O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Lázaro redivivo — Irmão X


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Resposta leal

1 Você, meu amigo, num gesto de confiança excessiva, me pede orientação e comenta o labirinto a que chegou depois de muitas aspirações e fracassos no caminho da vida. Com gentileza, você acrescenta: — “Se o irmão não puder faze-lo, outro amigo poderá tomar-lhe o lugar. Preciso receber um conselho do Plano invisível.” ( † )

2 Entretanto, o mesmo receio que me assalta invade o coração de outros companheiros daqui, que, como eu, não se sentem à altura de fornecer diretrizes em caráter absoluto. Em verdade, habitamos o Plano invisível aos olhos de vocês, que ainda permanecem na carne, mas não nos encontramos na Esfera da sabedoria que tudo vê.

3 Dizia Oscar Wilde ( † ) que, ministrando bons conselhos, geralmente damos a outrem aquilo de que a nossa vida mais necessita. É um vício velho da Humanidade. Muitas vezes, na Terra, ouvi também dizer que os bons cobradores, habitualmente, são maus pagadores. A máxima faz-nos lembrar as pessoas férteis de advertências corretas ao próximo e necessitadas de orientação para si mesmas.

4 À medida que crescemos em conhecimento superior, ilumina-se-nos o entendimento para as situações mais difíceis. É aí que descobrimos a realidade das posições evolutivas e começamos a enxergar as criaturas nos diferentes degraus de compreensão que conseguiram alcançar.

5 Como poderia, pois, traçar-lhe caminhos particularizados à ação?

6 Diz você, esposo preocupado de uma jovem doente, com quem se casou em segundas núpcias, e pai de quatro filhos rebeldes que ficaram sem mãe, que pretende vender a sua casa na cidade e transferir-se para o campo, atendendo às necessidades de saúde da companheira. E conta-me suas dificuldades com a ingênua confiança do irmão menor, que relaciona obstáculos e inibições diante do irmão mais velho, angustiado por não dispor de recurso para a solução necessária. 7 Afirma você que se encontra desempregado, há dois anos, em virtude da perseguição de criaturas ingratas, que lhe movem um processo humilhante por faltas que não cometeu. Além disso, acha-se esgotado por vicissitudes diversas, cercado de credores exigentes, que lhe pedem o resgate imediato de contas vultosas, situação essa agravada por uma úlcera duodenal confirmada por várias radiografias. 8 No campo moral, segundo a relação de seus angustiosos pesares, sua luta não é menor, nem mais triste. Viúvo ainda jovem, com quatro crianças, das quais a maior conta, no momento, apenas doze anos de idade, viu-se forçado ao segundo matrimônio, porque seus parentes fugiram dos órfãos de mãe. 9 Considerando inoportuno o recurso às casas caridosas, em vista de suas noções dignas de pai responsável, você desposou uma jovem que o auxiliou, durante três anos consecutivos, numa sala de costura do próprio lar, dividindo-se, de muitos modos, para atender aos seus interesses de homem de bem e às exigências dos seus filhinhos, conservando apenas o título de madrasta. 10 Na faina de cumprir obrigações pela tranquilidade da casa, a pobrezinha adoeceu gravemente, ameaçada pela tuberculose que lhe ronda o organismo. Aconselhou-lhe o médico o ar do campo, mas os seus graciosos rebentos, convertidos em pequeninas feras ingratas, opõem-se à medida, atormentando-lhe o coração de pai afetuoso e sensível.

E você pergunta, — “que farei?”

11 Comove-me o seu sofrimento, mas não me espanta o quadro de provações redentoras em que foi envolvido. Há criaturas lutando com maiores obstáculos e vítimas de maiores tormentos. E se respondo à sua carta, minudenciando o assunto, é que uma só particularidade de suas palavras me provocou enorme estupefação: o seu propósito de suicídio. Isso é, efetivamente, doloroso e terrível. 12 De todas as lutas abençoadas do momento, esse, meu amigo, é o único ponto negro de sua história. Desde os grandes profetas que precederam o Cristo, sabemos que o tempo se modifica, da manhã até ao crepúsculo, da noite até à alvorada. Cada dia tem seus berços e túmulos novos. Toda a paisagem de suas preocupações pode mudar-se num instante. Esse pensamento deve consolar o seu mundo íntimo, porque Deus não é Deus de imobilidade e indiferença: a vida move-se ao influxo de seu divino amor.

13 Você, porém, pede-me orientação particularizada, definida.

Que conclusões esperará, porventura, de nós?

14 Não estamos, aqui, à frente de oráculos infalíveis. Permanecemos esforçando-nos igualmente por eliminar as consequências deploráveis que os nossos atos geraram no passado e trabalhando pela aquisição de valores substanciais para a vida infinita. 15 E, como não disponho de outros conselheiros, a não ser a lógica e o bom-senso, creio que para o seu caso com a Justiça não deve esquecer a colaboração de um advogado eficiente, sem dispensar o concurso dum bom médico para o seu caso clínico. 16 E procure ajudar a sua companheira devotada, removendo-a para o campo, depois de ouvir um técnico agrícola sobre a compra de sua propriedade rural. 17 Para aliviar os seus desgostos de pai, adquira uma vara resistente que lhe faculte reajustar a educação doméstica dos meninos. Também fui pai e tive muitas ilusões quanto a prováveis direitos das crianças. É funesto engano acreditar que a gente miúda deva governar a colmeia caseira; antes do direito que receberá com o tempo, é preciso ensiná-la, pelos processos cabíveis, a cumprir as obrigações inadiáveis, ainda que semelhante atitude suscite a reprovação indébita de nossos melhores amigos.

18 Se encontrar razoabilidade em minhas lembranças, faça isso e espere o futuro, sem descansar as mãos e sem esquecer que uma fisionomia alegre e otimista constitui um dos ângulos básicos no edifício do êxito. Entretanto, se julga meus despretensiosos conceitos ineficientes e inadequados, proceda como melhor entender, certo de que você e eu somos filhos do mesmo Deus e ambos possuímos um bem celeste que é a liberdade. Use-a, de acordo com o seu ponto de vista, e aguarde os resultados.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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