Ninguém poderia imaginar que a jovem Laurinete Aparecida Duarte, com seus exuberantes vinte anos, não resistisse a uma pequena cirurgia plástica. E o inesperado aconteceu, para espanto e desespero de sua família.
Ela havia sofrido, um ano antes, um acidente, deixando-lhe pequena marca na face; a solicitar uma intervenção restauradora.
Após permanecer quatro dias em coma, Laurinete desencarnou, na própria cidade onde residia, Curitiba, Capital paranaense, aos 24 de março de 1986.
Seus pais, Morethezon Alves Duarte e Delair Duarte, inconsoláveis, se deslocaram várias vezes, de Curitiba a Uberaba, em busca de conforto e paz. Na quinta viagem, em 24 de outubro de 1987, receberam afetuosa e elucidativa carta da saudosa filha, caracterizando uma “dádiva de Deus”, na afirmativa da progenitora.
Ela ainda nos disse “as palavras de nossa filha foram um bálsamo para nosso sofrido coração, transformando a revolta em aceitação dos desígnios da Vida Maior.”
Na mensagem, Laurinete, revelando-se consciente e bem orientada na atual situação espiritual, idealiza uma próxima reencarnação, afirmando que “para dar continuidade à minha evolução, espero voltar para a Terra.”
1 Querida mãezinha Delair e querido papai Morethezon, peço a Jesus abençoar-nos.
2 Este é um comunicado rápido para notícias. Já sofri bastante para entender a Nova Vida.
3 Na passagem, notei, através de uma cortina de névoas, o sorriso de uma senhora que me pedia esperança e coragem. Notei-me dividida entre o desejo de ficar ou de ir ao encontro da senhora que me esperava, sem que eu pudesse retransmitir qualquer coisa dos casos tristes que eu via.
4 Mamãe compreenderá o que se passava comigo. Sentia-me um tanto arrependida de haver provocado a intervenção no rosto, mas o amor por minha querida mamãe era sempre maior.
5 Uma força, que eu não sei deduzir em palavras, me atraía para a senhora que me dizia ser a minha bisavó Júlia, e eu não resisti. O corpo não me oferecia condições para não aceitar a mudança. 6 Cedendo ao carinho de nossa Júlia, busquei interessar-me por ar e meu peito estufou-se; num relance, acompanhei os passos dela, que me sustentava, e em minhas lágrimas dei vazão à minha dor no mesmo instante.
7 Mãe, a princípio sofri muito, mas com o encaminhar dos primeiros dias fui sendo beneficiada pelas muitas preces da vovó Júlia. Acalmou-se o coração estraçalhado de dor com a nossa separação. A querida benfeitora Júlia me dizia palavras de encorajamento, aconselhando-me calma e coragem, em nosso beneficio. Aprendi a calar-me e isso produziu algum resultado.
8 Venho pedir-lhe conformação e esperança, e sobretudo rogar ao papai e a meu irmão para que nada reclamem, pois tudo passa, como já está passando o meu sofrido caso.
Por esta razão é que teremos de aprender.
9 Estou me esforçando para voltar à existência física. Para dar continuidade à minha evolução, espero voltar para a Terra. Tenho pedido a Deus paciência e serenidade para então marcharmos a uma escola de refazimento. 10 Meu Deus, auxiliai-nos a dar amor, é isto que vos peço, é assim que aprendi, certa de que voltarei.
11 Passo a reduzir minhas impressões para não cansá-los, mas peço-lhe mãezinha, com todo o meu coração, não se desesperar com lágrimas que nos lavam os corações, pois preciso da sua coragem e da sua bondade, alma corajosa e boa, abreviando-me o tempo aqui, embora tudo transpire beleza e vovó Júlia represente a querida família.
12 Mãe, não chore com desespero no coração. Jesus não nos abandona e espero para breve continuar a ser a sua companheira.
13 Meu abraço ao Jeco e aos nossos amigos. E você, querida mãe Dela, ao fim de minhas provas passageiras estaremos de volta para nosso convívio feliz.
14 Meu respeito ao papai Morethezon e para você, querida mãezinha, tão doce no lar que é o nosso lar, muito carinho e saudades da filha que traz o coração unido ao seu. Como sempre serei e sou a sua Lauri, para prosperarmos no encalço do aperfeiçoamento espiritual que nos convidará a servir muito.
15 Não posso escrever mais. Para você, mãezinha, as saudades no ramalhete de flores que hoje lhe envio, com todo carinho e as muitas saudades do coração da sua Lauri.
Muitos beijos da filha reconhecida,
Laurinete da Silva Duarte
Notas e Identificações
1 - Sem que eu pudesse retransmitir qualquer coisa dos casos tristes que eu via. — Refere-se ao período de quatro dias que esteve hospitalizada e inconsciente (em coma). Sua visão era espiritual, em desdobramento, sem condições físicas de transmitir essas impressões.
2 - Bisavó Júlia — Desencarnada em 04/3/1959. Laurinete desconhecia seu nome, pois sempre, em família, chamavam-na de Nona.
3 - Espero para breve continuar a ser a sua companheira. — A idealizada reencarnação de Laurinete permitirá que ela volte ao seio da família que deixou na Terra.
4 - Jeco — Apelido que ela usava para com seu ir mão Jefferson Duarte.
5 - Sua Lauri — Forma com que ela assinava seus bilhetes e cartas familiares.
6 - No encalço do aperfeiçoamento espiritual que nos convidará a servir muito. — Declaração de Dª Delair: “A partida de Lauri transformou minha vida, fazendo-me despertar para a vida espiritual. E, consequentemente, trabalho para os menos favorecidos em sua homenagem.”
Hércio Marcos C. Arantes