Do valor da vida
A conta da vida n
1 Quando Levindo completou vinte e um anos, a mãezinha recebeu-lhe os amigos, festejou a data e solenizou o acontecimento com grande alegria.
2 No íntimo, no entanto, a bondosa senhora estava triste, preocupada.
O filho, até à maioridade, não tolerava qualquer disciplina. Vivia ociosamente, desperdiçando o tempo e negando-se ao trabalho. Aprendera as primeiras letras a preço de muita dedicação materna, e lutava contra todos os planos de ação digna.
Recusava bons conselhos e inclinava-se, francamente, para o desfiladeiro do vício.
3 Nessa noite, todavia, a abnegada mãe orou, mais fervorosa, suplicando a Jesus o encaminhasse à elevação moral. Confiou-o ao Céu, com lágrimas, convencida de que o Mestre Divino lhe ampararia a vida jovem.
4 As orações da devotada criatura foram ouvidas, no Alto, porque Levindo, logo depois de arrebatado pelas asas do sono, sonhou que era procurado por um mensageiro espiritual, a exibir largo documento na mão.
Intrigado, o rapaz perguntou-lhe a que devia a surpresa de semelhante visita.
5 O emissário fitou nele os grandes olhos e respondeu:
— Meu amigo, venho trazer-te a conta dos seres sacrificados, até agora, em teu proveito.
6 Enquanto o moço arregalava os olhos de assombro, o mensageiro prosseguia:
— Até hoje, para sustentar-te a existência, morreram, aproximadamente, 2.000 aves, 10 bovinos, 50 suínos, 20 carneiros e 3.000 peixes diversos. Nada menos de 60.000 vidas do reino vegetal foram consumidas pela tua, relacionando-se as do arroz, do milho, do feijão, do trigo, das várias raízes e legumes. Em média calculada, bebeste 3.000 litros de leite, gastaste 7.000 ovos e comeste 10.000 frutas. Tens explorado fartamente as famílias de seres do ar e das águas, de galinheiros e estábulos, pocilgas e redis. O preço dos teus dias nas hortas e pomares vale por uma devastação. Além disto, não relacionamos aqui os sacrifícios maternos, os recursos e doações de teu pai, os obséquios dos amigos e as atenções dos vários benfeitores que te rodeiam. Em troca, que fizeste de útil? Não restituíste ainda à Natureza a mínima parcela de teu débito imenso. Acreditas, porventura, que o centro do mundo repousa em tuas necessidades individuais e que viverás sem conta nos domínios da Criação? Produze algo de bom, marcando a tua passagem pela Terra. Lembra-te de que a própria erva se encontra em serviço divino. Não permitas que a ociosidade te paralise o coração e desfigure o espírito!…
7 O moço, espantado, passou a ver o desfile dos animais que havia devorado e, sob forte espanto, acordou…
Amanhecera.
O Sol de ouro como que cantava em toda parte um hino glorioso ao trabalho pacífico.
8 Levindo escapou da cama, correu até à genitora e exclamou:
— Mãezinha, arranje-me serviço! Arranje-me serviço!…
— Oh! Meu filho, — disse a senhora num transporte de júbilo, — que alegria! Como estou contente!… Que aconteceu?
9 E o rapaz, preocupado, informou:
— Nesta noite passada, eu vi a conta da vida.
10 Daí em diante, converteu-se Levindo num homem honrado e útil.
Neio Lúcio
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Faze o dever que te cabe,
Sem lamentos, sem demoras.
Na Terra, ninguém consegue
Parar o motor das horas. ( † )
Jovino Guedes
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Quem constrói, quem cose e lava,
Quem ara; quem planta e fia
Estende os clarões do Céu
No campo de cada dia. ( † )
Casimiro Cunha
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Sem trabalho digno, o tédio apodrecerá suas energias. ( † )
André Luiz
[1] Esta mensagem foi publicada originalmente em 1948 pela FEB e é a 17ª lição do
livro “Alvorada cristã.”