Vamos ilustrar a afirmativa com exemplos. Na sessão mediúnica de 17/11/1978, no “Grupo Espírita da Prece”, o médium Xavier, como vem fazendo há mais de meio século, psicografou a seguinte e significativa mensagem consoladora endereçada ao Gen. Ilcon da Cunha Cavalcanti, presente à reunião, por sua esposa Marina Lúcia Pedroza, falecida em 1976.
1 Ilcon, meu filho, Deus nos abençoe.
2 Creio não precisar dizer que prosseguimos juntos. Não é fácil estampar o coração de companheira no papel em que o próprio coração me induz a escrever com lágrimas de alegria. Há muito tempo venho conservando o propósito de trazer ao seu carinho a resposta do meu amor que ambos cultivamos no mundo com a presença de Deus. Peço a você que não chore tanto em nossas conversações do silêncio.
3 Quanto posso, volto à nossa moradia para ouvir seus sentimentos que são igualmente os meus. Escuto quando me diz a sua ternura fitando nossas relíquias, como se eu não estivesse presente, e volto a experimentar o anseio de aliviar a sua cabeça fatigada de pensar. Querido meu, a morte é uma cortina de sombra que simplesmente oculta uma luz maior do que esta, a que nossos olhos se habituam na Terra.
4 Quanto puder, conserve a nossa alegria no coração. Há tanto a fazer pelos outros que é necessário esquecer-nos para que a saudade não se faça um agente negativo em nossas vidas entrelaçadas. Filho meu, você sabe que a sua esposa se reconhece, agora muito mais que antigamente, por sua tutora ou mãezinha espiritual.
5 Quando a tristeza surgir, lembre-me ao seu lado. E creia que estarei na mesma posição dos dias que se foram para voltar a nós dois em espírito. Dê-me a sua cabeça para o repouso. Saberei contar a você, de novo, as minhas histórias da infância, as brincadeiras da Diana, a severidade da mamãe Dalila, as descrições das dificuldades que o tempo desfez e acabarei cantando para você dormir nossas cantigas de ninar:
6 “Boi da cara preta
Pega esse menino
Que tem medo de careta.”
7 “Sapo gururu
Da beira do rio
Vem buscar este menino
Que não quer dormir.”
8 Vê que a sua Marina, de modo algum, perderia a memória. Os vinte e um anos de felicidade não desapareceram. Sinta-me em sua companhia sempre. Deus não nos criou para separar-nos um do outro. Pensa que aquela dor súbita no peito, à despedida, teria sido o fim? Não é isto. Aquilo foi um começo brilhante de um amor diferente e maior que desafia o tempo para crescer cada vez mais.
9 Quanto estiver ao seu alcance continue ajudando-me através do auxílio aos outros. Ambos sabíamos que as crianças menos felizes eram todas elas nossos filhos, compreendíamos que os nossos irmãos se estendiam por toda parte, especialmente onde o sofrimento estivesse marcando as situações. Amor, meu, não creia em velhice e doença. 10 As formas terrestres são unicamente roupas que usamos e que se desgastam com as horas. O sentimento é a vida e a vida é a nossa própria alma imortal. Desejo que a alegria nos retome por dentro para que você consiga sorrir de novo, abençoando as experiências felizes em que Jesus nos permitiu viver.
11 Quero contar a seu carinho que me encontro acompanhada por meu pai Adalgizo que me trouxe aqui para que eu escreva esta carta. A princípio fui muito auxiliada no afastamento de minhas dores remanescentes do corpo físico por um médico que me declarou ser seu amigo e companheiro também nas Forças Armadas. O nome dele é Dr. Ismael da Rocha e creio que deixou a estalagem do mundo com a respeitabilidade de um General. 12 Foi um médico e benfeitor a quem passei a dever muito e a quem peço auxílio em seu favor; também o nosso amigo, o Pe. Severino, antigo sacerdote de Nova Cruz, me prestou muito amparo. Transmito-lhe essas notícias com aquele mesmo contentamento com que lhe confiava minhas pequenas impressões do cotidiano enquanto perdurou o nosso inesquecível convívio na existência física. 13 Perdoe-me se me dirijo ao seu querido coração com aquela afeição de criança-mulher que Deus me concedeu para lhe dar. A verdade, meu filho, é que não conseguiria escrever a você de outro modo. 14 Rogo colocar a sua coragem e a sua esperança em circulação no desdobrar de nossos caminhos. Tudo vai seguindo bem, porquanto a nossa fé em Deus possui a beleza cristalina das primeiras horas de nosso encontro. Não se julgue cansado ou no término da estrada que o Senhor nos permitiu percorrer.
15 Caminhamos procurando servir e as estações de pausa ou renovação pertencem a Deus. Desejo que o seu devotamento me sinta na efusão com que endereço estas palavras ao seu amor que continua sendo a vida de minha vida. A mãezinha Dalila igualmente veio conosco e agradece-lhe por todas as demonstrações de abnegação em nosso benefício. Querido Lelego, aqui fica toda a minha saudade na forma de uma flor que entrego a você orvalhada de beijos, dos beijos de orvalhada ternura com que aprendi a reverenciar a sua presença. Perdoe se não posso escrever mais.
16 A emoção é uma força que nos faz inaptos para o equilíbrio necessário quando se quer dizer tudo e quando as contingências nos obrigam a dosar as frases na pauta das considerações humanas. Filho de meu coração e esposo inesquecível, receba todo o carinho com a alma de sua companheira, sempre mais sua companheira e mãe pelo coração.
Marina Lúcia Pedroza
Na carta que nos endereçou em 29/3/1979, autorizando-nos a incluir esta mensagem na presente obra, o Sr. Ilcon Cavalcanti acrescenta o seguinte: “É uma imensa felicidade para mim ter conhecido o médium Chico Xavier, através do qual recebi a carta-mensagem da minha insubstituível Lúcia. Atendendo com prazer vossa solicitação, dou a seguir as referências das pessoas citadas na mensagem:
MARINA LLJCIA PEDROZA — Esposa (Espírito comunicante).
DALILA — Mãe de Lúcia.
ADALGIZO — Pai de Lúcia.
DIANA — Irmã de Lúcia, residente no Rio de Janeiro.
Pe. SEVERINO — Pároco no Rio Grande do Norte, sepultado em Cruz das Almas.
DR. ISMAEL ROCHA — Médico-general, companheiro de farda em Uruguaiana.
Fernando Worm