“Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo…” — JESUS — Mateus, 5.22.
“O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito.” — Cap. IX, 10.
1 Ainda as palavras.
Velho tema, dirás.
E sempre novo, repetiremos.
2 É que existem palavras e palavras.
Conhecemos aquelas que a filologia reúne, as que a gramática disciplina, as que a praxe entretece e as que a imprensa enfileira…
3 Referir-nos-emos, contudo, ao verbo arrojado de nós, temperado na boca com os ingredientes da emoção, junto ao paladar daqueles que nos rodeiam. Verbo que nos transporta o calor do sangue e a vibração dos nervos, o açúcar do entendimento e o sal do raciocínio. Indispensável articulá-lo, em moldes de firmeza, e compreensão, a fim de que não resvale fora do objetivo.
4 No trabalho cotidiano, seja ele natural quanto o pão simples no serviço da mesa; no intercâmbio afetivo, usemo-lo à feição de água pura; nos instantes graves, façamo-lo igual ao bisturi do cirurgião que se limita, prudente, à incisão na zona enfermiça, sem golpes desnecessários; nos dias tristes, tomemo-lo por remédio eficiente, sem fugir à dosagem.
*
5 Palavras são agentes na construção de todos os edifícios da vida.
6 Lancemo-las, na direção dos outros, com o equilíbrio e a tolerância com que desejamos venham elas até nós.
7 Sobretudo, evitemos a desconsideração e a ironia.
Todo sarcasmo é tiro a esmo.
8 E sempre que a irritação nos visite, guardemo-nos em silêncio, de vez que a cólera é tempestade magnética, no mundo da alma, e qualquer palavra que arremessamos, no momento da cólera, é semelhante ao raio fulminatório que ninguém sabe onde vai cair.
Emmanuel