O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Janela para a vida — Autores diversos


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Mensagem de José Wilson de Campos

Destacamos também a mensagem recebida pelo Sr. Aurélio Olegário de Campos, da cidade de Cáceres, Mato Grosso do Norte, enviada por seu filho José Wilson de Campos, desencarnado em 17 de janeiro de 1976, aos 39 anos. A reconfortante mensagem foi psicografada por Chico Xavier na sessão mediúnica de 13 de janeiro de 1979, no “Grupo Espírita da Prece”, estando presente o Sr. Aurélio, com o seguinte teor:


 1 Querido pai, rogo a sua bênção e peço a Deus que nos proteja.

 2 São passados três anos sobre aquele sábado de provação.

 3 Os dias e as noites somaram experiência e, por dentro de nossos corações, o amor é sempre o mesmo.

 4 Creia o senhor que penso neste momento de escrever-lhe, desde muito tempo.

 5 Realizei exercícios. Procurei reeducar minhas próprias emoções, no entanto o que sinto é indescritível.

 6 Meus pensamentos se conjugam num tecido de alegria e sofrimento, como se minhas lembranças mais vivas nesta hora formassem uma noite no íntimo de meu ser, toda ela riscada pelas luzes da esperança.

 7 E não falta o orvalho benéfico na paisagem de minhas cogitações interiores, pois que as lágrimas de gratidão a Deus como que me encharcam as ideias de renovação e entendimento.

 8 Estou quase feliz, querido pai, e esse quase é aquele intervalo entre as duas vidas — a existência na Terra e a existência na Espiritualidade — que não nos permite um intercâmbio mais intenso, como seria de desejar.

 9 Imagine que estamos regularmente juntos em Cáceres e precisou sua paternal dedicação de varar quase mil e quinhentos quilômetros para que ambos nos comunicássemos, através desta carta.

 10 Ainda assim, venho aprendendo, como sempre, com a sua cartilha de exemplos e com o carinho da mamãe, cujas preces me auxiliam a basear a vida nova.

 11 Não preciso falar-lhes de perdão, porque esse assunto já foi suficientemente iluminado por suas atitudes, nas primeiras horas de meu desligamento do corpo.

 12 Estou encontrando com alguma dificuldade as palavras que me componham a imagem real para a situação que, graças a Deus, já superamos.

 13 Em nossas atividades de cartório, entretanto, ser-me-á fácil descobrir o que desejo expressar.

 14 Lembro-me dos processos de despejo, por vezes estudados por mim próprio e prefiro dizer que fui violentamente despejado da casa física sem qualquer razão aparente para isso.

 15 Uma conversação que julguei simples para um ajuste amistoso e dois projéteis me alcançaram com a violência de um raio.

 16 Era de tarde. Pensava em alguma distração no domingo, embora refletindo na saúde de nossa querida Saé; a nossa querida Fussaé, e, intimamente, antes do encontro pensava na melhor maneira de avistar-me com os nossos amigos Luiz Fernando e Eduardo Benavides, quando me dirigi para o escritório onde a surpresa me aguardava… O resto não preciso recontar.

 17 Lembro-me, porém, de que ao cair, desarmado qual me achava, entrei de repente num sono difícil de explicar. O sono parecia vir de uma força desconhecida, como se alguém me aplicasse pesada carga de sedativos.

 18 Sonhei — este é o termo pelo qual posso designar o que se passou comigo — sonhei que seguia para nossa casa e que não me achava distante da residência do Dr. Jaques Souto e pensei de mim para comigo em pedir-lhe tutela para a minha causa, pois, apesar da atmosfera anuviada de sonho em que me via, estava consciente de que fora agredido…

 19 Meus pensamentos vagueavam descontrolados, quando acordei de improviso… Achava-me ao seu lado, na casa de tratamento para onde me haviam conduzido o corpo e ESCUTEI os seus pensamentos em prece, rogando a Deus me fortalecesse e perdoasse aquele companheiro que se fizera instrumento de nossas atribulações.

 20 Compreendi com a força de sua fé que fora retirado da presença da vida física, de vez que, embora, algo entontecido, reconheci que ninguém no recinto dava conta de minha presença.

 21 Recordei, de imediato, as suas conversações e os seus ensinamentos. A lembrança de mamãe e da esposa passou a me doer no coração.

 22 Só então registrei o sofrimento do corpo que ainda se ligava comigo por fios de vida que não sei classificar. Aquele anseio de retomar-me na forma inerte me compelia a experimentar um largo complexo de inquietações…

 23 Detive-me, no entanto, na prece e copiando os seus gestos de pai, também eu roguei a Jesus me fortificasse e desculpasse o amigo que se deixara levar pela impulsividade negativa, quando entre nós só existiam amizade e confiança em comum.

 24 Foi então que realmente dormi. Dormi pesadamente, por tempo que não sei enumerar e despertei atordoado ainda no regaço de alguém que me lembrava a mamãe em meus tempos de menino. Eram aquelas mãos, a me acariciarem como se voltasse a ser novamente criança…

 25 Chorei num misto de reconforto e de aflição, mas aquela voz boa e mansa me aconselhou a lembrar que Jesus igualmente fora sacrificado fora do ambiente doméstico se Ele realmente possuíra algum. Pedia-me rezar, acalmar-me.

 26 Só aí num transporte de alegria repleta de pranto, reconheci que a santa enfermeira que me amparava era a minha avó Benedita Freire.

 27 Em breves momentos o tio Olegário se me fez visível e, desde aí, começou a minha recuperação.


 28 Papai, obrigado ao senhor e à mãezinha, tanto quanto à querida esposa, à Marília e ao Antônio Carlos por não resolverem o caso em processos de condenação que somente serviriam para me afligir.

 29 Quem de nós, meu pai, estará livre de ferir o próximo? Quem somos nós para condenar alguém que nasceu como nós, das mãos de Deus?

 30 A oração tem sido o nosso ponto de encontro e na oração pediremos sempre a Deus que conduza o nosso irmão e nosso amigo para a bênção da paz.

 31 Estou certo de que resgatei dívidas de existências passadas que ainda não estou em condições de rever. Sinto-me renovado em suas aspirações de bondade e compreensão.

 32 Nossa querida Wilsineli é para nós o futuro… Trabalharemos.

 33 Agradeço à mãezinha todas as orações com que me aliviou e me auxilia sempre.

 34 Nossa querida Fussaé ficou em meu lugar e temos todos tantos ideais para diante, que não há tempo a desperdiçar com relatórios e lembranças incompatíveis agora com o nosso modo de ser.

 35 A saudade é irreversível. Aí e aqui mesmo, essa é uma enfermidade que só a Divina Providência consegue amenizar. Mas as nossas saudades inspiram serviço em Jesus.

 36 Tenho estado consigo em seus novos planos para a edificação de um lar para os nossos irmãos perturbados e infelizes.

 37 Estou contente, buscando identificar-me com o empreendimento. Jesus nos proverá de energias capazes de materializar o projeto que nos ligará por laços de luz à terra bendita de Cáceres.

 38 Meu pai, agradeço-lhe por tudo. Nossa integração mútua no trabalho está prosseguindo… Confiemos em Deus.

 39 Agradeço ao vosso valoroso Túlio que se mostrou firme para a viagem. A todos os nossos, as minhas lembranças de irmão e amigo.

 40 O tio Olegário está comigo e abraça-o declarando que nos será sempre o companheiro de cada dia.

 41 Papai, diga por favor, à mamãe, que a nossa fé por aqui está unificada. Somos do Cristo e Cristo nos guiará a todos para Deus.

 42 Se eu pudesse continuaria escrevendo pela noite a dentro, mas estamos condicionados aos recursos de tempo dos amigos que nos acolhem.

 43 Para a mãezinha e para a esposa, anjos de guarda de meu caminho, os meus mais íntimos pensamentos de amor e gratidão, com um beijo à filhinha.

 44 Aos amigos, o fraterno abraço de sempre. Aos irmãos com a familinha, todo o meu afeto.

 45 E para o senhor, querido pai, a luz do nosso lema que se foi sempre UNIR PARA CONSTRUIR agora será também construir para unir, porque edificando o bem conforme o que aprendi de sua própria vida é que encontraremos todos o caminho de luz para a união com Deus.

 46 Receba, querido papai, as muitas saudades e as muitas esperanças no abraço de coração para coração do seu filho e companheiro de sempre.

 47 Sempre seu filho reconhecido de todos os momentos.


José Wilson de Campos


Referências

JOSÉ WILSON DE CAMPOS: nascido aos 8 de setembro de 1936, desencarnado aos 17 de janeiro de 1976, filho de Aurélio Olegário de Campos e Maria Freire de Campos.

FUSSAÉ: esposa do comunicante, chamada na intimidade por Saé.

LUIZ FERNANDO: Amigo do comunicante.

EDUARDO BENEVIDES: Amigo do comunicante.

Dr. JAQUES SOUTO: Advogado, amigo do comunicante.

BENEDITA FREIRE: Avó materna, desencarnada aos 8 de julho dé 1950.

OLEGÁRIO: Tio do comunicante, desencarnado aos 28 de outubro de 1929.

MARÍLIA: Irmã do comunicante.

ANTÔNIO CARLOS: Cunhado do comunicante.

WILSINELI: filha do comunicante.

TÚLIO: Sobrinho do comunicante.


Em 29/3/1979 o Sr. Aurélio Olegário de Campos nos endereçava correspondência, autorizando-nos a incluir na presente obra a confortadora mensagem de seu filho, acrescentando: “A perda de meu filho José Wilson me fez entender que o sofrimento é o caminho que nos conduz a Deus e a mensagem que recebemos tem sido um bálsamo contínuo para os nossos corações”.


Fernando Worm


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