Da compreensão
Servir mais n
1 Efraim ben Assef, caudilho de Israel contra o poderio romano, viera a Jerusalém para levantar as forças da resistência, e, informado de que Jesus, o profeta, fora recebido festivamente na cidade, resolveu procurá-lo, na casa de Obede, o guardador de cabras, a fim de ouvi-lo.
2 — Mestre, — falou o guerreiro, — não te procuro como quem desconhece a justiça de Deus, que corrige os erros do mundo, todos os dias… Tenho necessidade de instrução para a minha conduta pessoal no auxílio do povo. Como agir, quando o orgulho dos outros se agiganta e nos entrava o caminho?… Quando a vaidade ostenta o poder e multiplica as lágrimas de quem chora?
— É preciso ser mais humilde e servir mais, — respondeu o Senhor, fixando nele o olhar translúcido.
3 — Mas… e quando a maldade se ergue, espreitando-nos a porta? Que fazer, quando os ímpios nos caluniam à feição de verdugos?
E Jesus:
— É preciso mais amor e servir mais.
4 — Senhor, e a palavra feroz? Que medidas tomar para coibi-la? Como proceder, quando a boca do ofensor cospe fogo de violência, qual nuvem de tempestade, arremessando raios de morte?
— É preciso mais brandura e servir mais.
5 — E diante dos golpes? Há criaturas que se esmeram na crueldade, ferindo-nos até o sangue… De que modo conduzir nosso passo, à frente dos que nos perseguem sem motivo e odeiam sem razão?
— É preciso mais paciência e servir mais.
6 — E a pilhagem, Senhor? Que diretrizes buscar, perante aqueles que furtam, desapiedados e poderosos, assegurando a própria impunidade à custa do ouro que ajuntam sobre o pranto dos semelhantes?
— É preciso mais renúncia e servir mais.
7 — E os assassinos? Que comportamento adotar, junto daqueles que incendeiam campos e lares, exterminando mulheres e crianças?
— É preciso mais perdão e servir mais.
8 Exasperado, por não encontrar alicerces ao revide político que aspirava a empreender em mais larga escala, indagou Efraim:
— Mestre, que pretendes dizer por “servir mais”?
9 Jesus afagou uma das crianças que o procuravam e replicou, sem afetação:
— Convencidos de que a justiça de Deus está regendo a vida, a nossa obrigação, no mundo íntimo, é viver retamente na prática do bem, com a certeza de que a Lei cuidará de todos. Não temos, desse modo, outro caminho mais alto senão servir ao bem dos semelhantes, sempre mais…
10 O chefe israelita, manifestando imenso desprezo, abandonou a pequena sala, sem despedir-se.
Decorridos dois dias, quando os esbirros do Sinédrio chegaram, em companhia de Judas, para deter o Messias, Efraim ben Assef estava à frente. E, sorrindo, ao algemar-lhe o pulso, qual se prendesse temível salteador, perguntou, sarcástico:
— Não reages, galileu?
11 Mas o Cristo pousou nele, de novo, o olhar tranquilo e disse apenas:
— É preciso compreender e servir mais.
Irmão X
(Humberto de Campos)
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Quem busque a felicidade
Viva e lute pelo bem,
Abençoe tudo o que exista,
Não pense mal de ninguém. ( † )
Martins Coelho
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Amor puro tem na face
A compreensão por dever,
Como a fonte quando nasce
E canta sem perceber. ( † )
Marcelo Gama
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Se você está governado, efetivamente, pelo ideal superior, esqueça o amigo que desertou, a mulher que fugiu, o companheiro ingrato e o irmão incompreensível. Todos eles estão aprendendo e passando, como acontece a você mesmo… O que importa é a intensificação da luz, o progresso da verdade e a vitória do bem. ( † )
André Luiz
[1] Esta mensagem foi publicada originalmente em 1964 pela FEB e é a 7ª lição do
livro “Contos desta e doutra vida.”