Dez anos se passaram desde o 30 de abril de sua desencarnação… E, em 1978, na mesma data, 30 de abril, Adolfo Aleixo Martins voltou a dialogar, pela psicografia de Chico Xavier, com os familiares queridos que deixou na Terra. Homem metódico, curiosamente, ele “manteve a tradição” quanto ao calendário, pois nasceu a 30 de abril de 1903…
Em carta afetuosa, mostra-se perfeitamente entrosado com a família terrena, provando que, embora domiciliado no Além, há uma década, acompanhou todos os passos de seus entes amados, com carinho e dedicação, e, nessa primeira oportunidade, vem ofertar-lhes oportunas orientações.
“Não acredite no poder da idade física ou da doença” — é uma advertência preciosa à esposa, já idosa e sempre adoentada. E ao filho Lélio, exterioriza sua “satisfação de vê-lo cada vez mais empenhado ao serviço de socorro aos nossos irmãos enfermos .”
Em sua Segunda Carta (de 06/01/1983), quase cinco anos após a Primeira, volta a realçar a importância do serviço assistencial, afirmando, com sabedoria, que “trabalho no auxílio aos outros, é o outro lado de nossa cura” e “os investimentos no Banco da Divina Providência são os mais valiosos.”
PRIMEIRA CARTA
1 Querida Telva, peço a Deus nos proteja e nos abençoe.
2 A emoção é muito grande, para caber em letras assim tão pequenas.
3 Dez anos de saudade, embora todo esse tempo esteja para nós dois iluminado pela fé.
4 Dizer a você o que tem sido a renovação para mim é qualquer coisa de impossível. Depois daquelas semanas em luta com o corpo físico, reconheço que me libertei da prova, à maneira de um homem que conseguisse sair de uma casa em pedaços…
5 É verdade que saí, mas não me libertei de mim mesmo… Você, a companheira de todos os dias, e os filhos queridos, me povoam os pensamentos.
6 A gente crê por aí que a desencarnação é um ato de vida repleto das ideias de Deus — de Deus somente — mas Deus está no amor que cultivamos uns pelos outros. Impossível arredar para longe, deixando-a a sós com os nossos rapazes e tarefas.
7 Amparado por minha mãe Adelaide, e por nosso amigo Flores, que me esperavam de braços abertos, o que eu chorei não posso contar ao seu coração, porque as lágrimas eram a alegria de alcançar uma vida nova, com tanta proteção em meu favor, e o sofrimento de deixá-los, sem minha presença.
8 Sabemos que a presença indispensável é a de Deus, mas querida Etelvina, quem é pai ou mãe sabe que o amor pela família é tudo de melhor que uma pessoa guarda consigo e temos a presunção de que os entes amados não serão felizes sem nós.
9 Mas aí está você, com a sua dedicação de sempre, trabalhando por dois — você e eu mesmo.
10 Agradeço ao seu carinho, tudo o que fez por mim, em todos os tempos de nossa vida no lar, e peço a Jesus recompense o seu coração com forças sempre novas para a continuidade do trabalho.
11 Escorei-me muitas vezes em sua fé para não desanimar e, embora me reconheça pequeno qual ainda sou, quero afirmar que prossigo ao seu lado e ao lado de nossos filhos, esforçando-me para lhes ser útil.
12 Tenho aqui em minha companhia a mamãe Adelaide, o Antônio, o João e familiares outros que nos amparam quanto possível.
13 De quando a quando, em família, realizamos as nossas peregrinações de carinho para rever o Joaquim, a Dilica, o Denizard e tantos outros de nossos parentes. Quanto a mim pessoalmente, acompanho a vocês, o tesouro doméstico que Deus me concedeu, buscando refazer as suas forças para que o desânimo não visite os seus espíritos decididos no dever que o Alto nos deu a cumprir.
14 Não acredite no poder da idade física ou da doença. O tempo no corpo e a enfermidade são alguma coisa; mas não são forças irresistíveis. Não interrompa as suas atividades, conquanto em certas horas se veja você obrigada a reduzi-las.
15 Guarde a sua confiança em Jesus porque o Senhor não está ausente. A prece sempre foi uma bênção em nossa casa e, na oração, você terá seus recursos reajustados quanto à saúde física, sem desprezar a medicação como é claro.
16 Estou muito contente com as tarefas que o nosso Lélio vem abraçando em auxílio aos irmãos doentes. Peço a você não se preocupar se o nosso rapaz ainda não cogitou de casar-se. Isso fica para os Desígnios da Vida Superior. O que me comove é a satisfação de vê-lo cada vez mais empenhado ao serviço de socorro aos nossos irmãos enfermos. Peço a Deus o proteja, renovando-lhe os meios de auxiliar.
17 Quanto ao nosso caro Adolfinho, não o esqueço nos votos ao Senhor para que o vejamos feliz junto da companheira e dos filhinhos. Maria Luíza é uma criatura de qualidades nobres, capaz de impulsioná-lo à realizações sempre maiores, e os nossos queridos netos Wladimir e Adriana, são duas esperanças em meu coração.
18 Qual você consegue observar, a morte não é uma ocorrência que nos modifique tanto, qual anteriormente supúnhamos. Ainda sou o mesmo homem ligado aos meus, entretanto agora, dou mais valor aos seus apontamentos de companheira. Querida Etelvina, uma esposa amiga e devotada para seu velho, agora mais se parece a um coração de mãe a velar pelo marido.
19 Perdoe as minhas teimosias e as horas de irritação que me tomavam sem motivo. Afinal, hoje creio que, em muitos casos, a pessoa quase sempre, apenas depois da morte do corpo, é que sabe avaliar com mais segurança a felicidade que guardou nas mãos. 20 Digo isso, porém, sabendo que me regozijo por encontrar as suas preces clareando as estradas que devo percorrer, e ignoro como agradecer tanto devotamento de sua parte para com o velho companheiro que lhe vem beijar as mãos.
21 Telva querida, não posso escrever mais. Abençoe nossos filhos por mim, afirmando-lhes que essa bênção não é minha, e sim a que peço diariamente a Deus em nosso benefício.
22 Agradeço à estimada companheira de viagem, a nossa prezada Virginita, que ficou a seu lado, com o carinho de uma filha espiritual.
Antônio deixa um abraço para você e como sempre pede a aprovação do seu olhar para a minha felicidade, e roga a Jesus por sua felicidade.
23 O esposo e irmão na Vida Maior que lhe entrega hoje como sempre, todo o seu coração, no carinho e no reconhecimento de todos os instantes,
Adolpho
Notas e Identificações
1 - Querida Telva — Assim chamava, na intimidade, sua esposa Etelvina Martins, atualmente com 77 anos, residente em Belo Horizonte, MG, à Av. Afonso Pena, 1735 apart. 302.
2 - Depois daquelas semanas em luta com o corpo físico — Ele muito sofreu com a enfermidade, tumor de próstata, que o levou à desencarnação.
3 - Mãe Adelaide — Adelaide Francisco Aleixo, progenitora desencarnada.
4 - Amigo Flores — Antônio Loreto Flores, grande amigo, foi um espírita devotado. Médium receitista e de desdobramento. Fundou o Centro Espírita “Amor e Caridade”, de Belo Horizonte, e o Centro Espírita “Campos Vergal” na Colônia Santa Isabel (de hansenianos), em Betim, MG.
5 - Antônio — Antônio Aleixo Martins, irmão desencarnado. Presidiu o Centro Espírita “Amor e Caridade”, de Belo Horizonte, durante 30 anos.
6 - Joaquim, Dilica e Denizard — Irmãos. Os dois primeiros residem em Bicas, MG, e o último em Belo Horizonte.
7 - Tarefas que o nosso Lélio vem abraçando em auxílio aos irmãos doentes (…) ainda não cogitou de casar-se. — Lélio Aleixo Martins da Silva, filho, casou-se em 1987. Participa, com a esposa Sarah, de uma Caravana que visita, mensalmente, a Colônia Santa Isabel e creches de excepcionais, dando continuidade às tarefas iniciadas pelo progenitor junto aos irmãos tuberculosos dos Sanatórios localizados na periferia de Belo Horizonte.
8 - Adolfinho, Maria Luíza, Wladimir e Adriana — Família constituída pelo seu filho Adolfo Aleixo Martins da Silva, nora e netos.
9 - Virginita — Doméstica que acompanhou D. Etelvina a Uberaba.
10 - Adolpho — Para surpresa da família, tanto nesta carta, como na Segunda, o sr. Adolfo Aleixo Martins assinou o seu nome com ph, mostrando que adotou essa grafia no Mais Além. Nasceu em Bicas, mas radicou-se na Capital mineira, como comerciante, desde a juventude, aí residindo até a desencarnação. Autodidata, cultivava a literatura, com muita inspiração para a poesia. Deixou versos esparsos, trovas e poesias, muitas com conteúdo espírita.
SEGUNDA CARTA
1 Querida Telva, peço a Jesus nos abençoar. (…)
2 Sigo você e o nosso querido Lélio, na tarefa de cooperar pela manutenção da outra família nossa: a família dos irmãos necessitados para quem as nossas migalhas de amor são estrelas de carinho que eles recolhem no coração.
3 Etelvina, nunca aprendi tanto, como nestes anos últimos, nos quais compartilho dessas abençoadas campanhas de paz e luz nas quais recebemos tanto, fazendo o nosso pouco de trabalho e concurso fraterno… 4 Um dia vocês reconhecerão também, aqui na Vida Espiritual, que os mais valiosos investimentos, são esses que se nos faculta, o Alto, a alegria de realizar no Banco da Divina Providência.
5 Quem dá possui sempre mais do que cede de si mesmo, e conserva sempre o crédito adquirido, perante o Senhor, na pessoa desse ou daquele irmão que nos permite efetuar o trabalho do bem, que se nos faça possível. 6 Os nossos amigos hansenianos, os nossos doentes desvalidos, as crianças que sofreram o peso das provações no início da própria existência, à maneira de flores dilaceradas por tempestades do mundo, nas horas do próprio desabrochar ou nos momentos do amanhecer, são benditos companheiros nossos, e benditos sejam esses nossos credores, a quem buscamos entregar o possível de nossos recursos e de nosso amparo, entendendo que acompanhar a Jesus, será servi-Lo na pessoa do próximo — a ponte de nosso encontro na Luz Maior. (…)
7 Estas minhas notícias simples, ao lado de nossas companheiras Iolanda e Neuceli, são unicamente o meu anseio de trazer a você a certeza de nossa presença incessante. Ontem, era eu o homem nem sempre interessado no ideal de servir, quase sempre cercado pelas forças da indiferença; hoje, no entanto, a vida verdadeira esculpiu, em meu coração, o esposo e pai mais dedicado e compreensivo que poderia ter sido. (…)
8 Peço a você continuar em seu tratamento de saúde, mas não perca a sua alegria de agir e viver. Toda indisposição física é inerente ao corpo que passa, embora nos caiba o dever de prestar ao corpo físico, a assistência necessária.
9 Trabalho no auxílio aos outros, é o outro lado de nossa cura, em qualquer setor do mundo em que nos achemos. (…)
10 O seu companheiro e esposo amigo e servidor de sempre,
Adolpho
Nota
11 - Iolanda e Neuceli — Dedicadas obreiras espíritas, vinculadas ao Grupo “Bezerra de Menezes”, de São Paulo, SP, que presta assistência aos necessitados, especialmente aos irmãos hansenianos.
Hércio Marcos C. Arantes