Nascimento: — São Paulo, 27 de setembro de 1942.
Desencarnação: — Praia Grande, 27 de fevereiro de 1968.
Filho de Raul Cezar e Yolanda Cezar.
Irmãs:
— Maria Otília Cezar Toscano, casada com o Sr. Walter Toscano.
— Zuleica Cezar Carvalho, casada com o Dr. Antônio Celso Mesquita Carvalho.
— Marly Cezar de Almeida, casada com o Dr. Paulo Roberto Bourgogne de Almeida.
Às 12 horas e 30 minutos daquela terça-feira de carnaval, 27 de fevereiro de 1968, o telefone tilintou na residência da Rua Marcos Lopes, Vila Nova Conceição - São Paulo.
Preocupada com o encaminhamento do almoço, de que participariam as filhas e o então único genro, desataviada, alegre, D. Yolanda Cezar não deu atenção ao telefonema que lhe iria mudar radicalmente o curso da vida nos anos seguintes. O genro Walter Toscano atendeu à ligação de Santos e convocando, de imediato, D. Yolanda, alegando outros motivos paliativos, para lá se dirigiram.
Augusto, naquela manhã, bem cedo, junto de amigos partira para a Praia Grande, com a promessa de retornar pouco depois das 13 horas, quem sabe para o almoço. Alto, forte, atleta de formação, habituado aos exaustivos exercícios físicos, comedido, jamais se suporia que, afogado nas águas da Praia Grande, naquela manhã cálida de fevereiro, iria deixar o nosso mundo, em viagem para a Vida Espiritual, transpondo as gélidas barreiras da morte.
Chegando à Santa Casa de Santos, D. Yolanda, que esperava encontrar, em sua cândida ingenuidade de mãe, o filho recebendo socorros pelo pretenso acidente de automóvel — em versão conciliatória elaborada pelo genro — teve à vista outro quadro.
O rabecão vindo da Praia Grande trazia o corpo de Augusto, frio, definitivamente morto.
Natural de São Paulo, Augusto Cezar Netto nasceu a 27 de setembro de 1942 e faleceu a 27 de fevereiro de 1968, cinco meses após completar 25 anos.
Desde o curso primário estudou no Liceu Eduardo Prado, bem perto de sua Vila Nova Conceição, onde sempre residiu. Completou os estudos básicos e, no próprio Liceu, formou-se em Química Industrial.
Trabalhou até quatro meses antes de sua morte nos Laboratórios Squibb, tendo deixado este emprego para dedicar-se com o pai e com o cunhado à extração de areia em sítio localizado na BR-2 (atual BR-116) km 64, estrada perigosa, motivo de preocupações constantes de parte do pai carinhoso, Sr. Raul Cezar, que, encontrando-se em Goiânia no dia do falecimento do filho, ao receber a notícia, imediatamente associou o infortúnio à movimentada rodovia que liga a capital paulista a Curitiba.
Muito alegre, sem maiores preocupações além do trabalho exaustivo e do convívio familiar intenso, como de hábito na família brasileira, Augusto era esportista de nomeada, com participação efetiva nas atividades do Clube Ipê, a tradicional agremiação do Ibirapuera.
Sua morte mereceu dos amigos do Ipê uma página tão candente, assinada na revista do clube por Camilo Guimarães, que reproduziremos a seguir as últimas palavras do articulista:
“…Março chegou de novo! O campeonato vai começar. Os times se formaram e nenhum de nós aprovou o seu contrato (referindo-se ao Augusto) com o Senhor dos Espaços Infinitos, pois sabemos que você jogará num gol de estrelas, defendendo com segurança as nossas lembranças, segurando com firmeza os “pênaltis” de nossa saudade. Augusto Cezar Netto! Até Quando? Até Sempre! Adeus!”
Após o sepultamento na quarta-feira de cinzas, a família se voltou para uma nova realidade. A dor, o luto, a tristeza imensa fecharam as portas daquela casa dantes alegre e jovial, para que os amigos e vizinhos não pudessem ver os olhos sempre úmidos de D. Yolanda, o desespero do Sr. Raul e a angústia das filhas que, quais pássaros desorientados, procuravam, engolindo as lágrimas, devolver aos pais um pouco de alento e reconforto.
Sendo católicos, absolutamente distantes de qualquer informação a respeito do Espiritismo, sem conhecer Francisco Cândido Xavier, como chegaram a Uberaba quatro meses mais tarde, para o primeiro contato com o querido médium que lhes descortinaria um panorama novo, construindo para aqueles pais desesperados uma estrada firme, assentada na certeza absoluta da sobrevivência do Espírito?
COMO A FAMÍLIA CEZAR CHEGOU ATÉ CHICO XAVIER
Sem o Augusto, começaram no lar os intermináveis monólogos com as sombras, as longas insônias que tranquilizantes e hipnóticos não conseguiam debelar. Amigos se aproximaram da família, buscando de toda sorte atenuar os duros padecimentos.
Alguém sugeriu que D. Yolanda tomasse passes e, com a sua anuência cortês, antes por respeito que por convicção, um pequeno grupo de senhoras do Lar do Amor Cristão, entidade espírita beneficente do Ipiranga, passou a frequentar regularmente a casa, ministrando passes e fazendo preces que, segundo a mãe do Augusto, nada trouxeram de paz e refazimento, face à atribulação mental tão grande de que se via possuída.
Aos poucos, com a natural amizade decorrente das reuniões, a dirigente do grupo, Sra. Acácia Maciel Cassanha, sugeriu ao casal que fosse até Chico Xavier. Quem sabe o querido Chico poderia dar-lhes uma palavra de alento e esperança?
Quatro a cinco meses após a morte do Augusto, o Sr. Raul e D. Yolanda, num sábado pela manhã, chegam a Uberaba. Terminava uma reunião matinal com a presença de companheiros de outras cidades, e, num contato brevíssimo, apenas puderam dizer ao Chico que sofriam muito com a perda recente de um filho. Chico lhes pediu que voltassem para a reunião pública da noite, quando então poderiam conversar um pouco.
No reencontro da noite, entre o atendimento de imensa fila de companheiros, amigos, e sobretudo de pessoas desconhecidas que o procuravam, Chico Xavier disse a D. Yolanda — sem mesmo saber o nome do filho morto — que “era um pouco cedo para notícias do Augusto, mas que ela se tranquilizasse que ele estava bem, no Plano Espiritual, sendo assistido pelo seu avô Augusto”.
Algo descrente, por que não dizer decepcionada, D. Yolanda conjeturou consigo mesma que alguém dos presentes teria dito o nome do filho ao Chico, embora não conhecesse e não tivesse conversado com qualquer pessoa presente àquela reunião. Mas, apesar da descrença, não escondia sua curiosidade; como adivinhara o Chico o nome do filho e do avô, e como sabia que o avô Augusto estava desencarnado?
Ao término das tarefas da noite, Chico voltou a conversar com D. Yolanda e disse-lhe que ficara preocupado com a sua descrença, mas o Augusto lhe mandava dizer que ele era mesmo o seu Augusto e o Augustinho dos outros familiares.
No lar, apenas D. Yolanda e uma das filhas chamavam o filho por Augusto, a despeito dos outros todos o tratarem por Augustinho.
De posse dessas curiosas revelações, o casal passou a visitar regularmente o Chico, fazendo-o mesmo todos os meses e, nessa rotina de visitas, quatro anos se passaram até que surgisse a primeira mensagem psicografada.
Conotação importante é observarmos quão variável é o período decorrente entre o falecimento e a primeira comunicação dos jovens autores espirituais deste livro. Augusto o fez após 4 anos; Carlos Alberto após 4 meses; Jair Presente, 42 dias depois e o Wadyzinho, ao cabo de 6 meses.
Ensinam-nos os Espíritos que não é fácil a comunicação conosco após a morte, antes que fatores vários sejam superados. Compreende-se que, despojado do corpo físico, retornando o Espírito ao convívio direto dos entes queridos, pode desesperar-se por encontrar condições que o preocupem, sem que possa atuar diretamente no grupo familiar pelas limitações impostas com a ausência do corpo material.
Devemos também considerar que muitas vezes o Espírito desencarnado passa no Além por um período de recuperação mais ou menos longo que nós devemos respeitar e, mais do que isso, abreviar com nossas preces e pensamentos construtivos, evitando levar até eles o nosso desespero e o nosso sofrimento, pois os entes queridos permanecem ligados conosco após a morte, como se entre nós e eles existisse indestrutível cordão umbilical, de modo que choram, sorriem, sofrem ou permanecem felizes, conforme o nosso próprio estado de espírito.
Passemos às mensagens do Augusto, escritas aos pais, pela psicografia do Chico.
Caio Ramacciotti