O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Luz acima — Irmão X


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Alegação justa

1 O grande orientador espiritual, de palestra com alguns amigos, enunciava expressivas considerações.

2 — Como vocês todos sabem, — alegou, justiceiro, — os companheiros encarnados, desde tempos imemoriais, vêm à nossa Esfera, à procura de modelos para as atividades na Crosta do Mundo. 3 A massa preguiçosa, exclusivamente interessada no câmbio das emoções físicas, jamais se moveu nesse sentido, porque recebe sem discutir as medidas que lhe são impostas. 4 Todavia, os homens ativos e inteligentes, sempre que podem, largam envoltórios pesados e reclamam-nos a colaboração. Estudam-nos os serviços, quanto lhes é possível e examinam-nos os institutos evolutivos. Aliás, possuímos instruções especiais para facilitar-lhes semelhante acesso, tanto quanto somos autorizados a subir, mais além, buscando a inspiração de nossos Maiores.

5 Revelando infinita benevolência no olhar, fez longa pausa e prosseguiu:
— Ministros da fé, administradores de bens públicos, cientistas e artistas, condutores do pensamento e da cultura da Humanidade encarnada, sequiosos de renovação em benefício dos contemporâneos, toda vez que se mostram à altura dos títulos de que são detentores, apressam-se em granjear-nos o concurso espiritual. Nem sempre sabem o que desejam e somos compelidos a agir com eles à moda dos professores de primeiras letras nos jardins de infância. Suportamos-lhes os impulsos intempestivos, sem dar-lhes tabefes, e determinamos horas adequadas para as lições. 6 Logo que se afastam do corpo, em desligamento provisório pela influência do sono, congregamos os mais aptos ao progresso intelectual, no serviço de preparação desejável. Usualmente descobrem inúmeras dificuldades para compreender-nos, apontando contínuos obstáculos a fim de manobrarem convenientemente com a memória. 7 Muitos recebem colaboração nossa durante vinte, trinta, cinquenta anos, e acabam surpreendidos pela morte, sem cumprirem um só item das compridas promessas que nos hipotecam. Alguns, contudo, bem-intencionados e persistentes, atravessam óbices, ultrapassam fronteiras, quebram cadeias e nos fixam os ensinamentos, convertendo-se em vanguardeiros do tempo em que se fazem visíveis na Crosta Planetária. Tornam-se, via de regra, combatidos pelos irmãos ociosos, porque os indolentes hostilizam os servidores leais, em todas as épocas. 8 Muitos desses amigos perseverantes acabam martirizados, conforme aconteceu ao próprio Cristo, Nosso Senhor; todavia, chega a ocasião em que as ideias deles se fazem louvadas e aproveitadas. Para companheiros dessa qualidade, nossas portas vivem abertas. 9 Estudam conosco, desde o problema do alimento ao da mais alta distribuição de justiça. Carreiam daqui para a Terra todas as migalhas de luz que podem arquivar no campo mental, medianamente evolvido, como ocorre às abelhas operosas que transportam para a colmeia a quantidade de essências, segundo a capacidade que lhes é própria.  10 É assim que, observando-nos os códigos de direito, por lá fizeram leis de acordo com as suas inclinações pessoais, instituições essas que vão progredindo gradativamente na direção da Justiça Universal. Esses bandeirantes do idealismo superior, em moldes idênticos, ergueram templos religiosos, aprimoraram a ciência, iluminaram a filosofia, instalaram a indústria e aperfeiçoaram o comércio. 11 De quando em quando, as massas recordam a animalidade primitiva, regridem nos impulsos, abrem-se aos gênios satânicos da destruição e atiram-se umas contra as outras, através de embates sanguinolentos; mas, dominadas pelos homens superiores que nos visitam, acabam sempre por ensarilhar as armas, reconstruindo as cidades, recompondo a economia e reajustando raciocínios, atraídas novamente para os nossos círculos de ação. 12 Entrementes, os vanguardeiros do progresso se reúnem por intermédio de acordos e conferências, para novos juramentos a Deus, exaltando os mais elevados símbolos da dignidade humana e buscando-nos, incessantemente, os serviços. Raros perguntam de onde lhes vêm os valores da intuição e a maioria costuma classificar de fantasia a nossa colaboração.

13 O elucidador fixou significativa expressão fisionômica e aduziu:
— Colocavam-nos, antigamente, na galeria dos deuses, e éramos conhecidos por Musas. A verdade é que, desde os primórdios da vida planetária, trabalham na cópia geral dos nossos modelos. Jamais conseguem imitar-nos convenientemente. Admiram-nos as torres luminosas e constroem edifícios escuros a que chamam arranha-céus. Observam-nos os caminhos floridos e brilhantes e traçam duro leito de pedras no chão, a fim de cuidarem da fraternidade. Contemplam-nos as utilidades graciosas e leves e improvisam máquinas pesadas, a exsudarem combustível malcheiroso e a lhes ameaçarem a vida corporal a cada momento. 14 Semelhante situação, porém, é justificável. O escultor poderá guardar maravilhosa ideação, mas, para exteriorizá-la, dependerá do material acessível às suas mãos e convenhamos que a condensação de fluidos na Crosta da Terra se caracteriza por aflitiva dureza.

15 O orientador parou, movimentou a cabeça expressivamente e concluiu:
— Até aqui, tudo lógico, tudo razoável… Acontece, porém, que nos últimos tempos alguns de nossos companheiros deram notícias de nossas organizações aos homens encarnados. E sabem o que se verificou? Há grande barulho, em torno de nossos correios. Os próprios copistas de nosso esforço respiram imensa revolta. Dizem que não temos personalidade, que os “mortos” são plagiadores dos “vivos”, que nossas cidades, leis, instituições e equipamentos, que toda a nossa multimilenária estrutura de ordem e trabalho não passa de reflexo da cultura deles. Se pudessem, moveriam ação judicial contra nós, junto aos gabinetes da engenharia divina… Não julgam tudo isso espantoso e incompreensível?

16 Ninguém respondeu; mas, porque o nobre instrutor sorrisse francamente, a nossa gargalhada geral se espalhou, envolvente e cristalina.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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