1 Quem sou eu? Quem sou eu? No abismo escuro
Do meu atribulado pensamento
Sinto ainda as áscuas do pavor violento
Em que andei como nau sem palinuro!
2 E… ouço uma voz: “tu és o verme obscuro
Vitimado no grande desalento,
Que procurou a mágoa e o sofrimento
Sem caridade, o amor sagrado e puro.”
3 Ó promessas do “Nada” inexistente!…
A Morte abriu-me as portas do Presente
Amargo e interminável pela dor;
4 Infeliz do meu ser fraco e abatido,
Pois o anseio de nada, paz e olvido,
Foi apenas um sonho enganador!
Antero de Quental
Belo Horizonte, 21-11-1935.
Rua da Paraíba, 927.
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