, o Homem enfermo invocou a Proteção do Cristo e clamou em lágrimas copiosas: ( † )

— Senhor, ampara-me o coração desalentado no círculo das provas! Esgotaram-se-me os recursos para a resistência… Não posso mais! Minhas noites são prolongadas vigílias, repletas de dor, e meus dias constituem longas horas de aflição permanente! A dor lacera-me as carnes e desarticula-me os ossos… Compadece-te, Senhor meu! Desce um raio de tua divina luz que me restaure a força física e me reerga o coração humilhado! Desiludido de todos os processos de cura, mobilizados na Terra, volto-me para o Céu, esperando-te a inesgotável misericórdia! Ajuda-me, Pastor do Bem! Vê os meus sofrimentos e auxilia-me!…

2 De joelhos e braços abertos, o peregrino soluçava, contemplando o firmamento.

Ouviu Jesus a oração e enviou-lhe o Anjo da Saúde, que desceu, bondoso e prestativo, surgindo aos olhos deslumbrados do infeliz enfermo.

3 Em êxtase, o doente fitou o mensageiro e suplicou:

— Emissário do Médico Divino, lava-me as feridas dolorosas, levanta-me o espírito abatido! Há muitos anos sou um miserável sofredor, embora a minha confiança no Pai de Infinita Bondade! De corpo chagado e apodrecido, sinto que a esperança e a crença desertaram de minhalma! Socorre-me, por piedade, caridoso emissário do Céu!

4 O gênio tutelar afagou-lhe a fronte, compassivo, e exclamou:

— Meu amigo, põe a consciência nos lábios em oração e responde-me! Tens vivido de acordo com a Vontade de Deus, fugindo aos caprichos do coração? Viveste, até agora, amando o Senhor Supremo, acima de todas as coisas, e querendo ao próximo como a ti mesmo? Dedicaste teu corpo e tuas faculdades à execução das divinas leis?

5 Presa do antigo hábito de fugir à verdade, o Homem quis proferir qualquer frase tendente a desculpar-se; entretanto, a presença do emissário sublime empolgava-lhe o ser e não conseguia furtar-se ao império absoluto da consciência. Dominado pela realidade, respondeu em soluços:

— Não!… Ainda não servi às leis do Senhor como deveria… Contudo, Anjo Bom, compadece-te de mim, a enfermidade consome os meus dias, o sofrimento devora-me!

6 O enviado pousou a destra na fronte do mísero, como se intentasse arrancar-lhe a verdade do fundo do coração, e interrogou:

— Estarás, porém, disposto a esquecer, de improviso, o pretérito criminoso? Desculparás, fraternalmente, sem qualquer sombra de hesitação, a todos aqueles que te desejam o mal? Auxiliarás o inimigo?

7 O enfermo dirigiu ao preposto celeste um olhar de terrível angústia, e porque nada respondesse, o mensageiro continuou interrogando:

— Perdoarás sempre, esquecendo ingratidões, injúrias e pedradas? Recomendarás os teus adversários à bênção do Todo-Poderoso, reconhecendo que eles são mais infelizes que tu mesmo, pela ignorância que testemunham? Exercerás a piedade, beneficiando as mãos que te ferem e olvidarás, sem esforço, a boca que calunia?

8 Compelido pelas forças insofreáveis da consciência, o enfermo respondeu, sem trair a verdade:

— Infelizmente, ainda não posso…

— Não emitirás pensamentos desarmônicos, ante a felicidade do próximo? — Indagou o emissário, afável e benevolente.

— Partilharás a alegria do vizinho e a prosperidade do amigo, como se te pertencessem também? Ajudarás ao irmão mais feliz, na consolidação da ventura que lhe coroa a existência?

9 O mendigo da saúde recordou suas lutas interiores, junto daqueles que lhe pareciam mais venturosos, e respondeu, sincero:

— Não posso ainda…

— Terás bastante disposição, — prosseguiu afetuosamente o interlocutor, — para manter viva a própria esperança? Compreendendo a paciência de Deus, que nos aguarda a iluminação há milênios incontáveis, decidir-te-ás a esperar, sem revolta, o entendimento dos teus irmãos de luta, por alguns anos? Saberás calar a desesperação, a fim de auxiliar em nome do Pai Altíssimo, mobilizando as forças que te foram confiadas?

10 O desventurado suspirou e disse com tristeza:

— Ainda não me é possível proceder assim…

Após intervalo mais longo, o Anjo voltou a interrogar:

11 — Cultivarás o silêncio, quando a leviandade e a calúnia espalharem palavras loucas em torno de teu coração? Defenderás a saúde, evitando as reações invisíveis de pessoas que poderias ofender com as falsas e delituosas apreciações verbais?

— Ainda não sigo semelhante caminho! — Exclamou o infortunado.

12 — Poderás viver, — continuava o mensageiro, — no legítimo respeito à Natureza, conservando o teu vaso carnal de manifestações na sublime posição de equilíbrio, através da temperança, e cumprindo com fidelidade o programa de serviço, em benefício de ti mesmo e dos semelhantes? Experimentas o prazer de ser útil, sinceramente despreocupado das atitudes alheias de gratidão ou recompensa?

— Ainda não! — Murmurou o interpelado em tom angustioso.

13 O emissário envolveu o infeliz num olhar de compaixão infinita e acrescentou:

— Oh! Meu amigo, ainda é cedo para deprecares o socorro dos mensageiros da saúde! Se ainda não sabes viver, perdoar, esperar, compreender, ajudar e servir, de acordo com a Vontade do Altíssimo, ainda lutarás com a enfermidade, por muito tempo. Por enquanto, não peças vantagens que não saberias receber! Roga ao Senhor te conceda a energia necessária para que te afeiçoes à lei do equilíbrio e às exigências da reflexão!

14 Em seguida, o emissário endereçou-lhe carinhoso gesto de adeus. O infeliz, entretanto, buscando retê-lo, exclamou em soluços:

— Oh! Enviado do Céu, confiarei em Jesus! O Anjo contemplou-o, bondoso, e respondeu ternamente:

— Sim, eu sei. Isto, porém, não basta. É necessário que Jesus também possa confiar em ti…

E afastou-se, para dar conta de sua missão, nas Esferas mais altas.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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