Quando retornava ao seu lar, em São José do Rio Preto, SP, viajando a sós, procedente de São Paulo, Júnior sofreu um acidente fatal próximo à cidade de Araraquara, em 4 de janeiro de 1984, com o capotamento inexplicável de seu Chevete.
Era um jovem alegre, esportista e estudioso, prestes a cursar o terceiro Colegial, filho único do casal Luiz Roberto Estuqui e Alzira de Souza Ita Estuqui.
Suas cartas mediúnicas, ricas em esclarecimentos transmitidos pelo avô Diego e pelo tio Joãozinho, muito confortaram seus progenitores, e, por certo, beneficiarão a muitos irmãos que passam por provas semelhantes. Aliás, o próprio Júnior explica: “Trago-vos estes apontamentos porque o meu avô Diego Ita considera isso oportuno para muitas famílias, que perderam entes amados, nos primeiros tempos de juventude.”
Destacaremos, na Segunda Carta, a narrativa do tio Joãozinho com respeito ao seu acidente fatal, numa queda de avião, em 1976, com raízes em crimes cometidos há mais de trezentos anos.
PRIMEIRA CARTA
1 Querida mãezinha Alzira e querido papai Luiz Roberto, peço-lhes a bênção.
2 Estou ainda sob os efeitos daquela reviravolta da máquina que, até hoje, não sei compreender. Desajustado. Difícil. Traumatizado. Mas, não há de ser nada. Um dia vem sempre depois de outro e o tempo tudo restaura para o bem.
3 Estou sinceramente comovido e assombrado: Não contava com isso. Escrever-lhes depois da transferência que não pedi e que devo aceitar.
4 Creio que é preciso muita gentileza e muita tolerância, somando bondade, para se reunirem tantos amigos, com o objetivo de apoiar os que esmoreceram na chamada desencarnação e se viram surpreendentemente vivos; quando se supunham mortos e inúteis para sempre.
5 De qualquer modo, agradeço a este plantão de amor ao próximo que me possibilita a transmissão destas notícias.
Não posso divagar em muitas considerações, embora me sinta efetivamente reconhecido. 6 Pensando assim me utilizo da mão que me serve, como quem se vê obsequiado por uma luva, a fim de vencer os tropeços que nos separam imaginariamente.
7 Digo imaginariamente, porque a verdade é que seguimos juntos, pelas forças espirituais que nos prendem uns aos outros.
8 Não tenho muito a descrever quanto ao acidente havido. Seguia a viagem de férias com o íntimo ensolarado de alegria. Nada me toldava o pensamento. Creio que um obstáculo que não reconheci me compeliu ao capotamento. 9 Quis gritar por meu pai, rogar socorro, despertar algumas pessoas nas adjacências para que alguma providência me amparasse; entretanto, do cérebro não mais recebi forças para fazer sinais, como sejam a palavra, o grito, a súplica, o berro de dor… 10 Minhas energias se apagaram numa parcela mínima de tempo e nada mais registrei. 11 Tive a ideia vaga de quem sonha, fora da realidade, ao ver que populares e desconhecidos me cercaram. Nada mais. 12 O desmaio foi compulsivo, suave e aterrador ao mesmo tempo. Suave, porque o sofrimento do corpo, um tanto amassado, se me aliviou de repente; e aterrador, porque intuitivamente sabia que estava entrando no domínio do desconhecido, sem qualquer luz que me clareasse no labirinto. Mais nada.
13 Admito que horas longas se passaram, até que acordei vagarosamente num aposento que não me era familiar. Trazia nos olhos um peso esquisito, que não me permitia reconhecer os que me rodeavam. Uma senhora e dois homens, que divisei a princípio, como que envoltos na névoa. 14 Por fim, a senhora me falou com brandura que me achava ali, junto dela, tia Maria, e não havia razão para receios. Ali, encorajado, ganhei novas forças e meus olhos se revigoraram. Foi então que reconheci, ao meu lado, o avô Diego Adão e nosso dedicado amigo Fausto. Fiquei atoleimado, porque a presença do vovô Diego era um convite a refletir na morte.
15 Tia Maria, a enfermeira que me socorria com presteza e bondade, não estava em minha agenda de relações, mas vovô Diego era um problema diferente. Naturalmente, como aconteceria por aí, em qualquer hora grave, recordei o papai Luiz Roberto e a mãezinha Alzira, e desatei no pranto de criança grande que não deseja se apartar dos pais. Meu avô exortou-me à coragem. 16 Um menino, rapaz que praticava esportes até perigosos, que estimava viajar em carro próprio e sozinho, que estimava difíceis competições não poderia chorar, qual se estivesse atirado às traças, quando ele e outros amigos ali se encontravam prontos a me assistirem, fosse a questão qual fosse. 17 Tia Maria recordou orações. O nosso amigo Fausto brincou para chamar-me à tona de minhas obrigações de cavalheirismo, e a consolação me bafejou por momentos. Depois, mãezinha Alzira, ver os pais chorando, por minha causa me doeu ainda mais.
18 Enquanto o choque era meu, todas as emoções eram fáceis de atravessar; no entanto, visitá-los e senti-los arrasados de sofrimento era diferente. Dei-me pressa em me fortalecer para reconfortá-los, e venho pedir-lhes fé em Deus e coragem para as vitórias sobre os acontecimentos infelizes do mundo.
19 As saudades são muitas, mas estou bem, de vez que não me falta proteção. Penso que encontrarei motivações valiosas para estudar e trabalhar; mas, por enquanto, o corpo que não é corpo físico ainda me pesa bastante, e preciso desfazer as impressões de angústia que acumulei em torno de mim.
20 Agradeço a oportunidade que me proporcionaram no sentido de falar-lhes, ainda mesmo, sem melhorar o meu padrão de palavras, o que, de algum modo, me alivia de maneira surpreendente. Não chorem por mim, para que minhas lágrimas de saudade e inadaptação consigam diminuir. Lembrem-me forte e robusto. 21 A morte será um despojamento, mas não é a extinção do ser. Dirijo-me a ambos com o meu pensamento íntegro, na clara identidade de que sou eu mesmo a falar de mim próprio.
22 Agradeço-lhes, tanto quanto agradeço aos amigos, o auxílio que me prestaram, em matéria de amparo religioso. Toda ideia de carinho e todo voto de amor a Deus em meu benefício me serviram por degraus, na escada psicológica da reconquista de minha própria conscientização. Sou grato a todos.
23 Perdoem-me se encerro aqui estas linhas desvalidas de qualquer cuidado de minha parte. Escrevi unicamente para reafirmar-lhes quanto os amo e para que me saibam vivo, e a caminho de minha própria recuperação mais ampla.
24 Nada possuo de bom para lhes ofertar, mas aqui em companhia do meu avô Diego, peço-lhes receber o coração muito saudoso e muito reconhecido do filho e companheiro de sempre,
Luiz Roberto
Luiz Roberto Estuqui Júnior.
Notas e Identificações
1 - Psicografada a 24/02/1984.
2 - Vovô Diego Adão — Diego Ita Adão, desencarnado em 21/02/1982, aos 65 anos.
3 - Fausto (tio Joãozinho) — João Fausto Estuqui, desencarnado em 16/10/1976, aos 32 anos, vítima de acidente aéreo, na cidade de Votuporanga, SP.
4 - Luiz Roberto Estuqui Júnior — Nasceu a 03/12/1966 e deixou o Plano Físico aos 17 anos.
SEGUNDA CARTA
1 Querido papai Luiz Roberto e querida mãezinha Alzira, abençoem-me.
2 Estou aqui, satisfeito, por me sentir lembrado. Pai amigo, o tempo não é nosso inimigo e sim nos empresta os melhores valores da educação. 3 Nossa saudade tem sido um conflito em que nos sentimos atirados para compreender, com mais segurança, as provações dos outros. 4 Antes de nossa separação transitória, mamãe Alzira, você e eu não pensávamos tanto nas dificuldades do próximo, e hoje a dor dos que lutam e sofrem encontram eco imediato em nossas almas.
5 Tantas são as modificações em nossos hábitos, que somos impelidos a agradecer ao Senhor a desencarnação violenta a que fui trazido. Por isso, creio que um novo estágio de maturação chegou para nós, que sofremos com os desgostos e os contratempos de outros, que nos seguem a vida de cada dia.
6 O meu avô Diego Ita é de opinião que a morte, em qualquer tempo, será para nós todos, os que partimos e os que ficam, um estágio precioso de reflexão que nos impelem a suportar transformações, que sem ela estaríamos em dificuldades para alcançar.
7 De janeiro para cá passei por muitas mutações. O cérebro adquiriu o livre-arbítrio com responsabilidade, de tal maneira, que começamos sempre a pensar, antes de fazer isso ou aquilo, e aprendemos, sobretudo, a considerar os sofrimentos e os interesses alheios.
8 Aqui prossigo em meu curso de reajustamento. Estou mais calmo e com isso minhas esperanças são mais claras.
9 Muitas vezes, surpreendo-lhe o pensamento a indagar porque motivo teria sido eu chamado à Vida Espiritual, na fase em que mais poderia, talvez, ,me preparar a fim de auxiliá-lo. 10 Mas o tio Joãozinho, a quem levo as suas perquirições para estudo, e por entender melhor a vida, me respondeu que, por amigos daqui, veio a saber que milhões de pessoas estão passando pela desencarnação no tempo áureo da existência, porque nos achamos numa fase de muitas mudanças na Terra. 11 E aqueles Espíritos retardatários em caminho, quando induzidos a considerar a extensão das próprias dívidas, aceitam a prova da desencarnação mais cedo do que o tempo razoável para a partida, e são atendidos com a separação de pais e afetos outros, no período em que mais desejariam continuar vivendo, em razão do tempo que perderam com frivolidades nas vidas que usufruíram.
12 São muitos os companheiros que se retiraram da Terra, compulsoriamente; das comodidades humanas em que repousavam, de modo a rematarem o resgate de certos débitos que os obrigavam a sofrer no âmago da própria consciência. 13 Ele mesmo, o tio Joãozinho, me explicou que tendo pedido exames para saber o motivo pelo qual perdeu o corpo numa queda de avião, foi conduzido, por mentores competentes, junto dos quais pôde ver, num processo de regressão, as causas da desencarnação violenta pelo qual foi obrigado a alcançar. 14 Disse-me que conseguiu observar cenas tristes de que fora protagonista, há mais de trezentos anos, nas quais se via na posição de algoz de vasta comunidade humana, atirando pessoas humanas a poços de tamanho descomunal, por motivos sem maior importância. 15 Assim, ele precipitou muita gente do alto de montes ásperos e empedrados, com o objetivo de conquistar destaque nas posições da finança e do poder. 16 As faltas cometidas permaneceram impunes, por ausência de autoridades nas localidades de sua atuação, mas, perante a Justiça Divina, os disparates levados a efeito foram assinalados para resgate em tempo oportuno. 17 Desse modo, o tio afirmou que tendo arrasado a vida de muita gente, do ápice de montanhas alcantiladas e espinhosas, conseguiu liberar-se com a angústia por ele sofrida na queda da máquina que o resguardava. 18 Disse-me que a morte o liberava de pagamentos quase inexequíveis, e já que devia unicamente o remate de débitos contraídos, considerava o acidente aéreo uma solução benigna para ele que se vê agora, sem a mácula de culpa alguma.
19 Quando comuniquei a ele que me propunha a requisitar um exame de minha situação, apenas sorriu e me aconselhou a adiar o pedido. Afirmou ele: “— Luiz Roberto, há tempo bastante para compreendermos os males que nos ocorreram, e não vejo você claramente preparado para suportar, sorrindo, um resgate que talvez lhe custe muito sofrimento.” Desse modo, acomodei-me e não desejo saber, por agora, as causas do capotamento do carro que me retirou da vida. Esperarei.
20 O meu tio Joãozinho sabe melhor muitas minudências de nosso passado e devo amadurecer o meu raciocínio para saber, com vantagem, o porquê daquele carro capotado que me serviu de base à viagem do regresso à Vida Espiritual. Pai, há muito por aprender e fazer, e a precipitação não serve a ninguém.
21 Esta é uma lembrança que trago aos pais amigos, para que se reconfortem quanto ao acidente de que fui vítima, pois tem razão de ser, e muita gente, de nosso lado, vem aceitando rudes provações por desejar alcançar o Terceiro Milênio de consciência limpa e coração lavado.
22 Trago-lhes estes apontamentos porque o meu avô Diego Ita considera isso oportuno para muitas famílias, que perderam entes amados, nos primeiros tempos da juventude.
23 Mas fico por aqui, já que esta nota para nossos estudos é suficientemente clara para assimilarmos paciência e compreensão, diante de certos fatos amargos que nos alcançam.
24 Papai querido e querida mãezinha Alzira, com lembranças a todos os nossos, peço-lhes receber as muitas esperanças e saudades do filho sempre agradecido,
Luiz Roberto Estuqui Júnior
Notas
5 - Psicografada a 15/9/1984.
6 - Porque nos achamos numa fase de muitas mudanças na Terra. (…) e muita gente, de nosso lado, vem aceitando rudes provações por desejar alcançar o Terceiro Milênio de consciência limpa e coração lavado. — Encontramos na literatura espírita vários esclarecimentos, a respeito desse importante assunto, e dentre eles, citaremos:
1. Mensagem de São Luís, respondendo à última pergunta de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.
2. Prefácio, itens 8 e 9 do Cap. I, item 5 do Cap. IX e item 14 do Cap. XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, A. Kardec.
3. Regeneração da Humanidade, Segunda Parte, Obras Póstumas, A. Kardec.
4 e 5. Lição de Jesus, Cap. VI da Segunda Parte (Alvoradas do reino do Senhor), Há Dois Mil Anos e Cap. XXV (O Evangelho e o Futuro), A Caminho da Luz, ambos de Emmanuel, F. C. Xavier, FEB.
TERCEIRA CARTA
1 Querido papai Luiz e querida mãezinha Alzira, peço-lhes me abençoem.
2 Agradeço as preces e flores que me deram na semana penúltima. Dia 4 marcou um ano. 3 Felizmente não temos motivo para chorar, porque, em apenas um ano de espiritualidade, efetuamos abençoadas realizações com expressivos lucros espirituais.
4 A morte é uma interferência dolorosa no campo familiar, mas, da essência dela, decorrem ensinamentos de imensa importância. Tenho a ideia de que a dor e a saudade nos adoçaram os corações, impelindo-nos para um maior relacionamento com o mundo fora do nosso.
5 Possuíamos um amor a três, enraizado na vida, quase sem meios de se mostrar fora de nossas paredes domésticas; entretanto, o trio ampliou caminhos e criou motivações de caráter sublime, a fim de entendermos que existe muita gente com problemas muito mais difíceis do que os nossos.
6 É verdade que a carência afetiva quase nos conturba, mas a fé nos socorre patenteando-nos que a vida prossegue além do retângulo em que o nosso corpo inerte descansa.
7 Isso foi uma revolução em nossas vidas, de vez que, pela dor passamos a encontrar a ponte da comunicação uns com os outros. Graças a Deus, tudo se processou como o melhor para nós.
8 Mãezinha Alzira, agradeço as suas mensagens no silêncio, dialogando comigo quando o seu corpo físico repousa. Vejo-a mais serena e valorosa, e isso me traz reconforto.
9 Trabalhemos. Todo o bem que por ventura se faça possível semear, em auxílio aos outros, voltará sempre para nós com a mensagem de alegria apoiando-nos a caminhada.
10 Pai amigo, posso dizer-lhe que conheço não apenas o vovô Diego, mas também a querida Guela, a madrinha Sinhá, com que me entretenho buscando revê-los.
11 Somos todo um grupo de corações felizes, e rogamos a Jesus nos conserve a união, de modo a nos sustentarmos aptos para o trabalho que possamos desenvolver.
12 Conheço igualmente o Dr. Cenobelino de Barros Serra e o Dr. Justino de Carvalho, ambos médicos que se nos aliam aos serviços de beneficência, não somente na condição de médicos com deveres a serem cumpridos, mas acima de tudo na alegria de auxiliar aos que necessitam.
13 E a vida vai correndo, para mim com algum progresso no capítulo dos estudos que hoje compreendo que eles se nos fazem necessários. (…)
14 Com o amor e a lealdade do filho sempre reconhecido,
Luiz Roberto Estuqui Júnior
Nota e Identificações
7 - Psicografada a 12/01/1985.
8 - Querida Guela — Assim chamada, na intimidade, a bisavó materna Joana Robles, desencarnada em 26/5/1972.
9 - Madrinha Sinhá — Sua bisavó materna, Abília Alves de Oliveira, desencarnada em 02/7/1980.
10 - Dr. Cenobelino de Barros Serra — (01/04/1890 - 14/11/1953) Médico renomado, foi um dos fundadores da Santa Casa de S. José do Rio Preto, juntamente com outros 12 médicos, inclusive o Dr. Justino de Carvalho. Prefeito em 1928. Em 1916/1917, na Europa, prestou serviços em nome do Brasil, como chefe da Grande Comissão organizada pela Cruz Vermelha Internacional, durante a 1ª Grande Guerra. (Álbum de São José do Rio Preto)
11 - Dr. Justino de Carvalho — Conceituado médico, foi sócio-fundador da Sociedade de Medicina em 1925. De descendência portuguesa, foi Vice-Consul de Portugal em Rio Preto. Profissional muito caridoso, tornou-se um grande benfeitor dos enfermos mais humildes. (Álbum de S. J. do Rio Preto)
Hércio Marcos C. Arantes