Jornalista, Escritor e Poeta eminente.
— E suas relações com Chico Xavier, atualmente, Humberto? — pergunta o redator.
— São e sempre foram ótimas.
Você acredita que as mensagens de Chico, são mesmo obra do Espírito de seu pai?
— Você é a milionésima pessoa que me faz essa pergunta, ou melhor — essas perguntas. Vou tentar responder ambas, agora, contando uma passagem de minha vida:
Por volta de 1957, vindo com uma caravana de espíritas até Uberaba, como tanta gente que busca, incansavelmente, uma resposta às suas perguntas angustiosas sobre o fenômeno da morte, do destino e da dor, fui conhecer de perto o Chico Xavier. Passados tantos anos, quase duas décadas, ia encontrar-me com aquele que tinha sido alvo de uma ação movida pela minha família. Foi um encontro realmente comovente, pois, desta vez, ambos estávamos do mesmo lado da trincheira. Participei da feitura da sopa dos pobres, descascando cenouras sob um telheiro, numa atmosfera que lembrava as cenas simples dos primeiros dias do verdadeiro cristianismo. Caminhei ao lado do Chico ao longo da romaria que era realizada no sábado à tarde, levando um saco com mantimentos, que seriam distribuídos aos pobres, visitados no trajeto. Presenciei no interior de uma palhoça o tocante momento em que um doente grave era visitado pelo Espírito de Meimei, que se anunciava por um pronunciado cheiro de éter que, depois, era substituído pelo aroma de flores silvestres. E, por final, já na noite anterior ao nosso regresso, a conversa realmente impressionante que tive com ele.
De início, envolvido por aquela atmosfera de paz e bondade que sua presença transmite, conversamos sobre o passado e sobre as coisas que julgávamos importantes, em relação ao momento em que vivíamos. De repente, sem as bufadas ou contorções tão comuns para quem frequenta reuniões desse tipo, notei que o Chico deixava de ser o Chico para ser, talvez, alguém que identifiquei como meu pai. Pelas coisas que dizia e pela forma que as dizia. E o que ouvi naquela noite, guardei para o resto de minha vida. Foram coisas que agora me fazem pensar se não estamos bem próximos ou já chegamos aos instantes de decisão, vaticinados por aquela voz.
“O mundo é uma fogueira que se consome nos mais baixos impulsos da vaidade e da ambição do homem. Nesse mundo que está sendo transformado, fisicamente, sem nenhuma consciência e sem nenhum escrúpulo, numa rapidez surpreendente, o próprio homem, vivendo nesse contexto e agindo de acordo com as regras vigentes, para não ser aniquilado, já começa a desconfiar de que alguma coisa está profundamente errada.”
— Essa entrevista com Humberto de Campos filho, falando sobre Chico Xavier pessoa humana, sobre Chico Xavier, homem de paz e de bondade, comove aos espíritas e umbandistas. E o momento inesquecível na vida de Humberto, no qual as palavras e as coisas ditas por Chico, pareciam vir da mente do seu querido pai — também são registros importantes pois que dificilmente um filho esquece as maneiras, os pensamentos e conceitos íntimos de seu pai. Pode ser que o Espiritismo não tenha conquistado em Humberto um adepto fervoroso, mas — segundo ele mesmo confessa — a figura de Chico Xavier; naquela noite longínqua, plantou, em seu coração, uma semente de esperança, que jamais deixará de ser cultivada. (Aruanda — Agosto / Setembro 1977)