O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Ideias e ilustrações — Autores diversos


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Da ociosidade


Lenda simbólica n

1 Existe no folclore de várias nações do mundo antiga lenda que exprime comumente a verdade de nossa vida.

2 Certo homem que pervagava, infeliz, padecendo intempérie e solidão, encontrou valiosa pedra em que se refugiou, encantado.

3 À maneira de concha em posição vertical, o minúsculo penhasco protegia-o contra as bagas de chuva, ofertando-lhe, ao mesmo tempo, o colo rijo sobre o qual vasta porção de folhas secas lhe propiciava adequado ninho.

4 O atormentado viajor agarrou-se, contente, a semelhante habitação e, longe de consagrar-se ao trabalho honesto para renová-la e engrandecê-la, confiou-se à pedintaria.

5 Além, jornadeavam companheiros de Humanidade em provações mais aflitivas que as dele, contudo, acreditava-se o mais infortunado de todos os seres e preferia examiná-los através da inveja e da irritação.

6 Adiante, sorria a gleba luxuriosa, convidando-o à sementeira produtiva, no entanto, ocultava as mãos nos andrajos que lhe cobriam a pele, alongando-as simplesmente para esmolar.

7 Na imensidão do céu, cada manhã, surgia o Sol, como glorioso ministro da Luz Divina, exortando-o ao labor digno, mas o desditoso admitia-se incapacitado e enfermo de tal sorte, que não se atrevia a deixar a pedra protetora.

8 Ouvia de lábios benevolentes incessantes apelos à própria renovação, a fim de exercitar-se na prática do bem, a favor de si mesmo, mas, extremamente cristalizado na ociosidade e no desalento, replicava com evasivas, definindo-se como sofredor irremediável, vomitando queixas ou disparando condenações.

9 Não podia trabalhar por faltarem-lhe recursos, não estudava por fugir-lhe o dinheiro, não ajudava de modo algum a ninguém por ser pobre até à miserabilidade completa, dizia entre sucessivas lamentações.

10 Rogava pão, suplicava remédio, mendigava socorro de todo gênero, acusando o destino e insultando o próximo…

11 Por mais de meio século demorou-se na pedra muda e hospitaleira, até que a morte lhe visitou os farrapos, arrebatando-o da carne às surpresas do seu reino.

12 Foi então que mãos operosas removeram o enorme calhau para que a higiene retornasse à paisagem, encontrando sob a pequena rocha granítica um imenso tesouro de moedas e joias, suscetível de assegurar a evolução e o conforto de grande comunidade.

13 O devoto da inércia experimentara desolação e necessidade, por toda a existência, sobre um leito de inimaginável riqueza.

Assim somos quase todos nós, durante a reencarnação.

14 Almas famintas de progresso e acrisolamento, colamo-nos ao grabato físico para a aquisição de conhecimento e virtude, experiência e sublimação, mas, muito longe de entender a nossa divina oportunidade, desertamos da luta e viajamos no mundo à feição de mendigos caprichosos e descontentes, albergando amarguras e lágrimas, no culto disfarçado da rebeldia.

15 E, olvidando nossos braços que podem agir para o bem, estendemo-los não para dar e sim para recolher, pedindo, suplicando, retendo, reclamando e exigindo, até que chega o momento em que a morte nos faz conhecer o tesouro que desprezamos.




16 Se a lenda que repetimos pode merecer-te atenção, aproveita o aconchego do corpo a que te acolhes, entregando-te à construção do bem por amor ao bem, na certeza de que a tua passagem na Terra vale por generosa bolsa de estudo, e de que amanhã regressarás para o ajuste de contas em tua Esfera de origem.

Irmão X

(Humberto de Campos)

 *

Deus é Pai, mas, em verdade,

No amor de Pai que não muda,

Se garante vida a todos,

Só ajuda a quem se ajuda. ( † )

Ormando Candelária


 *

Não é a erva daninha

Que mata o grão promissor,

Mas a triste negligência

Que mora no lavrador. ( † )

Casimiro Cunha


 *

A enxada por muitos anos viveu feliz, honrada pelos trabalhadores que a manejavam, mas sentiu-se cansada e aposentou-se num canto; surpreendeu-a, então, a ferrugem, que a devorou em poucos meses. ( † )

Mariano José Pereira da Fonseca



[1] Esta mensagem foi publicada originalmente em 1957 pela FEB e é a 37ª lição do livro “Contos e apólogos.”


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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