1 Perante as rajadas do materialismo a encapelarem o oceano da experiência terrestre, a Obra Kardequiana assemelha-se, incontestavelmente, a embarcação providencial que singre as águas revoltas com segurança. 2 Por fora, grandes instituições que pareciam venerandos navios estalam nos alicerces, enquanto esperanças humanas de todos os climas, lembrando barcos de todas as procedências, se entrechocam na fúria dos elementos, multiplicando as aflições e os gritos dos náufragos que bracejam nas trevas.
3 De que serviria, no entanto, a construção imponente se estivesse reduzida à condição de recinto dourado para exclusivo entretenimento de alguns viajantes, em tertúlias preciosas, indiferentes ao apelo dos que esmorecem no caos?
4 Prevenindo contra semelhante impropriedade, os sábios instrutores que escreveram a introdução de “O Livro dos Espíritos”, n disseram claramente a Allan Kardec: “Mas todos os que tiverem em vista o grande princípio de Jesus se confundirão num só sentimento: o do amor do bem e se unirão por um laço fraterno que prenderá o mundo inteiro.” ( † )
5 Indubitavelmente, a obra espírita é a embarcação acolhedora, consagrada ao amor do bem. Urge, desse modo, que os seus tripulantes felizes não se percam nos conflitos palavrosos ou nas divagações estéreis.
6 Trabalhemos, acendendo fachos de raciocínio para os que se debatem nas sombras.
7 Todos concordamos em que Allan Kardec é o apóstolo da renovação humana, cabendo-nos o dever de dar-lhe expressão funcional aos ensinos, com a obrigação de repartir-lhe a mensagem de luz, entre os companheiros de Humanidade.
8 Assim crendo, traçamos os despretensiosos comentários contidos neste volume, em torno das instruções relacionadas no livro “O Céu e o Inferno”, valendo-nos das oitenta e duas reuniões públicas de estudo da Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, no decurso de 1961, dando continuidade à tarefa de consultar a essência religiosa da Codificação Kardequiana, n com vistas à nossa própria responsabilidade, diante do Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo.
9 Entregando, pois, estas páginas aos leitores amigos, não temos a presunção de inovar as diretrizes espíritas e sim o propósito sincero de reafirmar-lhes os conceitos, para facilitar-nos o entendimento, na certeza de que outros companheiros comparecerão no serviço interpretativo da palavra libertadora de Allan Kardec, suprindo-nos as deficiências no trato do assunto, com mais amplos recursos, em louvor da verdade, para a nossa própria edificação.
Emmanuel
Uberaba, 20 de março de 1962.
[1] Prolegômenos de “O Livro dos Espíritos”. (Nota do Autor espiritual)
[2] Pertencem a esta série de estudos os livros. “Religião dos Espíritos”, “Seara dos Médiuns” e “O Espírito da Verdade”. Qual aconteceu com os dois primeiros, todos os comentários deste livro foram psicografados nas reuniões públicas das noites de segundas e sextas-feiras, da Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba. Os textos para estudo foram escolhidos pelos companheiros encarnados que compareceram às reuniões, e, em seguida às apreciações expendidas por eles mesmos, alinhávamos os apontamentos aqui expressas, sendo de observar-se que, em alguns casos, fomos impelidos a separar-nos do tema proposto, à vista de circunstâncias ocorridas nas tarefas em andamento. Algumas das páginas que se configuram neste volume foram publicadas em “Reformador”, acatado mensário da Federação Espírita Brasileira, e no jornal “A Flama Espírita”, de Uberaba, explicando, porém, de nossa parte, que, ao fixar aqui as nossas humildes anotações, na ordem cronológica em que foram escritas, no transcurso de 1961, e na relação das questões e respectivos parágrafos que o livro “O Céu e o Inferno” propunha aos nossos estudos, efetuamos pessoalmente a revisão integral de todas elas, considerando a apresentação do conjunto. (Nota do Autor espiritual.)