1 Querida Luzia, n querida filha. Deus nos abençoe.
2 Ainda me vejo bastante encabulado, depois de haver perdido o corpo, em companhia de nosso Pedrinho, n mas o corpo que perdemos não é o verdadeiro.
3 Isso que usamos no mundo como sendo nós mesmos, é uma luva que pode ser retirada a qualquer momento, enquanto andamos por aí.
4 O Éder n não teve culpa de me pedir fosse atender ao Flávio, n que estava em dificuldade para sair das águas. n Peço a você pedir à Maria n para que se conforme sem acusações para com os nossos meninos.
5 Todos eles sofrem com o assunto lembrado a qualquer hora, e isso resultará em sofrimento para nós todos, se continuar. O Adriano, o Alexandre e o Éder n estão numa idade muito melindrosa, idade de fotografar tudo o que se fala por dentro de casa, e muito me preocupa ouvir sua mãe a chorar e a dizer-se infeliz com os filhos que temos, mesmo porque os meninos são muito bons de coração, e não desejo que se tornem homens lastimando a vida.
6 A nossa Maria nos auxiliará, abstendo-se de repetir aquelas tremendas recordações que não têm razão de ser. Peço a você dizer a ela que o meu avô Pedro, n o Dr. Alberto e o Dr. Adalcindo n nos ajudaram com muita segurança, e que tanto eu quanto o Pedrinho vamos seguindo bem.
7 Tive a permissão apenas para transmitir este pedido.
8 Querida filha Luzia, muito grato a você pela oportunidade de articular este recado.
9 Pede a Jesus abençoe os seus passos o papai sempre amigo,
Pedro n
1 Querida Luzia, minha querida filha, Deus abençoe o seu coração e o seu caminho.
2 Estou aqui com o auxílio de amizades que me amparam o desejo ardente de enviar a vocês alguma notícia nossa. Você sabe que seu pai não sabe escrever para encantar os olhos de quantos me leiam.
3 Não voltei para cá, premiado com certos conhecimentos que se fazem necessários para que se comece aqui uma subida aos montes da cultura espiritual. Recordemos nós dois que trouxe comigo, além da felicidade que a sua querida mãe e os filhos me deram, somente a alegria de ser devoto e festeiro em homenagem à Santa Rita. n
4 Com isso, minha filha, quero declarar que, se trouxe algo de bom, foi a fé que me unia aos Altos Céus, sem que eu tivesse consciência disso. Confiava em Deus e nos santos. Para mim isso bastava, com a paz da família que sempre amei com extremada ternura.
5 Você e os nossos não conseguem imaginar as emoções que me tomaram, quando justamente no dia de nossa festa, entendi que me cabia salvar o Flavinho, que víamos em dificuldade nas águas do Paranaíba. Atirei-me instintivamente naquele mar de águas grossas, e acabei me atrapalhando… n
6 Senti que a terra me faltava aos pés e que se abria uma cava enorme, encoberta pelas águas. Desci, inconsciente, por aquele abismo aberto, e mal sabia que o nosso Pedrinho também se jogou naquele mundo líquido, e encontrou outra abertura para baixo, sendo engolido por aquele solo que os de fora não conseguiam ver.
7 Meus últimos pensamentos foram para Deus, para a esposa e para vocês, os filhos que ficavam… Estava sufocado, para pensar com acerto, e meus raciocínios vacilaram, até que não vi ou senti coisa alguma.
8 Somente depois, despertei com a proteção de meus avós, numa casa acolhedora, onde o Pedrinho já se achava à minha espera.
9 Não sei se você, minha filha, tão moça, como está, poderá avaliar o sofrimento de um pai que se reconhece separado repentinamente da esposa e dos filhos que mais amo, e por isso meu pensamento se recusava a ver o que cercava para refletir em Porto Barreiro, n onde havia deixado vocês.
10 Só a Bondade de Deus e o tempo me fizeram aceitar a realidade que eu não conseguiria modificar, e desde então, com o nosso Pedrinho e com Mãe Augusta n e outros amigos, me esforço para auxiliar a família, embora já esteja consciente de que apenas Deus consegue fazer a felicidade do nosso grupo doméstico.
11 Diga à sua querida mãe, nossa querida Maria, que venho fazendo o possível para ser útil a todos os meus filhos, principalmente ao Herivelto e à Donátila. n
12 Peço a vocês todos paciência e tolerância, de uns para com os outros, sustentando a paz de casa. Por muito que eu pudesse fazer, e consigo ainda tão pouco, não poderia plasmar em cada um de vocês a paz e a alegria que lhes desejo.
13 Por isso, filha, entrego vocês todos a Deus, rogando à Providência Divina nos guie e nos abençoe.
14 Em família, quando aprendemos a calar para que outro fale mais alto, quando reconhecemos que todos somos portadores de defeitos que a Vida nos ensinará a corrigir, tudo segue com mais harmonia e segurança para a frente.
15 Estas palavras são as que dedico a seus irmãos, pedindo a Jesus a todos nos proteja e nos abençoe.
16 Diga à mamãe que o Pedrinho e eu a adoramos, e que ela vive em nossos corações, sempre mais a cada dia.
17 Querida filha, agradeço a você por haver tentado este encontro em que lhe falo com o meu coração nas palavras, e receba com todos os nossos, as lembranças, as esperanças e os agradecimentos do papai
Pedro de Souza
Deixando para a parte final deste capítulo os nossos ligeiros comentários sobre as duas belíssimas mensagens que acabamos de ler, lancemos mão do precioso material que os amigos Sr. Urbano T. Vieira e D. Ondina, acompanhado de gentil carta, datada de Araguari, 12/5/1983, nos passaram às mãos.
Na Manhã do Adeus
Pedro Souza era festeiro novenário da Festa de Santa Rita, na novena de sábado, dia 1º de setembro de 1979, no Porto Barreiro, povoado à margem do rio Paranaíba, município de Araguari, MG, para onde se dirigiu Pedro com familiares e amigos, em sua Kombi.
Como estava programada a procissão para domingo à tarde, permaneceram no local.
Domingo, de manhã, cerca de 9:00 horas, Pedro convida os familiares para uma chegada à beira do rio.
Desejava mostrar a paisagem e ilha próxima, para a sogra.
Acomodados à beira do grande rio, alguns sentados no barranco, Flavinho, sobrinho de Pedro, foi visto em dificuldades com as águas, ameaçado de afogamento.
Éder pede ao pai (Pedro Souza), socorrer Flávio.
Alguns familiares tentam entrar nas águas.
Um colega e amigo de Pedrinho (filho de Pedro Souza) consegue salvar Flavinho, mas Pedro Souza, que também acorrera ao salvamento de Flávio, começa a afundar…
Há gritarias e agitação.
Pedrinho, o filho, pula na água com a intenção de ajudar ao pai gritando para a mãe aflita:
— Fica tranquila! Agora mesmo, estaremos de volta!
Depois, a aparente tragédia, o desaparecimento dos corpos, só encontrados na segunda-feira (o do pai, Pedro Souza) e na terça (o do Pedro, filho) seguintes…
(Recebida a 14 de outubro de 1980)
1 — Espírito comunicante: Pedro Souza, nascido em Araguari, Minas, a 5 de agosto de 1930, e desencarnado, juntamente com o filho Pedro de Souza Filho, por afogamento, no rio Paranaíba, no município de Araguari, a 2 de setembro de 1979.
2 — Luzia: Luzia de Fátima Souza, filha de Pedro Souza, solteira, residente em Araguari.
3 — Pedrinho: Pedro de Souza Filho, nascido em Araguari, a 30 de agosto de 1962, e desencarnado junto com o pai, no rio Paranaíba, a 2 de setembro de 1979.
4 — Éder: Filho menor de Pedro Souza.
5 — Flávio: Menor, sobrinho de Pedro Souza.
6 — Maria: Maria de Oliveira e Souza, esposa de Pedro Souza, residente em Araguari, à Rua Dr. Ciro Palmerston, 381.
7 — Adriano, Alexandre, Éder: Filhos menores de Pedro Souza.
8 — Pedro: Avô de Pedro Souza, há muito desencarnado.
9 — Dr. Alberto e Dr. Adalcindo: Dr. Alberto Moreira e Dr. Adalcindo de Amorim, médicos humanitários, já desencarnados, há muitos anos, em Araguari, os quais, por seus méritos (deixaram largo exemplo de desprendimento cristão junto à chamada pobreza de Araguari, em seu apostolado médico), tiveram seus nomes agraciados pela municipalidade em tributo de gratidão e respeito, inclusive dados, por lei, a ruas da cidade.
10 — “O Éder não teve culpa de me pedir fosse atender ao Flávio, que estava em dificuldade para sair das águas.” — Tudo o que o Espírito comenta é absolutamente autêntico e inteiramente desconhecido do médium Xavier.
A esposa, limitada por antigas concepções próprias, profundamente atingida pela inesperada separação do companheiro e do filho, traumatizada, passou a chorar constantemente e imensamente a sua amargurada inconformação, com a ideia fixa de uma suposta culpabilidade, inclusive dos filhos menores, principalmente Éder, pelo ocorrido.
Conduta, entretanto, exemplarmente modificada, após a recepção desta primeira mensagem e seu contato com a Doutrina Espírita, em cujo movimento assistencial, notadamente nas tarefas de sopa aos mais necessitados, se encontra vinculada, até o presente momento.
Hoje, D. Maria sabe aconselhar às demais criaturas em semelhantes situações, quanto à necessidade da aceitação e renúncia, compreensão e amor, diante dos Desígnios de Deus.
(Recebida a 19 de novembro de 1982)
11 — “Devoto e festeiro em homenagem à Santa Rita”: Prova inconcussa da autenticidade desta página mediúnica.
12 — Porto Barreiro: Povoado à margem do Rio Paranaíba, município de Araguari.
13 — Mãe Augusta: Genitora desencarnada de Pedro Souza.
14 — Herivelto e Donátila: Filhos de Pedro Souza, residentes em Araguari.
15 — “Atirei-me instintivamente naquele mar de águas grossas, e acabei me atrapalhando… / Senti que a terra me faltava aos pés e que se abria uma cava enorme, encoberta pelas águas.” — Remetendo o leitor ao Capítulo 3, acima; às páginas 112-115 de “Anuário Espírita 1964”; n ao Capítulo 13 de “Presença de Chico Xavier”, n e às páginas 143-144 de As Curas Milagrosas (original inglês: Miracle Cures for the Millions), de G. Victor Levesque, n transcrevamos [v. Anexo ao capítulo 8] parte de um excelente estudo de Ernesto Bozzano, inserto na obra-prima que é “A Crise da Morte”. n
Elias Barbosa
Anuário Espírita 1964, “Evidente demonstração de que a morte não é o fim”, IDE, Araras, SP.
Elias Barbosa, “Presença de Chico Xavier”, 2ª edição, revista, 1979, IDE, Araras, SP, pp. 56-58.
G. Victor Levesque, “As Curas Milagrosas”, Trad. de Paulo Perdigão, Edições Bloch, Primeira edição brasileira: 1972, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Ernesto Bozzano, “A Crise da Morte”, segundo o depoimento dos Espíritos que se comunicam, Trad. de Guillon Ribeiro, FEB, Rio, 4ª edição, 1979. pp. 23-24.