Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás, Vice-diretor da Faculdade de Direito Federal de Goiás Presidente do Colegiado de Cursos Jurídicos da UFG. Professor nas Universidades de Direito Federal, Católica e Anhanguera. Já escreveu uma vasta produção literária e Jurídico Penal.
“Foi aos 17 anos de idade, pela vez primeira, ouvi falar de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Eu havia ido à Veneza brasileira, estudar. Hospedei-me com um parente longínquo, fervoroso adepto do Espiritismo. Sua biblioteca estava repleta de obras espíritas, a maioria mediúnica, escritas por Emmanuel, André Luiz e outros, através do médium de Pedro Leopoldo.
Os jornais de grande circulação no Nordeste, vez por outra estampavam, nos idos de 1952, reportagens de primeira página sobre o mago da mediunidade no Brasil. Sua extraordinária fertilidade literária — jamais igualada, aqui e além fronteiras, nem mesmo por Coelho Neto ou Castilho — era motivo de espanto, saindo de um modesto amanuense do Ministério da Agricultura, que jamais tivera outra escolaridade que o primário. Descreviam-se os seus gestos no momento da produção mediúnica — a mão esquerda cobrindo os olhos, a mão direita empunhando um lápis após outro, numa escrita nervosa e extremamente rápida, as folhas de papel sem pauta retiradas por um acólito. E ao cabo de alguns minutos do mais profundo silêncio, diante de uma assistência contrita e espectante, ora lida, pelo próprio médium, o texto recebido durante o transe, ora uma poesia concebida nos mais diversos estilos, ora uma exortação de cunho ético ou religioso.
Ao vir para Goiás, senti, no Planalto, uma Profunda atração mística na direção do grande médium brasileiro. Os centros espíritas, as mocidades espíritas se espalhavam pelas principais cidades goianas. Tornei-me espírita, Kardecista — Kardec o mentor do verdadeiro Espiritismo, seguido por Francisco Cândido Xavier. E como todo espírita, aspirava a conhecer o grande médium.
Ele se transferira, por ordens do alto, segundo confidenciara a amigos, para a cidade mineira de Uberaba. Tinha, como secretário Weaker Batista; como eu Maçom: quando esse ilustre Obreiro foi Venerável Mestre da Loja “Roosevelt”, de Anápolis, eu fui seu Orador. Daí, o convite de Weaker, que mora ao lado da casa de Chico Xavier: A noite, seria a sessão. Não havia muitas pessoas de fora, ao contrário do que, frequentemente, ocorre. Mesmo assim, o recinto estava repleto.
Uma fervorosa adepta de Chico lhe trouxe uma exuberante rosa vermelha que ele, após a apresentação, me passou às mãos, como uma recordação sua.
Após, homens e mulheres, vestidos com simplicidade, apesar de vários serem portadores de títulos universitários, reunimo-nos em torno de uma mesa, onde seriam discutidos textos do Evangelho. Coube a mim discorrer sobre o texto escolhido, à deriva. Chico, enquanto isso, cerca de hora e meia a duas horas — se trancara num quarto, contíguo, atendendo a uma fila, que, lentamente, se esvaia. Ao termo, voltou, sereno, e sentou-se; sobre o papel, no gesto característico de vedar os olhos, começou, como tangido por estranha corrente elétrica, a escrever, página que leria, minutos após, com voz angelical.
A impressão que Francisco Cândido Xavier deixa, nos que o conhecem, é a de um apóstolo do verdadeiro Cristianismo, santo que, ao lado de Francisco de Assis, o Polverello, e Mohandas Carancham, o Mahatma Gandhi, mais perto se aproximou, pela pregação e seu devotado exemplo de caridade, do sublime rabi da Galileia. (O Popular — Goiânia — 25.9.1977)