O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 4

Ricardo Tuñas Costa Leite


JOVEM ATUANTE EM NÚCLEO ASSISTENCIAL DA CROSTA TERRESTRE

Ricardo “pensava em Maria Fernanda e na própria máquina”, quando acidentou-se gravemente, de moto, na antevéspera do Natal de 1981, ao dirigir-se para a Praia do Itaipú, Niterói, vindo a desencarnar, dias depois, no Rio de Janeiro, RJ, no último dia do ano, aos 17 anos de idade.

Sabemos o que ele pensava naquela ocasião, graças à Primeira Carta de sua autoria, psicografada em Uberaba, a 15 de outubro de 1983. De fato, segundo seus pais, estava firme com a namorada e era um motoqueiro entusiasta.

Mas, o jovem era também responsável, não tinha vícios e dedicava-se com afinco aos estudos, preparando-se para o vestibular de engenharia.

E essa responsabilidade — estrela de um caráter — brilha igualmente em sua atuação na Vida Maior, conforme observamos nas cartas já recebidas, que nos revelam ativa participação junto aos sofredores da Terra, especialmente ligado ao Núcleo Assistencial Escola “Irthes Therezinha”, de Niterói, RJ, lado a lado com seus pais, fazendo-se intérprete, na Quarta Carta, de orientações preciosas aos colaboradores encarnados.




PRIMEIRA CARTA


1 Querida mãezinha Carmen, penso com o seu querido coração na bênção de Jesus, rogando a Ele nos proteja sempre.

2 Estou um tanto constrangido, diante de tanta gente boa, naturalmente a esperar de seu filho alguma notícia, que sirva de reconforto e paz em auxílio de todos.

3 Sou ainda um servidor tão pequeno das ideias que estou abraçando, com a sua fé em Deus, que me acanho ao escrever-lhe esta carta que é dirigida igualmente ao papai Ronaldo e à nossa Gisele.

4 Certamente, aqueles que nos acompanham saberão desculpar-me a inexperiência, compreendendo que sou um filho com muitas saudades da mãezinha e do lar de que presentemente me vejo separado. Um filho, mamãe, é sempre uma criança para todas as mães e para todos os pais do mundo, e isso me anima a continuar.

5 Desde aquele Natal que lhes dei repleto de lágrimas e desde o Ano Novo, em que choramos tanto, tenho desejado endereçar-lhes as minhas notícias, mas penso que ainda não me achava preparado para fazer isso.

6 A moto resvalou de tal maneira, que por mais desejasse controlá-la isso não se me fez possível. Pensava em Maria Fernanda e na própria máquina, dividindo minha atenção, quando notei que não conseguiria retomar o próprio equilíbrio.

7 Como foi a minha queda, não sei contar. Lembro-me apenas de que experimentei uma ausência esquisita de mim mesmo. Coordenar os pensamentos, não era fácil. Por isso me entreguei aos cuidados de quantos me dedicavam atenção…

8 Vi-me no hospital, com relâmpagos de lucidez… Creio que não tive dores, porque a minha preocupação de saber o que se passava em casa era grande demais, para que fosse incomodado por qualquer espécie de sofrimento físico. 9 Escutava, de quando em quando, palavras sussurradas junto de mim. Enfermagem atenta me observava as alterações do corpo; no entanto, estava na condição de uma pessoa que perdera a faculdade de se governar e expressar a própria vontade.

10 As transformações do corpo se ampliaram até que ouvi alguém dizer que estávamos às vésperas do Ano Novo! No íntimo, rezei pedindo a Deus para voltar para casa e comemorar a passagem do Ano junto à família. Queria estar perto dos meus pais, da Gisèlle, da Maria Fernanda e de todos os nossos amigos, respirar livremente, caminhar nas praias e rever os céus…

11 Mas o dia passava, até que uma névoa se condensou junto de mim. Que seria? 12 Ignorava o que fosse e não sabia de que modo se formava aquela nuvem esbranquiçada e crescente…

13 Num dado momento, um rosto surgiu daquele monte de neblina. Era o rosto de uma senhora a sorrir-me. 14 Sem conseguir articular qualquer palavra, em pensamento, roguei a ela me dissesse quem era… 15 Mais alguns instantes, e ela me falou, com serenidade e alegria: — Ricardo, sou a sua avó Dinda! venho buscar você para o nosso lar!…

16 Confundi-me refletindo, até que me lembrei da vovó de que me falavam em nossas recordações caseiras. Então, comecei a chorar, sem lágrimas, porque naquela voz e naquele rosto percebia que se mostrava claramente a minha mudança para outra vida. Eu não queria isso. Queria retornar à nossa paz e nossa alegria no recanto sempre nosso…

17 Aquela criatura santa não demonstrou qualquer contrariedade porque eu não lhe quisesse a companhia e, com o mesmo sorriso, continuou a falar-me com carinho: — Ricardo, você é forte e tranquilo… Por que chorar se todos estamos juntos? Estou aqui com o seu tio Renato e, com a bênção de Jesus, desejamos vê-lo confiante… Quem disse a você que existe separação? Deus nunca se afasta de nós e, em Deus, estamos reunidos… Venha aos meus braços. Hoje, eu também sou sua mãe!…

18 Diante daquela ternura toda, esforcei-me por levantar o meu corpo e consegui. Entretanto, ao me sentir junto da vovó, abraçado a ela, notei que eu era o mesmo e o meu corpo me parecia uma escultura de mim próprio, bastante estragada.

19 A vó Dinda me carregou, qual se eu fosse um filhinho doente, e dormi sem perceber que as minhas pálpebras se fechavam…

20 Quando despertei, o diálogo prosseguiu com a minha participação. Era, sim, era a minha avó Maria José que me seguia na grande transformação.

21 Desde essa certeza, procuro reerguer os meus sentimentos de fé. Pude voltar à nossa casa e vi as suas lágrimas semelhantes às que eu havia chorado… Entrei no ambiente de tristeza em que se falava tanto da morte, quando me achava com tanta vida!

22 Desde esse dia, que não sei se pertence a janeiro ou fevereiro, pois estive num torpor de muitos dias, tenho o desejo de lhes enviar notícias.

23 Querida mãezinha Carmen, peço-lhe para que não chore mais com tanta dor, e rogo a mesma atitude a papai.

24 Agradeço as preces e flores que o seu carinho me ofertou no aniversário recente, e fiquei muito sensibilizado com a sua decisão de conduzir a nossa festa para o ambiente de nossos irmãos, que atravessam dificuldades maiores que as nossas. Foi uma hora de imensa consolação para mim. Não sabia que Niterói possuía um recanto assim, iluminado de orações e alegrias, com tantas crianças e tantas mães esperando por nós.

25 Agradeço por tudo que recebi para meu reconforto. Ainda estou convalescente, mas já sei que a fortaleza me retomará o íntimo, porque está nascendo, em meu coração, o ideal de ser bom e de seguir os meus pais queridos na vida nova, que estamos aceitando com fé em Deus.

26 Peço-lhe, mãezinha Carmen, dizer à Fernanda que estou bem e que, ante a bondade dela, me sinto desculpado pela inexperiência no manejo da moto. Meu desejo é muito grande de ver o papai, a Gisèlle, a Fernanda e todos os nossos felizes e alegres.

27 A morte é um sono maior do que os outros, do qual a gente acorda para viver na continuação da existência.

28 Sei que estão em nossa companhia as nossas amigas Dona Terezinha e Dona Creuza. A vovó Maria José me diz que elas aguardam notícias dos filhos Kalil e Marco Aurélio, e que eles, mais tarde, hão de conseguir escrever.

29 Pode crer, mamãe, que a gente precisa ser forte para escrever sem chorar. Estou aqui imaginando a minha viagem, desde a antevéspera do Natal. Caí da moto, com estação no hospital, do hospital seguir para a vida nova, e da vida nova ir a Niterói, e vir até aqui para encontrar-nos. Estou agradecido a Jesus por toda essa alegria que estou recebendo…

30 Mas não posso prosseguir. Diz a vovó que não devo abusar do tempo e vou terminar enviando ao papai Ronaldo e à querida irmã, extensivamente à Fernanda, e a todos os nossos amigos, muitas lembranças.

31 Mamãe Carmen, não guarde objetos que foram meus e que podem ser úteis a outros companheiros… Ficarei contente com a sua promessa de nos desfazermos de todos os meus pertences, com exceção dos nossos retratos, pois quando os seus olhos me procuram na imagem parece-me que estou usufruindo um novo encontro com a querida família.

32 Perdoe a seu filho se escrevi longamente. A saudade não tem passos curtos, não é mamãe? E todos aqui me per,doarão se sofremos tão longa ausência um do outro.

33 Com todo o meu respeitoso amor ao papai Ronaldo e à Gisèlle, peço ao seu coração querido aceitar os muitos beijos de saudade e alegria, renovação e esperança do filho sempre seu,


Ricardo

Ricardo Tuñas Costa Leite.


Notas e Identificações

1 - Mãezinha Carmen e papai Ronaldo — Seus pais, Ronaldo Magalhães Costa Leite e Carmen Tunas Costa Leite, residentes à Rua Presidente Backer, 34/1502, Niterói, RJ.

2 - Gisèlle — Gisèlle Tunas Costa Leite, irmã.

3 - Maria Fernanda — Namorada.

4 - Enfermeira atenta me observava as alterações do corpo; (…) meu corpo me parecia uma escultura de mim próprio, bastante estragada. — Trata-se do corpo espiritual ou perispírito, que após a desencarnação, apresenta lesões nos órgãos ou regiões correspondentes aos mesmos locais traumatizados do corpo físico, exigindo tratamento médico, inclusive cirúrgico. (Ver Vozes da Outra Margem, cap. 8; e Caravana de Amor, cap. 2 e 4, ambos de F. C. Xavier, Espíritos Diversos, IDE.)

5 - Avó Dinda (Maria José) — Maria José Leite, carinhosamente chamada de Dinda, bisavó paterna, desencarnada a 12/02/1974, em Pelotas, RS.

6 - Tio Renato — Renato Costa Leite, tio, desencarnado a 23/5/1973 em Porto Alegre, RS.

7 - No aniversário recente (…) não sabia que Niterói possuía um recanto assim (…) com tantas crianças e tantas mães esperando por nós. — O seu aniversário, duas semanas antes do recebimento desta Carta, foi comemorado no Núcleo Assistencial Escola “Irthes Terezinha”, instalado na Fazendinha, um bairro carente de Niterói. “É um trabalho espírita, com evangelização para adultos e crianças, assistência médica, distribuição de gêneros alimentícios, material escolar e enxovais para recém-nascidos, além do reforço escolar para as crianças carentes. Também são confeccionados uniformes escolares e bonecas, estas distribuídas por ocasião do Natal. Foi fundado em 27/4/1980, por inspiração do nosso querido Chico Xavier, e congrega hoje uma equipe composta de 90 colaboradores que dão atendimento a 100 famílias e 400 crianças. Faz parte da tarefa, o ensino de trabalhos manuais às mães assistidas, sendo que a renda obtida com a venda, em bazares beneficentes, do material elaborado por elas, é revertida às próprias mães. O Núcleo Escola está subordinado ao Grupo Espírita da Fé, que funciona à Rua Dr. Sardinha, 149, Santa Rosa, Niterói. ”

8 - Dona Terezinha — Therezinha Barbosa Chicayban, mãe de Kalil, presente à reunião pública do GEP, em Uberaba.

9 - Dona Creuza — Creuza Bronízio, mãe de Marco Aurélio, também presente à reunião.

10 - Kalil — Kalil José Barbosa Chicayban, jovem desencarnado em Niterói, a 06/3/1981. Já enviou mensagem pelo médium Chico Xavier.

11 - Marco Aurélio — Marco Aurélio Fonseca Bronízio, jovem desencarnado no Rio de Janeiro, a 27/01/1980.




SEGUNDA CARTA


1 Querida mãezinha Carmen e querido papai Ronaldo, vê-los juntos, com a nossa Gisèlle, compartilhando de nossas orações, é um acontecimento de alta significação para mim.

2 Mãezinha Carmen, pedi aos meus mentores para que me concedessem permissão para vir até aqui, experimentando os eflúvios de sua alegria, conseguindo de meu pai e da Gisèlle, a certeza de que estaríamos aqui reunidos nesta noite, reafirmando os nossos recursos de trabalho e as nossas esperanças para o futuro.

3 Acompanho-a em suas tarefas de assistência e peço ao Divino Mestre, enriquecê-la de força para seguir adiante, distribuindo o bem aos semelhantes. Creia que tenho aprendido com o seu esforço produtivo, alentando a coragem em tantas mãezinhas desvalidas que perderam tudo, ao se distanciarem de criaturas amadas que as antecederam na viagem de liberação da vida física e os seus exemplos não permaneceram confinados ao ambiente de nossas tarefas, no grupo de corações queridos que se responsabilizam pelas boas obras. As suas demonstrações de compreensão e bondade alcançaram igualmente o papai Ronaldo e a nossa Gisèlle, que se transformaram em cooperadores, estimulando-lhe os ideais de servir.

4 Minha alegria é muito grande em ser defrontado pelo papai, erguido à fé na Vida Superior. 5 Hoje, creio que a morte imprevista, do corpo terrestre, se reveste de um significado quando serve para acordar os entes queridos para a vida real, porque somente pela saudade, consegue um homem de nosso tempo particularizar um pedaço de tempo para o cultivo das ideias que a nossa Doutrina Consoladora nos suscita, ensinando-nos a seguir com serenidade e calma as tempestades destas lentas horas difíceis de transformação, nas quais tantos trabalhadores do bem desanimam quanto à continuidade do trabalho que a vida lhes confia.

6 Abraço, efusivamente, ao papai Ronaldo pelo carinho com que a seguiu de Niterói até aqui, de modo a vê-la feliz e compensada dos esforços intensivos, que tem despendido nos encargos que a assistência lhe tem exigido.

7 Por isso, sou grato a ele e à querida irmãzinha pela ternura sincera com que se dispuseram a vir até aqui, prestigiando a mãezinha Carmen, no local onde nos encontramos tantas vezes.

8 Estimaria saber empregar as mais belas expressões para enumerar-lhes o agradecimento que me vai na alma; entretanto, à falta de recursos verbais de que ainda não disponho, valho-me da oração, da oração que reaprendi com os nossos aqui na Vida Maior, endereçando a Jesus o meu reconhecimento aos seus carinhos de pai, através das preces com que rogo ao Senhor da Vida lhe ilumine os caminhos e lhe guie todos os passos.

9 Infelizmente, papai, não consegui ficar aí para ser seu companheiro constante, conforme os nossos projetos de felicidade, mas não estarei ausente da sua preciosa vida e das suas realizações de homem de bem. Estaremos juntos, porque logo se me faça possível ajustar horários e acentuar experiências, estarei consigo, nas mesmas estradas em que o seu coração generoso se distingue pela retidão e pela bondade. (…)

10 Muito amor e respeito do filho sempre grato, que lhes deixa o próprio coração,


Ricardo

Ricardo Tuñas Costa Leite.


Nota

12 - Carta psicografada a 19/4/1986, igualmente em reunião,pública do GEP, em Uberaba, dois anos e seis meses após a Primeira.




TERCEIRA CARTA


1 Querida mãezinha Carmen, situando mentalmente o papai Ronaldo, junto de nós, reúno os dois num só abraço, pedindo a Deus nos abençoe. (…)

2 Mãezinha, o tempo avança e, quanto mais procuro compreender a significação do tempo, mais me convenço de que o trabalho no bem é a nossa felicidade real. Compreendo a palavra doutrinária, esclarecendo que a felicidade é muito difícil de ser alcançada na Terra… Entretanto, isso ocorre porque a maioria de nós outros, as criaturas humanas, ainda não encontramos o prazer de servir.

3 Lembro-me de nossas atividades na Fazendinha, e tanta alegria nos possui os corações, que acredito, seja o nosso reduto de serviço espiritual, um posto de felicidade para quantos desejarem a aquisição da verdadeira alegria.

4 O nosso prezado Kalil se referiu a isso e desejo contar-lhe, extensivamente a meu pai, que partilho das atividades da turma de avaliação. Avaliação dos pedidos que são endereçados à nossa instituição. Registrado o nome da pessoa que solicitou proteção, somos três companheiros convocados à visitação do ambiente do irmão ou da irmã que rogou auxílio, a fim de apresentarmos relatório à Direção Superior. A nossa responsabilidade é muito compreensível no assunto, porque não nos é possível subestimar e nem exagerar as necessidades nos quadros que encontramos.

5 Considero admirável o mecanismo em que se baseia o Mundo Espiritual, a fim de assumir compromissos, porque isso nos prova que todos os setores da vida, merecem apoio e consideração. 6 Quando o concurso pode ser prestado por nós mesmos, não há que esperar por recomendações de natureza superior, de vez que somos treinados a solucionar os problemas considerados menores, ao preço de nosso próprio esforço. 7 Quando a paisagem de serviço transcende às nossas possibilidades de ação, articulamos o relato do necessário a que se processe o socorro, e creia que muito grande é a nossa felicidade com o ensejo de sermos úteis. 8 Ultimamente, tenho podido agir com mais alegria, notando a querida família em paz, com a fé em Deus norteando-nos os impulsos.

9 A sua confiança de mãe e a confiança do meu pai Ronaldo me inspiram novas energias, e graças a Deus, tenho tido mais coragem para encarregar-me das pequenas tarefas que são confiadas à minha inexperiência. 10 Fale disso à Gisèlle para que ela peça auxílio aos Mensageiros do Bem em meu benefício, para que eu me desenvolva na capacidade de iniciativa, na paciência e no amor ao próximo. 11 Mãezinha Carmen, estou satisfeito e agradecido por suas adesões aos nossos esquemas de trabalho. Continuemos.

12 Observo que qualquer de nós quando pode contar com a companhia de alguém nas boas obras ou no estudo das leis da vida, a nossa força de realização se alteia em valores, cada vez mais precisos à nossa felicidade porvindoura.

13 Tenho estado desse modo tão feliz quanto possível, e espero continuar nessa devoção ao apoio do próximo. Agradeço-lhes, ao seu coração generoso e ao meu pai Ronaldo, quanto me auxiliam, recordando-me em serviço regular.

14 Com isso me adapto à Espiritualidade, procurando realmente servir, porque poder servir, em nosso campo de trabalho, significa muito para o cooperador, por mais humilde se lhe faça a posição. 15 E quanto mais humilde é o companheiro de ideal e de luta para a vitória do bem, mais obstáculos se lhe antepõem à frente, porque sem humildade e paciência o trabalhador do Plano Espiritual não consegue atender aos nobres deveres para os quais foi chamado.

16 Eu que lhe escrevi nas primeiras horas, relacionando-lhe as minhas dificuldades e hesitações, devo dizer-lhe hoje que tudo segue bem para seu filho, porque não estou sem esperança, e com a Bênção de Deus tenho podido obter êxito de que necessito na obra assistencial. 17 Os nossos mentores nos administram lições valiosas e não podemos reclamar se eles nos traçam serviços que não fazem, porque todos eles já passaram pelas atividades e tarefas em que nos achamos, conseguindo a ascensão que lhes confere o direito de orientar-nos.

18 Agradeço ainda sua bondade, a bondade de meu pai, ao carinho de Gisèlle e da Maria Fernanda, que me libertaram de muitos prejuízos que encarceram no mundo companheiros dos mais estimáveis.

19 Aqui ninguém chega a entender atitudes compulsórias. O Espírito desenfaixado dos liames da vida física, adere se quiser ao esquema de ação que se lhe faz apresentar, e, por isso, encontrar o estímulo dos corações que nos amparam e confiam em nós é receber uma alavanca que em nós, servindo por ponto de apoio, nos dá energias renovadas para realizar o que nos compete efetuar na produção de conforto e felicidade para os outros, que redundam em felicidade e conforto para nós. 20 Falo nisso para demonstrar reconhecimento e para afirmar aos amigos da existência terrestre que o nosso adestramento espontâneo, na escola da felicidade para o próximo, pode começar aí mesmo, se a pessoa acorda para a sustentação da beneficência e da paz com vistas aos caminhos dos nossos irmãos.

21 A Fazendinha para nós é uma escola de ação, e somos felizes por nos sentirmos ali matriculados para fazer o bem.

22 Mãezinha Carmen, peço-lhe dizer à vovó Diva que ela não está esquecida, que a visito sempre que possível, e que se ainda não lhe enviei um recado, como faço agora, é sempre pela pressão dos serviços aqui, nesta casa de paz e amor, na qual somos impelidos a considerar a prioridade na despesa do tempo, para os amigos em dificuldades maiores do que as nossas. (…)

23 O seu filho e companheiro do coração,

Ricardo

Ricardo Tuñas Costa Leite.


Nota e Identificação

13 - Psicografada em 30/8/1986.

14 - Vovó Diva — Diva Magalhães Costa Leite, avó paterna.




QUARTA CARTA


1 Querida mãezinha Carmen e querido papai Ronaldo, muito grato por virem, a fim de orarmos todos juntos. (…)

2 Pais amigos, continuo trabalhando com alegria e sinto que estou um tanto mais disciplinado para tratar com os meus deveres na vida.

3 Mãezinha Carmen, tudo prossegue regularmente na Fazendinha, mas algo ocorre que nos obriga a pedir cooperação de nossa casa para que se efetuem as medidas necessárias. 4 Servindo no setor de avaliação, através de estatísticas baseadas nos pedidos de auxílio e proteção, e mostrando à nossa mentora Irthes Therezinha os resultados de nossos atendimentos, chegamos à conclusão de que é preciso se nos conjuguem as forças para que tenhamos cada quinzena, durante 2 a 3 meses, uma palestra, mesmo simples e descontraída, na Escola, sobre higiene e moléstias contagiosas, no sentido de se evitar o crescimento de casos amargos, em que somos solicitados por tantas mães e tantos pais abnegados, que se afligem pelos filhos doentes e presos no leito; e casos de extrema gravidade, por falta de segregação do doente em recintos que se lhe faça conveniente ao tratamento.

5 Não preciso assinalar o ponto central de nossas inquietações por tantos jovens e adultos enfermos, com dificuldades para obterem assistência. Falamos das deficiências nesse terreno, mas sem qualquer crítica à situação desses irmãos doentes.

6 Cremos que qualquer providência que nos venha amparar, no auxílio aos enfermos, poderá despertar outras instituições em nosso favor, porquanto se uma doença existe presentemente, assume real importância na vida comunitária. Creio que os nossos irmãos carecem da proteção a que nos referimos.

7 A Fazendinha, do ponto de vista de espaço, não oferece oportunidade para largos empreendimentos, mas começada uma tarefa digna, outros corações, por certo, apoiarão o trabalho.

8 Este é o nosso programa de serviço que nos cabe desempenhar, com paciência e amor, para a realização precisa.

9 Perdoem as minhas palavras que visam somente o bem, e desejando-lhes o melhor nas bênçãos de Deus, com lembranças à querida Gisèlle, o filho do coração que não os esquece,


Ricardo Tuñas da Costa Leite


Nota

15 - Nossa mentora Irthes Therezinha — Irthes Therezinha Lisboa de Andrade, nascida e desencarnada em Ubá, MG, respectivamente, em 27/8/1921 e 15/7/1977, foi espírita atuante, inclusive no campo mediúnico, recebendo instrutivas páginas do Além. Diplomou-se professora primária. Três meses após o desenlace, enviou a sua primeira mensagem, pelo lápis mediúnico de Chico Xavier, endereçada aos seus amigos, integrantes da União da Mocidade Espírita de Niterói, publicada no Anuário Espírita 1984, pp. 75/80. Em 1983, a Casa Espírita Cristã (Edições CORDIS), de Vila Velha, ES, lançou o belo livro Irthes & Irthes, de autoria mediúnica de Júlio Cezar Grandi Ribeiro, com mensagens do Espírito de Irthes, bem como outras, anteriormente psicografadas por ela mesma, mas agora enviadas pela Irthes após revisão dos próprios autores espirituais. Irthes, Espírito, é também co-autora da obra Cura, de Francisco C. Xavier, Autores Diversos, GEEM, 1988.


Hércio Marcos C. Arantes


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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