O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 22

Adolfo Aleixo Martins


INVESTIMENTOS NO BANCO DA DIVINA PROVIDÊNCIA

Dez anos se passaram desde o 30 de abril de sua desencarnação… E, em 1978, na mesma data, 30 de abril, Adolfo Aleixo Martins voltou a dialogar, pela psicografia de Chico Xavier, com os familiares queridos que deixou na Terra. Homem metódico, curiosamente, ele “manteve a tradição” quanto ao calendário, pois nasceu a 30 de abril de 1903…

Em carta afetuosa, mostra-se perfeitamente entrosado com a família terrena, provando que, embora domiciliado no Além, há uma década, acompanhou todos os passos de seus entes amados, com carinho e dedicação, e, nessa primeira oportunidade, vem ofertar-lhes oportunas orientações.

“Não acredite no poder da idade física ou da doença” — é uma advertência preciosa à esposa, já idosa e sempre adoentada. E ao filho Lélio, exterioriza sua “satisfação de vê-lo cada vez mais empenhado ao serviço de socorro aos nossos irmãos enfermos .”

Em sua Segunda Carta (de 06/01/1983), quase cinco anos após a Primeira, volta a realçar a importância do serviço assistencial, afirmando, com sabedoria, que “trabalho no auxílio aos outros, é o outro lado de nossa cura” e “os investimentos no Banco da Divina Providência são os mais valiosos.”




PRIMEIRA CARTA


1 Querida Telva, peço a Deus nos proteja e nos abençoe.

2 A emoção é muito grande, para caber em letras assim tão pequenas.

3 Dez anos de saudade, embora todo esse tempo esteja para nós dois iluminado pela fé.

4 Dizer a você o que tem sido a renovação para mim é qualquer coisa de impossível. Depois daquelas semanas em luta com o corpo físico, reconheço que me libertei da prova, à maneira de um homem que conseguisse sair de uma casa em pedaços…

5 É verdade que saí, mas não me libertei de mim mesmo… Você, a companheira de todos os dias, e os filhos queridos, me povoam os pensamentos.

6 A gente crê por aí que a desencarnação é um ato de vida repleto das ideias de Deus — de Deus somente — mas Deus está no amor que cultivamos uns pelos outros. Impossível arredar para longe, deixando-a a sós com os nossos rapazes e tarefas.

7 Amparado por minha mãe Adelaide, e por nosso amigo Flores, que me esperavam de braços abertos, o que eu chorei não posso contar ao seu coração, porque as lágrimas eram a alegria de alcançar uma vida nova, com tanta proteção em meu favor, e o sofrimento de deixá-los, sem minha presença.

8 Sabemos que a presença indispensável é a de Deus, mas querida Etelvina, quem é pai ou mãe sabe que o amor pela família é tudo de melhor que uma pessoa guarda consigo e temos a presunção de que os entes amados não serão felizes sem nós.

9 Mas aí está você, com a sua dedicação de sempre, trabalhando por dois — você e eu mesmo.

10 Agradeço ao seu carinho, tudo o que fez por mim, em todos os tempos de nossa vida no lar, e peço a Jesus recompense o seu coração com forças sempre novas para a continuidade do trabalho.

11 Escorei-me muitas vezes em sua fé para não desanimar e, embora me reconheça pequeno qual ainda sou, quero afirmar que prossigo ao seu lado e ao lado de nossos filhos, esforçando-me para lhes ser útil.

12 Tenho aqui em minha companhia a mamãe Adelaide, o Antônio, o João e familiares outros que nos amparam quanto possível.

13 De quando a quando, em família, realizamos as nossas peregrinações de carinho para rever o Joaquim, a Dilica, o Denizard e tantos outros de nossos parentes. Quanto a mim pessoalmente, acompanho a vocês, o tesouro doméstico que Deus me concedeu, buscando refazer as suas forças para que o desânimo não visite os seus espíritos decididos no dever que o Alto nos deu a cumprir.

14 Não acredite no poder da idade física ou da doença. O tempo no corpo e a enfermidade são alguma coisa; mas não são forças irresistíveis. Não interrompa as suas atividades, conquanto em certas horas se veja você obrigada a reduzi-las.

15 Guarde a sua confiança em Jesus porque o Senhor não está ausente. A prece sempre foi uma bênção em nossa casa e, na oração, você terá seus recursos reajustados quanto à saúde física, sem desprezar a medicação como é claro.

16 Estou muito contente com as tarefas que o nosso Lélio vem abraçando em auxílio aos irmãos doentes. Peço a você não se preocupar se o nosso rapaz ainda não cogitou de casar-se. Isso fica para os Desígnios da Vida Superior. O que me comove é a satisfação de vê-lo cada vez mais empenhado ao serviço de socorro aos nossos irmãos enfermos. Peço a Deus o proteja, renovando-lhe os meios de auxiliar.

17 Quanto ao nosso caro Adolfinho, não o esqueço nos votos ao Senhor para que o vejamos feliz junto da companheira e dos filhinhos. Maria Luíza é uma criatura de qualidades nobres, capaz de impulsioná-lo à realizações sempre maiores, e os nossos queridos netos Wladimir e Adriana, são duas esperanças em meu coração.

18 Qual você consegue observar, a morte não é uma ocorrência que nos modifique tanto, qual anteriormente supúnhamos. Ainda sou o mesmo homem ligado aos meus, entretanto agora, dou mais valor aos seus apontamentos de companheira. Querida Etelvina, uma esposa amiga e devotada para seu velho, agora mais se parece a um coração de mãe a velar pelo marido.

19 Perdoe as minhas teimosias e as horas de irritação que me tomavam sem motivo. Afinal, hoje creio que, em muitos casos, a pessoa quase sempre, apenas depois da morte do corpo, é que sabe avaliar com mais segurança a felicidade que guardou nas mãos. 20 Digo isso, porém, sabendo que me regozijo por encontrar as suas preces clareando as estradas que devo percorrer, e ignoro como agradecer tanto devotamento de sua parte para com o velho companheiro que lhe vem beijar as mãos.

21 Telva querida, não posso escrever mais. Abençoe nossos filhos por mim, afirmando-lhes que essa bênção não é minha, e sim a que peço diariamente a Deus em nosso benefício.

22 Agradeço à estimada companheira de viagem, a nossa prezada Virginita, que ficou a seu lado, com o carinho de uma filha espiritual.
Antônio deixa um abraço para você e como sempre pede a aprovação do seu olhar para a minha felicidade, e roga a Jesus por sua felicidade.

23 O esposo e irmão na Vida Maior que lhe entrega hoje como sempre, todo o seu coração, no carinho e no reconhecimento de todos os instantes,


Adolpho


Notas e Identificações

1 - Querida Telva — Assim chamava, na intimidade, sua esposa Etelvina Martins, atualmente com 77 anos, residente em Belo Horizonte, MG, à Av. Afonso Pena, 1735 apart. 302.

2 - Depois daquelas semanas em luta com o corpo físico — Ele muito sofreu com a enfermidade, tumor de próstata, que o levou à desencarnação.

3 - Mãe Adelaide — Adelaide Francisco Aleixo, progenitora desencarnada.

4 - Amigo Flores — Antônio Loreto Flores, grande amigo, foi um espírita devotado. Médium receitista e de desdobramento. Fundou o Centro Espírita “Amor e Caridade”, de Belo Horizonte, e o Centro Espírita “Campos Vergal” na Colônia Santa Isabel (de hansenianos), em Betim, MG.

5 - Antônio — Antônio Aleixo Martins, irmão desencarnado. Presidiu o Centro Espírita “Amor e Caridade”, de Belo Horizonte, durante 30 anos.

6 - Joaquim, Dilica e Denizard — Irmãos. Os dois primeiros residem em Bicas, MG, e o último em Belo Horizonte.

7 - Tarefas que o nosso Lélio vem abraçando em auxílio aos irmãos doentes (…) ainda não cogitou de casar-se. — Lélio Aleixo Martins da Silva, filho, casou-se em 1987. Participa, com a esposa Sarah, de uma Caravana que visita, mensalmente, a Colônia Santa Isabel e creches de excepcionais, dando continuidade às tarefas iniciadas pelo progenitor junto aos irmãos tuberculosos dos Sanatórios localizados na periferia de Belo Horizonte.

8 - Adolfinho, Maria Luíza, Wladimir e Adriana — Família constituída pelo seu filho Adolfo Aleixo Martins da Silva, nora e netos.

9 - Virginita — Doméstica que acompanhou D. Etelvina a Uberaba.

10 - Adolpho — Para surpresa da família, tanto nesta carta, como na Segunda, o sr. Adolfo Aleixo Martins assinou o seu nome com ph, mostrando que adotou essa grafia no Mais Além. Nasceu em Bicas, mas radicou-se na Capital mineira, como comerciante, desde a juventude, aí residindo até a desencarnação. Autodidata, cultivava a literatura, com muita inspiração para a poesia. Deixou versos esparsos, trovas e poesias, muitas com conteúdo espírita.




SEGUNDA CARTA


1 Querida Telva, peço a Jesus nos abençoar. (…)

2 Sigo você e o nosso querido Lélio, na tarefa de cooperar pela manutenção da outra família nossa: a família dos irmãos necessitados para quem as nossas migalhas de amor são estrelas de carinho que eles recolhem no coração.

3 Etelvina, nunca aprendi tanto, como nestes anos últimos, nos quais compartilho dessas abençoadas campanhas de paz e luz nas quais recebemos tanto, fazendo o nosso pouco de trabalho e concurso fraterno…  4 Um dia vocês reconhecerão também, aqui na Vida Espiritual, que os mais valiosos investimentos, são esses que se nos faculta, o Alto, a alegria de realizar no Banco da Divina Providência.

5 Quem dá possui sempre mais do que cede de si mesmo, e conserva sempre o crédito adquirido, perante o Senhor, na pessoa desse ou daquele irmão que nos permite efetuar o trabalho do bem, que se nos faça possível. 6 Os nossos amigos hansenianos, os nossos doentes desvalidos, as crianças que sofreram o peso das provações no início da própria existência, à maneira de flores dilaceradas por tempestades do mundo, nas horas do próprio desabrochar ou nos momentos do amanhecer, são benditos companheiros nossos, e benditos sejam esses nossos credores, a quem buscamos entregar o possível de nossos recursos e de nosso amparo, entendendo que acompanhar a Jesus, será servi-Lo na pessoa do próximo — a ponte de nosso encontro na Luz Maior. (…)

7 Estas minhas notícias simples, ao lado de nossas companheiras Iolanda e Neuceli, são unicamente o meu anseio de trazer a você a certeza de nossa presença incessante. Ontem, era eu o homem nem sempre interessado no ideal de servir, quase sempre cercado pelas forças da indiferença; hoje, no entanto, a vida verdadeira esculpiu, em meu coração, o esposo e pai mais dedicado e compreensivo que poderia ter sido. (…)

8 Peço a você continuar em seu tratamento de saúde, mas não perca a sua alegria de agir e viver. Toda indisposição física é inerente ao corpo que passa, embora nos caiba o dever de prestar ao corpo físico, a assistência necessária.

9 Trabalho no auxílio aos outros, é o outro lado de nossa cura, em qualquer setor do mundo em que nos achemos. (…)

10 O seu companheiro e esposo amigo e servidor de sempre,


Adolpho


Nota

11 - Iolanda e Neuceli — Dedicadas obreiras espíritas, vinculadas ao Grupo “Bezerra de Menezes”, de São Paulo, SP, que presta assistência aos necessitados, especialmente aos irmãos hansenianos.


Hércio Marcos C. Arantes


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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