O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 9

Carlos Alberto Gonçalez


“PEÇO-LHES NÃO DESPREZAREM A MOTO QUE ME FEZ O VEÍCULO DA VIAGEM FINAL”

Carlos Alberto Gonçalez era um apaixonado e grande defensor de motos. Sempre mudando de máquina, para melhor e mais sofisticada, já estava com a sua oitava moto, quando foi acidentado fatalmente.

A pancada na cabeça, decorrente de uma derrapagem com a moto, numa das ruas da Capital paulista, onde residia, pareceu sem maior importância aos médicos, na primeira consulta. Porém, o quadro clinico evoluiu desfavoravelmente, e na manhã do dia seguinte, 31 de março de 1985, desencarnou num hospital de Tatuapé.

Em sua primeira e confortadora carta mediúnica, quase cinco meses após o, desenlace, rica em esclarecimentos, não se esqueceu de defender as queridas motos, pedindo aos pais para não desprezá-las, argumentando que são veículos tanto respeitáveis quanto os outros.

A bela e colorida mensagem impressa pela família Gonçalez, apresenta, em destaque, este expressivo agradecimento: “Ao querido médium Chico Xavier, Deus o abençoe pela paz encontrada.”




1 Querido papai Manoel e querida mãezinha Lândia, peço-lhes me abençoem, oferecendo-lhes meu coração, extensivamente ao nosso Claudinei, presente em nossas preces.

2 Mãezinha Maria Orlândia, chamei-a por mãezinha Lândia para recordar os meus dias de criança, quando balbuciava as palavras sem aprender-lhes o sentido integral.

3 Querida mamãe e querido papai, vou seguindo muito bem, apesar das saudades que se ampliam ao invés de sofrerem qualquer diminuição.

4 Não se impressionem com o choque sofrido por mim, com a queda inesperada de nossa máquina que me servia tanto. Quem sabe a causa de um acidente daqueles? Às vezes, uma simples pedra na via pública, de outras, algum pedaço de madeira esquecido ao léu… Não posso culpar a ninguém.

5 A moto caiu por inteiro atirando-me a cabeça ao piso de cimento, e de nada mais soube senão que um torpor invencível me tomou os pensamentos e por mais desejasse levantar-me para tomar a minha posição normal, isso não mais me foi possível, e por segundos, à maneira de relâmpagos derradeiros na memória, revi a família na imaginação super-excitada.

6 Depois da queda, veio aquele branco, no qual não sei se adormeci ou se desmaiei. 7 Acordei, depois de muito tempo, creio eu, durante o qual estive inerte e incapaz de qualquer discernimento. Muito aos poucos, senti-me no corpo, à maneira de alguém que regressa vagarosamente à própria casa, e não consegui expressar-me, de pronto.

8 Notei que os meus olhos se retomavam nas órbitas e que, em minha boca, a língua ensaiava movimentos que me demorei a coordenar. 9 Um homem velava comigo e cheguei a reconhecê-lo, antes que a fala me voltasse ao campo da manifestação. Era o vovô Manoel que me passava a mão sobre a cabeça, como se quisesse restituir-me às ideias claras e exatas. 10 Penso que durante dois dias seguidos estive nessa vigília-sonolência, até que consegui dirigir-me ao avô, em cujo olhar brilhava o carinho que eu conhecia tão bem.

11 Respondeu-me com paciência às primeiras indagações, informando-me que o meu corpo habitual repousava na sucata de engenhos estragados, e que meu corpo novo era o verdadeiro, aquele que modelou a minha forma que o acidente consumira.

12 Chorei ao pensar que me via à distância dos pais queridos e dos queridos irmãos Claudinei e Luciene, distante de nossa Rose, a quem havia prometido a felicidade. Meu avô confortou-me esclarecendo que eu poderia auxiliá-los de outro modo e que nem tudo se perdera.

13 Logo após o meu despertamento, a vovó Ana Gimenez veio ter conosco e assumiu as obrigações de enfermeira maternal, em que a vejo até agora.

14 Mãe querida e querido pai, aqui não me falta medida alguma referente às minhas necessidades, pois os meus avós adivinham meus pensamentos.

15 Tenho ido à nossa casa, onde procuro transmitir à mãezinha Orlândia a força necessária para aceitar os fatos tais quais são e espero que a mãezinha e os irmãos me auxiliem a ser corajoso e forte, superando quaisquer impulsos de lamentação ou agressividade que ainda me afloram a cabeça. 16 Noto que melhoro à medida em que procuro aderir às ideias de paciência e serenidade que o vovô Manoel me ensina a cultivar.

17 Mãezinha, as saudades são muitas, no entanto, serão elas contornadas por nós, a fim de que as vençamos, de modo definitivo.

18 Agradeço todos os seus pensamentos e preces, em favor de seu filho acidentado e creia que tudo isso me faz imenso bem, porque as suas orações emanam e passam por mim ao modo de bálsamos que me consolam e fortalecem.

19 Peço-lhes não desprezarem a moto que se me fez o veículo da viagem final. A pobre máquina fez o que pôde para conservar-me na direção, qual se fosse dotada de inteligência, mas não conseguiu sustentar-me no lugar certo.

20 Muitas vezes ouvi depreciações em torno de motos preciosas e hábeis, qual se fossem responsáveis pelos maus momentos dos que as montavam; no entanto, a moto é um veículo respeitável tanto quanto os outros.

21 Papai Manoel, perdoe-me se lhe causei alguma decepção, pedido esse que estendo à mãezinha Orlândia, porquanto, se dependesse de mim, aí estaria, para juntamente de nossa querida Rose, oferecer-lhes netos inteligentes e lindos, mas os Desígnios da Providência Divina eram outros, diferentes dos meus ideais de rapaz nascido para a família e espero que a conformação esteja conosco.

22 Queridos pais, abraço ao nosso Claudinei, presente, e a nossa Luciene, a nossa Rose e a todos os nossos amigos do coração e, desejando-lhes a paz da Bênção de Deus, com muito afeto e reconhecimento, sou o filho agradecido que não os esquece, cada vez mais afetuosamente,


Carlos Alberto

Carlos Alberto Gonçalez.


Notas e Identificações

1 - Carta psicografada em Uberaba, Minas, a 17/8/1985.

2 - Papai Manoel e mãezinha Lândia — Casal Manoel Trajano Guilhen Gonçalez e Maria Orlândia Gonçalez, residente à Rua Hiroshima, 95 — Jardim Japão, São Paulo, SP.

3 - Claudinei — Claudinei Gonçalez, irmão, presente à reunião pública do GEP.

4 - Muito aos poucos, senti-me no corpo (…) Notei que os meus olhos se retomavam nas órbitas e que, em minha boca, a língua ensaiava movimentos que me demorei a coordenar. (…) meu corpo novo era o verdadeiro, aquele que modelou a minha forma que o acidente consumira. — Refere-se ao corpo espiritual (ou perispírito) e seus órgãos, que correspondem aos do corpo físico.

5 - Vovô Manoel — Manoel Troyano Cabrera, avô paterno, desencarnado em 26/8/1984.

6 - Luciene — Luciene Gonçalez, irmã.

7 - Rose — Namorada.

8 - Vovó Ana Gimenez — Ana Cabrera Gimenez, desencarnada em 1944.

9 - Carlos Alberto Gonçalez — “Nasceu a 29/01/1965. Desde criança era um garoto tranquilo, obediente e estudioso. Cursou até o 2º Colegial. Tinha muitos amigos e era querido pela vizinhança. Trabalhava na Agência 199 do Bradesco, em Vila Maria.” (Carta de seu pai, datada de 07/12/1987.)


Hércio Marcos C. Arantes


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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